33. but he's cute

1K 111 73
                                    

Play.

Isso soou como algo que ela já dissera um milhão de vezes. Antes, eu provavelmente teria concordado. Mas não era o caso daquela foto. Qualquer pessoa que olhasse para ela decididamente não compartilharia o momento. Não conseguiriam chegar nem perto de imaginar meus pensamentos naquela foto. Nem o de Taylor. Nem os de Shawn. Tudo nela era falso. Naquele exato momento, dentro da secretaria, ao me conscientizar de que ninguém sabia a verdade a respeito da minha vida, meus pensamentos sobre o mundo ficaram abalados. Como se estivesse dirigindo por uma estrada acidentada e perdendo o controle do volante, sendo jogada – só um pouquinho – para fora da pista.

As rodas levantam poeira, mas você consegue puxar o carro de volta. Mesmo assim, não importa que você esteja segurando bem firme no volante, não importa o quanto esteja se esforçando para tentar guiar em linha reta, algo fica empurrando você para o lado. Você já não tem quase mais nenhum controle sobre nada. E, a certa altura, a luta se torna excessiva – cansativa demais – e você considera a possibilidade de largar tudo. Deixar uma tragédia acontecer. Ou seja lá o que for. 

   Pressionando a ponta dos dedos contra a linha do cabelo, os polegares contra as têmporas, eu comprimo a cabeça.

Na foto, tenho certeza que a Taylor esta com um sorriso lindo. Falso, mais lindo.

   Ela não está. Mas você não teria como saber disso.

Veja bem, Taylor pensou que poderia me jogar para lá e para cá sempre que quisesse. Mas eu não deixei isso acontecer. Eu me esforcei para voltar à pista, à tempo de empurra- lá para fora mesmo que só por um instante. Mas e agora?O teste. Para o dia dos namorados. Seria mais uma oportunidade de ser jogada para fora da estrada? Este teste seria, para os caras que encontrassem meu nome em suas listas, o pretexto de que precisavam para me convidar para sair?

E será que eles ficariam superexcitados com essa possibilidade, por causa dos boatos que tinham ouvido? Olhei para a fenda na tampa da caixa de sapato, fina demais para enfiar um dedo. Daria para abrir a caixa retirar meu teste. Seria tão fácil. A srta. Benson perguntaria o motivo e eu poderia fingir que tinha vergonha de preencher um teste amoroso. Ela compreenderia. Ou eu poderia esperar para ver. 

   Se eu fosse esperta, teria sido honesta no meu teste. Teria descrito Camila. Talvez nos tivéssemos conversado. Uma conversa séria, não piadinhas, como no verão passado, no cinema. Mas não fiz isso. Eu não pensava assim. 

Será que a maioria dos alunos, conforme eu esperava, pegaria sua lista e apenas daria boas risadas, sem pensar nada sobre aquilo? Ou será que eles usariam a lista? 

   Se o nome e o telefone de Camila estivessem na minha lista, será que eu teria ligado para ela?Eu me esparramo no banco frio, inclinando a cabeça para trás. Bem pra trás, como se a ponta da minha coluna fosse estourar se continuasse fazendo tal movimento.

Pouquíssima coisa, eu disse a mim mesma, podia dar errado. O teste era uma brincadeira. Ninguém iria usá -lo contra ninguém. Calma, Camila. Você não esta armando nenhuma armadilha para si mesma. Mas se eu estivesse certa – se tivesse levado a serio –, se estivesse disposta a dar a alguém um pretexto para conferir os boatos a meu respeito.Bem. Eu não sei. Talvez eu ignorasse. Talvez ficasse irritada. Ou, talvez, largasse tudo e desistisse. Naquela hora, pela primeira vez, enxerguei a possibilidade de desistir. Até encontrei alguma esperança nisso. 

   Desde a festa de despedida da Becky eu não conseguia parar de pensar na Camila. Na sua aparência. No seu jeito. Como nada disso combinava com o que eu ouvia! Na época eu tinha muito medo de tentar descobrir mais sobre ela. Muito medo de que ela risse se eu a convidasse para sair. Muito medo. 

Então quais eram as opções? Eu poderia sair da secretaria como uma pessoa péssima e levar meu teste comigo. Ou poderia sair como uma pessoa otimista, esperando o melhor. No fim, sai da secretaria com meu teste ainda dentro da caixa, incerta do que eu era. Uma pessimista? Uma otimista?  

Nenhuma das alternativas. Uma idiota.

   Fecho meus olhos e me concentro no ar gelado à minha volta. Quando fui aquele cinema, no verão passado, pedir emprego, fingi surpresa ao ver Camila trabalhando ali. Mas ela foi o único motivo pelo qual fui procurar algo por lá.

― Hoje é o grande dia!-  disse a animadora de torcida. Toda animada, é claro.- Peguem seu queridos namorados na secretaria do grêmio agora mesmo!

   No meu primeiro dia de trabalho me colocaram no balcão de petiscos com a Camila. Ela me mostrou como se injetava manteiga na pipoca. Ela me ensinou que se uma menina de quem eu gostasse entrasse ali e pedisse uma pipoca, eu não deveria colocar manteiga na parte inferior do saco. Assim, no meio do filme, ela voltaria para pedir mais. E, ai,como não teria tanta gente em volta, poderíamos conversar. Mas eu não segui seus conselhos, porque era Camila que eu estava interessada. E a idéia de ela fazer isso com outros caras me deixou com ciúmes. 

Eu ainda não tinha decidido se queria descobrir com quem eu combinava no teste. Com a sorte que eu tenho, seria um colega lenhador. Mas quando eu passei pela secretaria e não vi ninguém na fila, pensei que se dane. Fui até o balcão e comecei a dizer meu nome, mas a animadora que estava no computador me cortou. 

― Obrigada por apoiar as animadoras de torcida, Camila.- ela inclinou a cabeça para lado e sorriu. - Isso soa idiota, não soa? Mesmo assim, sou obrigada a dizer essa frase para todo mundo.

  Foi provavelmente a mesma animadora que entregou os resultado meu teste.

Ela digitou o meu nome no computador, apertou enter e perguntou quantos nomes eu queria. Um ou cinco? Coloquei uma nota de cinco dólares em cima do balcão. Ela apertou o número cinco e a impressora do balcão cuspiu a lista. Ela me contou que colocaram a impressora ao nosso lado paraas animadoras não se sentirem tentadas a espiar nossos pretendentes. Assim, as pessoas não ficariam envergonhadas com os nomes que haviam tirado. Falei que era boa idéia e comecei a dar uma geral na minha lista.

― Então - quis saber a animadora de torcida - Quem você tirou?

   Sem duvida, a mesma animadora que me atendeu.

Ela estava brincando, é claro.

   Não. Não estava. 

Meio brincando. Coloquei a minha lista em cima do balcão para ela ler.

― Nada mau - avaliou - Ah, eu gosto desse aqui.

Concordei que não era uma lista ruim. Mas também nenhuma maravilha. Ela deu de ombros e disse que a minha lista era meio sem graça, sim. Ai me contou um segredinho. Não era um teste dos mais científicos. 

   Exceto para pessoa à procura de um solitário depressivo tipo Holden Caulfield. Para isso, o teste merecia um Prêmio Nobel.

Nós duas concordamos que dois nomes da lista combinavam razoavelmente bem comigo. Outro nome, que me agradou, provocou uma reação totalmente diferente nela.

 ― Não - ela disse. Sua expressão, sua postura perderam toda vivacidade. - Confia em mim não.

   Será que ele está em uma de suas fitas, Camila? Seria ele o tema desta fita? Porque não creio que esta fita seja sobre a animadora de torcida.

 ― Mas ele é bonitinho - eu defendi.

 ― Só por fora - ela falou.

Ela tirou um maço de notas de cinco da registradora, colocou a minha por cima, conferiu o maço inteiro, virando todas para o mesmo lado. Não insisti no assunto, mas deveria. 

Mais duas fitas, e vocês saberão o porquê. O que me faz lembrar que não lhes contei quem é o sujeito principal dessa fita. Felizmente, esse é o momento perfeito para apresentá-lo, pois foi exatamente ai que ele apareceu. 

   Mais uma vez, não sou eu.

suicide girl ; camila&lauren (revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora