55. knot

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(LAUCY É REAL PORRA, gente me perdoa tô chorando, tô sofrendo meu otp é real) 


 — E, aí, você perguntava se ela estava com as fitas?

 — Não. Teriam negado, certo? Por isso, eu segurava uma fita na mão quando eles chegavam perto e falava para entrarem no carro, porque tinha uma música que eu queria que escutassem. Todas as vezes, baseado na reação da pessoa, eu ficava sabendo.

 — E, aí, você punha para tocar uma das fitas dela?

 — Não. Se a pessoa não saísse correndo, eu tinha de fazer alguma coisa, por isso, eu punha uma música para ela escutar. Qualquer música. Eles ficavam sentados aí, onde você está, se perguntando por que diabos eu estava tocando aquela música para eles. Mas, se eu estivesse certo, os olhos da pessoa ficavam apagados, como se ela estivesse a um milhão de quilômetros de distância.

 — Então, por que você? Por que ela entregou as fitas a você?

 — Não sei. A única coisa que consigo imaginar é o fato de eu ter dado o gravador. Ela achou que eu tinha uma participação nesse esquema e desempenharia meu papel nele.

 — Você não está nas fitas, mas, mesmo assim, faz parte delas. 

   Ele encara o pára-brisa e agarra o volante.

 — Preciso ir.

 — Eu não quis dizer nada com isso. De verdade — tento me explicar.

 — Eu sei. Mas é tarde. Meu pai vai começar a imaginar que o carro quebrou em algum lugar. 

— O quê, você não quer que ele fique fuçando de novo embaixo do capô?

   Seguro a maçaneta da porta e me lembro de uma coisa. Pego o telefone.

 — Preciso que você faça um favor. Você poderia dar um alô para minha mãe?

 — Claro. - percorro a lista de nomes, aperto ― chamar e ela atende imediatamente.

  — Laur?

 — Oi, mãe.

 — Lauren Michelle, onde você está? - ela parece magoada.

 — Eu disse que talvez ficasse fora até tarde.

 — Eu sei. Você falou. Estava só esperando que você telefonasse.

 — Sinto muito. Vou precisar ficar mais um pouco. Talvez precise passar a noite na casa do Brad. - e sem perder a deixa:

— Olá, sra. Jauregui. - ela pergunta se eu andei bebendo.

— Mãe, não. Eu juro.

 — Certo, bem, é para aquele trabalho de escola, de história, certo? - eu me encolho. Ela quer tanto acreditar nas minhas desculpas. Toda vez que eu minto, ela quer tanto acreditar em mim.

— Eu confio em você, Lauren. 

   Digo a ela que passarei em casa antes da aula para pegar minhas coisas, aí desligamos. 

 — Onde você vai ficar? — pergunta Brad.

 — Não sei. Provavelmente vou para casa. Mas não quero que ela fique preocupada se eu não for. 

   Brad gira a chave, o motor dá partida, e ele acende os faróis.

 — Você quer que eu te leve pra algum lugar?

   Seguro a maçaneta e aponto com a cabeça para a tal casa.

 — É aqui que eu estou nas fitas. De qualquer forma, obrigada. - seus olhos fixam-se no horizonte. — De verdade. Obrigada — eu repito. 

   E, ao dizer isso, a intenção é agradecer por algo além da simples carona. Por tudo. Pela maneira como ele reagiu quando eu perdi o controle e chorei. Por tentar me fazer rir na noite mais horrível da minha vida. É bom saber que alguém compreende o que estou escutando, o que estou passando. De alguma forma, isso torna menos assustador o ato de continuar. Saio e fecho a porta. O carro dele arranca. Aperto o play.

Play.

De volta pra festa, pessoal. Mas não se acomodem demais, porque sairemos em poucos minutos.

   Meia quadra adiante, o Mustang de Brad para num cruzamento, entra à esquerda e vai embora. 

Se o tempo fosseum cordão, unindo todas as histórias de vocês, essa festa seria o ponto onde tudo se amarra com um nó. E esse nó continua crescendo sem parar, fica cada vez mais embaraçado, arrasta o resto das histórias para dentro dele. Quando Austin e eu finalmente deixamos de nos encarar daquela maneira horrível e dolorosa, saí andando pelo corredor, de volta à festa. Fui cambaleando, pra falar a verdade. Mas não por causa da cerveja. Por causa de todo o resto.

   Sento na calçada, a poucos metros do local onde vomitei. Se quem quer que seja o morador da casa, porque não tenho idéia de quem era o dono da festa, pedir que eu vá embora, agradecerei. Por favor, faça isso. 

Segurei no piano da saia de estar. Depois, no banco do piano. E me sentei. Eu queria ir embora, mas para onde? Não podia ir para casa. Ainda não. E, aonde quer eu fosse, como poderia chegar? Estava fraca demais para caminhar. Pelo menos, foi o que achei. Mas, na verdade, estava fraca demais para tentar. A única coisa que eu sabia com certeza era que queria cair fora e não pensar em nada, em ninguém, nunca mais.

Aí, alguém tocou o meu ombro. Um apertãozinho suave.

Era Ally Brooke.

    Aquela animadora de torcida que estava na secretaria do grêmio estudantil.

Ally, esta aqui é para você.

   Deixo a cabeça cair sobre os joelhos.

Ally perguntou se eu precisava de uma carona para casa e eu quase dei risada. Era tão óbvio assim? Minha aparência estava tão horrível? Então, enlacei meu braço no dela e ela me ajudou a levantar. Isso me fez sentir bem, deixar alguém me ajudar. Saímos andando pela porta da frente, atravessando uma multidão, gente desmaiada na entrada, fumando no jardim.

    Em algum lugar, nesse momento, eu caminhava de uma quadra para outra, tentando decifrar por que tinha ido embora. Tentando decifrar, tentando entender o que acabara de acontecer entre Camila e eu.

O chão estava úmido. Meus pés, anestesiados e pesados, deslizavam no concreto. Eu escutava o som de cada pedregulho e cada folha em que eu pisava. Eu queria escutar todos esses sons. Para bloquear a música e as vozes atrás de mim. Embora estivesse a algumas quadras de distância, eu ainda escutava a música. 

Distante. Abafada. Como se eu nãoconseguisse me afastar o suficiente. E ainda consigo me lembrar de todas as músicas que tocaram. Ally, você não disse uma palavra sequer. Não me fez nenhuma pergunta. E eu me sentia tão grata. Talvez tenham acontecido coisas com você, ou talvez você tenha visto coisas rolarem nas festas que simplesmente não podiam ser comentadas. Não imediatamente, pelo menos. Algo, de certa forma, oportuno, porque eu não havia falado nada sobre isso até agora.  

suicide girl ; camila&lauren (revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora