Finalmente terminei de por tudo na minha mochila, faltavam só algumas horas para nossa grande aventura. O ônibus está previsto para partir às 14 hrs, então sabendo como nós jovens somos, a direção resolveu adiar as aulas do turno da manhã. Mas é claro que ninguém achou uma idéia ruim, nem mesmo as professoras que iriam viajar conosco. As quatro turmas do 3º ano iam participar desta aula diferenciada, mas claro, todos nós iríamos para lugares diferentes. Isso me pouparia de ter que ver aquele namorico nojento do Max e da Karolina. E muita dor de cabeça aos professores.
Coloquei a roupa que eu já havia separado para a viagem dobrada no meu armário e fui para o banheiro, a noite renderia uma lavagem e hidratação dos cabelos além de uma esfoliação do corpo e da face.
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Durante o jantar correu tudo normalmente e só na hora da sobremesa é que tive uma surpresa, meus pais começaram a cantar parabéns para mim, de repente me senti da mesma forma que quando eu tinha 8 anos. Minhas festinhas de aniversário sempre foram assim, nada do tipo de bagunça que tem nas festas normais como gritos de criança pela casa correndo, guerra de comidas, indigestão pelo consumo excessivo de doces e refrigerantes. Minha mãe sempre foi muito ortodoxa em relação a maneira como eu deveria me portar. Mesmo quando ia para a escola e via as outras crianças soltando as feras, eu ficava ali na minha. Parecia que a qualquer momento ela podia aparecer com aquele olhar amedrontador e me pegar no flagra. Eles nunca chegaram a me bater, nem precisava. Uma só palavra e eu já tremia nas bases.
Terminada a "comemoração"subi para o meu quarto, eles ficaram lá se deliciando com champagne e eu vim me deliciar com a tarefa de preparar tudo o que precisaria para a excursão. Inicialmente eu havia cogitado em não participar, mas... meus pais insistiram que eu fosse, que seria algo bacana e etc... porque eu raramente saio de casa, que não vou nem às festas com eles, nem para as específicas da minha idade. Cara, eu nem ligo... só um bando de gente lá "se divertindo" ... tenho mais o que fazer. Quando chego em casa no fim do dia tô morto, são 5 aulas do médio mais 5 aulas do técnico em gastronomia... pode parecer uma coisa bem de garota, mas era a única coisa que eu curti dentre as opções que nos deram. Era perfeito, o útil aliado ao agradável. Eu sempre tive jeito na cozinha... Claro que boa parte da turma era feminina, e eu um dos poucos caras que manjavam do assunto... nem preciso comentar né?
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Quando terminamos de jantar resolvi ir lá no ap da Helena, à medida que eu me aproximava o som ia ficando mais intenso... então era ela a misteriosa musicista!!! Quando bati à porta, o som cessou. Ela pediu que aguardasse um pouco e já viria atender. Esperei pacientemente e quando ela abriu a porta não parecia com uma cara muito boa. Perguntei se estava tudo bem o que ela secamente respondeu que sim. Acho não, tenho certeza que não foi uma boa hora ter vindo aqui.
- Enfim, qual o motivo de sua visita?
- Bom, sabe o que é... eu queria saber se você podia me ajudar com algumas matérias, tipo eu vou prestar um vestibular em dezembro e tem umas coisas que ainda não ficaram claras... sabe, eu tive que dá um tempo da escola e tals.
Ela me olhou espantada, então expliquei toda a situação, tim-tim por tim-tim e algo clareou na mente dela. Haviam muitas teorias sobre o porquê da minha ausência e nenhuma delas chegava nem perto da realidade. Ela não era da minha sala no inicio do ano, mas já a tinha avistado no intervalo, talvez deva ter sido transferida para minha turma quando parei de vez. Por isso ela não me reconheceu de cara quando enfim começamos a ser amigos. Só frequentei 6 meses do 3 º ano e nem era assiduamente.
- Ok, nós começamos na próxima semana, porque amanhã vou viajar numa excursão da escola...
- Nossaaaa, eu adoraria ir, affz... que vacilo hein?!
Ela desmanchou a cara feia e sorriu, era bem melhor assim, eu não sabia o motivo mas era melhor nem perguntar, vai que... né?
- Beleza, então... temos que ver um horário, vou voltar para o trampo daqui a umas semanas aí falo com o Rogério e ver se ele me libera mais cedo para estudar...
- Ok.
- Então, como aprendeu a tocar violino? ...
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Depois que a Sarah foi embora, tomei um banho, jantei, pus o casaco e fui dar uma volta para espairecer. O céu estava meio nublado, o vento frio soprava, talvez até caísse uma chuva. Um letreiro brilhou na minha frente quando dobrei no quarteirão, a batida da música já me soava bem familiar, tinha uns manos e umas minas na frente da porta estreita dando uns amassos, combinando esquemas... Resolvi entrar, tinha gente de todo jeito, bebendo, fumando... as luzes coloridas davam um ar psicodélico ao ambiente, o Rapper mandando suas rimas para a galera...
"...Você se acha sempre incapaz de resolver...Se acovarda moro...O pensamento é a força criadora...O amanhã é ilusório...Porque ainda não existe...O hoje é real...É a realidade que você pode interferir..As oportunidades de mudança...Tá no presente...Não espere o futuro mudar sua vida...Porque o futuro será a consequência do presente..."⑺
Uns estavam ali só para curtir o som mesmo, o barzinho funcionava durante toda a semana... o repertório, bem variado. Mas hoje, parecia que o recado era para mim.
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Convergindo (Em Construção)
Fiksi Remaja"...toda essa história começou há seis semanas atrás quando minha rotina continuava pacífica e monótona... aliás, eu já estava contando os dias para minha formatura, não porque estivesse empolgada e sim por querer me ver logo livre disso. Tão inocen...