O Amor no ônibus

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Como de costume estou sentando na na última fileira do lado direito do ônibus, sou sempre um dos primeiros a entrar, o ônibus nunca fica cheio e gosto disso. Me dá espaço pra poder vê-lá. Hoje é meu último dia de aula, estou me formando. Último dia que verei ela. Suspiro.

Ela sempre senta na penúltima cadeira, aquelas de duas com a amiga, do lado do corredor. Assim eu posso sempre admirar sua beleza, que sempre faço desde o começo do ano. Na verdade eu a percebi a primeira vez no final do ano passado,quando esbarramos na entrada do ônibus. "Desculpe", "não foi nada". Foram as únicas palavras que pronunciamos um para o outro.

Ela é da minha escola mas nunca soube qual sua sala ou seu nome. Nunca me dei o trabalho de procurar tais informações, o simples fato de todos os dias saber que ela esta ali sempre no mesmo lugar me deixa feliz. Uma felicidade que dura 15 minutos, que é a viagem da escola pra minha casa.

As vezes nossos olhares se encontravam mas é coisa rápida e acabamos desviando. As vezes trocavamos sorrisos. Nada mais. Nenhuma palavra, mas só isso era suficiente pra mim. Gestos falam mais que palavram. Eu sempre entro antes dela. Me lembro quando sua amiga não estava no ônibus ela parou por um segundo se perguntando se sentava na minha fileira ou iria pra a sua de costume. Eu suei frio, oque eu iria dizer? Qual assunto puxar? Na hora fiquei feliz que ela não sentou na minha fileira, mas depois fiquei pensando que perdi a oportunidade de poder conhecer ela de verdade.  Respiração profunda.

Teve outra vez que sua amiga deixou o celular cair bem numa subida e o celular veio parar no meu pé, ela veio até mim desesperada. "Ah meu deus, obrigado", "ela tem mão de alface, liga não". Mão de alface, acabei por pegar a mania de chamar todos que deixam algo cair disso.

Eu sempre espero vê-la no ônibus. Um dia quando ela faltou aula era como se meu dia não estivesse completo. Deitado na cama eu sentia um vazio, um espaço em branco. Era ela, estava tão acostumado em sempre ter ela ali do lado esquerdo do ônibus, na penúltima cadeira. Foi quando percebi que era um amor platônico, um amor de ônibus.

Me levanto, o ponto que eu desço esta perto. Puxo a cordinha, se ouve um barulhinho estridente vindo dos altos falantes. Paro em frente a porta e olho pra ela de rabo de olho. Ela está mexendo no celular e sua amiga está dormindo. Talvez ela nem saiba quem eu sou. Talvez ela tenha contado para as outras amigas que um garoto estranho que vai no mesmo ônibus não para de olhar pra ela e caem na risada. Talvez ela até goste de mim.

O ônibus para. É o fim. Não a verei mais. Eu deveria dizer algo? Mas oque eu diria?. "Olha, eu te acho muito bonita, desculpa por não ter dito antes". Não. Desesperado demais. Deveria pedir seu número? Não, tarde demais pra isso. O motorista buzina. Ela me olha. Eu a olho. "Adeus", digo baixo e rápido. Desço. Fico parado vendo o ônibus dar partida. E ela me olhando parado. É, não era pra ser. Dou de ombros. E atravesso a rua.

Visão da Nilce: Será que ele disse algo e eu não escutei? Estava de fone. Talvez em janeiro eu converse com ele. Sorrio de leve e volto a escutar música.

E nunca mais se virão, não porque ele se formou mas sim porque morreu ao atravessar a rua pensando se deveria ter falado com a garota antes e também porque não olhou para os lados. Sempre olhe para os lados.







Moral: Nunca deixe para amanhã oque você pode fazer hoje. Você pode morrer atropelado.

Sessão Da TardeOnde histórias criam vida. Descubra agora