Único

367 64 57
                                    

  Sabe quando você acha que a sua vida não pode piorar? Isso mesmo, quem sabe como é, me entende.

Vou me apresentar logo, para depois explicar meu caso…

Park Chanyeol, vinte e cinco anos, solteiro, estudante de fisioterapia ー estou no meu último ano, Deus é pai. ー, moro sozinho em um pequeno apartamento no centro de Seoul. Tenho três vizinhos, dois na frente e um ao lado, e este do lado é o meu problema. Digo, não o vizinho em si, Dona Jung é uma senhora muito gentil e simpática.

Às vezes, ela trás um bolinho de cenoura com cobertura de chocolate que, ó! Delícia!

O problema é o seu gatinho.

O nome do bichano é Kyunggie, estranho? Que nada! Ele me foi apresentado como Do Kyungsoo, mais estranho impossível. É a única companhia da Dona Jung, fica com ela pra cima e pra baixo, não importa onde ela esteja, ele também está. É um gatinho preto, peludinho e pequeno, tem dois anos, se não me engano.

Só existe um momento em que Kyunggie não está com ela, e esse momento é quando ela está dormindo. A Dona Jung dorme de tarde, durante umas três horas ー o quê? Ela me conta as coisas, somos amigos!

Vocês devem estar se perguntando: Qual o problema desse cara com o gato?

Não! Eu não odeio gatos, na verdade, os acho fofos!

Mas Kyunggie é diferente! Ele me assusta!

Enquanto sua dona está dormindo, ele fica me observando na janela, SIM! Ele anda pelo para peito e fica na minha janela. Eu admito. Tenho medo de Do Kyungsoo, o gatinho da minha vizinha.

Nossa história de terror começou quando ele me viu pela primeira e, sério, aquele gato sorriu pra mim! Eu não sou louco! Não sou!

A segunda vez foi quando ele apareceu no meu sofá, durante a noite mesmo, e ficou sentadinho olhando a TV, como se entendesse tudo. Eu comentei com a Dona Jung sobre ele ser bastante inteligente, ela riu e concordou, e ainda por cima, disse:

─ Às vezes, ele só falta falar!

Aí foi o meu fim! Gente, meu reto anal trancou! Sim, eu sei é estranho pra vocês, mas é porque vocês ainda não sabem do resto! Então, deixe-me contar…

Uns dias antes da semana do Halloween, sim, o Halloween, coincidência, não?

Enfim, a Dona Jung saiu para ficar na casa da filha que tinha dado a luz a poucos dias, e pediu, toda fofa, para que eu cuidasse de Kyungsoo. Olha a ideia da véa! (Brincadeira, senhora idosa*)

Eu, como um bom cara e vizinho que eu sou, concordei, mais ainda quando ela disse que eu era como um filho para ela, olha que coisa linda! Voltando, ela me deu as rações e tudo mais do gatinho mimado, e o trouxe para o meu apartamento. Quando ela se foi, na véspera de Halloween, tudo mudou.

Eu estava na minha cama, lendo um livro de terror ー gosto desse gênero, e acho super legal lê-los durante o Halloween ー, eu estava bem entretido, até que um barulho na cozinha me chamou a atenção. Me levantei, deixei o livro na cama, e fui até a cozinha, ligando todas as luzes durante meu trajeto.

Olhei todos os cantos da cozinha, e não vi nada, me aproximei do fogão, mas não tinha nada caído. E então…

─ Estou fome, Chanyeol.

Gente, eu orei, rezei, fiz pacto-rápido e outras coisas ー acreditar, eu não acredito, mas na hora do desespero…

Olhei para trás e não vi ninguém, respirei fundo e peguei a frigideira em cima do fogão.

─ Quem está aí? Olha, eu tô armado!

─ Qual a sua intenção com essa frigideira, me pôr medo ou fritar um ovo?

E foi aí que eu vi, aquele gatinho assustador falando!

FA. LAN. DO.

Ele estava falando mesmo, sua boquinha de bigodinho até mexia, e a voz saia!!

Coloquei a frigideira no fogão, contei de zero à três, e meti o pé dali. Sim, eu corri de um gatinho pequeno e, aparentemente, inofensivo. Porém, aquele mandado do capeta me seguiu. Quando eu achei que estava super protegido debaixo das cobertas, Kyungsoo estava lá, me observando, com a típica cara entediada de gatos.

─ AAAAAAAAAAA!!

─ Larga de idiotice, eu quero comer…

Eu ouvi o gato falando, tão surreal. Me sentei na cama, e aproximei minha mão de seus pelos, ele apenas moveu o pescoço recebendo o carinho. Okay, não era difícil, fora que ninguém estava me vendo. E se fosse um sonho, era bom aproveitar essa loucura, não é?

─ Fome… Okay, vou te dar ração…

─ E carinho, também quero carinho e dormir com você na cama!

─ Como diabos você fala?

─ Que tipo de pessoa fala “diabos”? Cachorros me mordam!

Ele riu de mim. E também, o certo não era “macacos”?

Depois de colocar comida pra ele, e deixá-lo acomodado ao meu lado na cama, coloquei filmes de terror, que passavam nos canais especiais da TV. Pessoal, eu me cagava de medo, e Kyungsoo gargalhava.

Existe coisa mais louca/absurda/assustadora do que um gato, preto e falante, RINDO de um filme de TERROR?! Não!!

─ Sério, Kyunggie! Como você pode falar?

─ Sei lá, eu só abro a boca e as palavras saem, assim como você.

Não era tão normal assim, não era! Enfim, ele soltou um bocejo fofo e se aconchegou em mim, depois dormiu.

Durante a madrugada, ele acordou ー eu sei porque eu não dormi. ー e ficou miando daquela forma estranha, junto com o vento de assobiava na janela. Era dia 31, Halloween. Eu me levantei assustado e o fitei.

─ Vá dormir, Chanyeol, não vou deixá-los entrar.

O quê?

─ Olha, você para! Já não basta um gato falar, ele ainda vê fantasmas?

─ Deita, tem um atrás de você!

Arregalei meus olhos e me cobri, deixando só o nariz pra fora. Ele voltou a miar daquele jeito, um vento entrou no quarto de repente, e depois eu dormi, não me lembro.

Durante o dia, foi até tranquilo, ele me fez comprar doces e só. No dia seguinte, Dona Jung voltou e levou Kyunggie de volta.

E por incrível que pareça, ele sussurrou para mim, que cuidaria dos meus sonhos quando eu estivesse com medo. Kyungsoo, o gato preto e estranho da minha vizinha ー que, ainda por cima, fala ー disse que vai me proteger.

Eu tô é doido, e tudo piora, quando, todo Halloween, eu o ouço em minha janela. Ouço Kyunggie miando e meu sono se tornando mais leve.

O gatinho da Dona Jung fala!Onde histórias criam vida. Descubra agora