Capítulo 1: Distúrbio Mental

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Carol estava ofegante. E de um jeito nada sexy.

Suas mãos suavam na medida em que o medo se fazia mais presente em seus poros.

Estava sonhando com aquela situação pela quarta vez consecutiva.

A garota encontra-se no High School de Springwood, entretanto, o local em nada se parecia com o que ela havia frequentado durante toda a tarde nos últimos dois anos. Com certeza, o edifício tinha a aparência que deveria ter há longos trinta anos, além da sujeira visível, havia aquele cheiro.

Uma mistura de sangue, fumaça e lixo tomaram conta das narinas da adolescente.

Quando, finalmente, suas pernas resolveram se mover, foram para o hall de entrada que a levaram. Como em todo sonho, seus movimentos não parecem lhe pertencer. A sonhadora passou a ir em direção ao que lhe assustava como se de alguma forma pudesse vencê-lo.

Ao empurrar a enorme porta frontal, se deparou com um interior ainda mais horripilante. Todavia, como se um ímã a puxasse para dentro, continuou andando. Passou pelo corredor e entrou no que, se bem se lembrava, era o banheiro feminino.

Parando no meio do banheiro, pôde observar que haviam manchas por todos os lados, como se uma criança tivesse jogado tinta vermelha nas paredes e tentado fazer traços com suas próprias mãos. Os espelhos, naquele momento, não se fizeram presentes, como se também se negassem a refletir o que houvera ocorrido por ali.

Carol suspirou. Queria acordar. Sentia a exaustão percorrer por seu corpo.

Virou para o lado, como se recobrasse a consciência. Não houve surpresa ao encontrá-lo apoiado no batente da porta.

As lâminas que se projetavam de sua mão direita, no local onde deveria haver sua mão, chamaram de pronto a atenção da garota. Eram longas, afiadas e faziam um barulho metálico cada vez que ele deslizava uma sobre as outras. Como se gostasse do medo que provocava, o homem percorreu as lâminas pela parede de azulejos encardidos, havendo com que o som ecoasse por todo lado.

Em choque. Carol não conseguiria se mover do lugar nem se as lâminas viessem em direção ao seu pescoço. Nunca sentira tamanho medo.

"Vocês me trouxeram de volta", ele falou, abrindo os braços e soltando uma gargalhada escandalosa, que deixava a mostra todos os seus dentes apodrecidos.

O homem deu um passo a frente, fazendo com que Carol fechasse os olhos com força.

No mesmo momento, o silêncio prevaleceu.

Ao abrir os olhos, Carol encontrava-se em sua casa. Especificamente, no porão, que continha uma caldeira. Ao passo que Carol pôde se colocar de joelhos, para conseguir o apoio que necessitava para levantar, ouviu um estalo. No mesmo milésimo de segundo, tudo começou a queimar. As chamas, em tamanha velocidade, chegavam cada vez mais perto, a rondando. Ofegante, Carol não tinha mais saída. Então...

Com um estrondo as janelas de seu quarto se fecharam, fazendo com que a menina acordasse com um sobressalto.

Olhando no relógio, constatou que ainda eram 04h35min da manhã.

Empurrou a coberta na qual estava enrolada para os seus pés. Embora o frio se fizesse presente no mês de dezembro em Ohio, Carol não sentia frio. Seu corpo estava quente como brasa.

Muito aterrorizada para voltar a dormir, pegou dois tranquilizantes que jaziam sobre a mesa do lado da cama. Um dia antes, quando os fora comprar, a farmacêutica havia jurado que essas pílulas ajudariam na manutenção de um sono tranquilo e revigorante. Agora, Carol a amaldiçoava pelo dinheiro gasto em vão.

Ligando a televisão e indo se deitar novamente, a adolescente sentiu seu tornozelo arder. A ardência era consequência da bolha de sangue que se formara, como uma... queimadura.

Respirando fundo, Carol perpassou por sua mente os acontecimentos da última semana. Havia conquistado seis novos pontos no antebraço, fruto de um corte nada superficial. Seu corpo se transformara em uma fábrica de hematomas. Roxos doloridos percorriam seus braços, pernas e barriga. Mais que isso, havia consumido muitos artigos da internet. Estava convencida que vinha sofrendo de um distúrbio mental, onde seus sonhos se ligavam com fortes crises de sonambulismo. Leu sobre situações em que se sonha com algum parente morto e se acorda chorando. Em uma absurda comparação, pensou que poderia estar ocorrendo uma situação semelhante.

Sonhos lúcidos, ela explicava para si mesma. Na realidade, estava procurando qualquer explicação lógica para o que estava acontecendo. Qualquer coisa que pudesse embasar com alguma explanação científica. Tinha de haver um porquê.

Na televisão, o catálogo de séries da Netflix brilhava. Porém, Nada lhe interessava. Levantou-se, desceu o lance de escadas que dividia sua casa em sala, cozinha, lavanderia e garagem nos andares inferiores e quartos, banheiros e escritórios nos andares superiores.

Vendo suas opções de bebidas, optou, mais uma vez, pelo mágico líquido preto quente, que sempre a salvara quando o assunto era trabalhos atrasados do ensino médio. Ao pensar nisso, soltou uma risada triste, querendo que seus problemas girassem em torno de um trabalho de história não entregue no prazo.

Ao voltar para o quarto, escutou seu celular apitar. Voltando sua atenção ao aparelho, se deparou com uma notificação do instagram.

"Dylan O'Connell curtiu sua foto".

Arqueou as sobrancelhas para o aparelho, desconfiada.

O'Connell era seu ex-namorado e, após um término brutal, consequência do flagrante feito por Carol de Dylan beijando uma das calouras no último semestre, o garoto havia se afastado.

Sua mente pareceu rodar por uns segundos. Estava tonta e sentia seu estômago fraco, culpa do jejum feito durante todo o dia, aliado aos comprimidos recém tomados. Carol deitou na cama, desbloqueando o celular, a fim de bloquear o ex-namorado indesejado, quando uma nova notificação a fez interromper a missão.

Era uma foto, enviada pelo mesmo Dylan, no direct do instagram. Ao abrir, pelos segundos que a foto ficava transmitida no aparelho, pôde ver seus pais. Eles estavam cheios de sangue, com perfurações por toda a pele.

Estavam mortos.

Quando a foto foi fechada pelo aplicativo, Carol deixou o celular cair por seus dedos, não podendo mais manter a respiração em um ritmo controlado.

Olhando para a televisão, já não era o catálogo da netflix que se fazia presente. As cenas alternaram até estabilizarem em algumas pessoas aglomeradas ao redor de um galpão em chamas. O grupo dava risada em sua maioria, embora alguns poucos chorassem e parecessem discordar com o que estava acontecendo no interior da estrutura. Um grito ecoou pelo local.

A angústia que transmitia não poderia ser confundida por ninguém. Quem quer que estivesse lá dentro estava morrendo.

Em um segundo, as imagens passaram a oscilar, até, novamente, se firmarem.

Uma garota olhava enquanto o homem à sua frente esfaqueava uma mulher.

"Pai, o que você...", o maior continuava, sem se importar com a objeção da criança. Após consumar seu intento, se voltou para a menina.

"Sua vez, Katherine", ele falou, sorrindo maliciosamente.

Ao se aproximar da garota, Carol percebeu que ele, na verdade, se aproximava dela. Cobrindo toda a tela da televisão e, em um piscar de olhos, estava com suas lâminas sobre mim.

O susto foi acompanhado de um grito e Carol acordou, fixando o olhar na televisão que veio a ser desligada.

Levando as mãos na cabeça, como quem clama por ajuda, a adolescente se conformou em passar mais uma noite privada de sono. 

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⏰ Última atualização: Jan 09, 2021 ⏰

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