Weird

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1° de janeiro, 2:52

Direcionei o meu olhar aos céus pela janela do meu quarto. Era uma madrugada estrelada, típica de ano novo. Algumas pessoas ainda passavam na rua, bêbadas, festejando. No fundo, eu conseguia entender o porquê. Ou ao menos tinha a minha própria conclusão do motivo do primeiro dia do ano ser uma data tão importante para todo mundo.

Outro ano havia se passado. Foram mais de trezentos e sessenta dias enfrentando os seus demônios e vencendo batalhas. As pessoas realmente são fortes. Sempre são. Ou pelo menos, aprendem a ser.

E quando o dia primeiro de janeiro chega, as pessoas se enchem de paz e esperança. Esperança de que o próximo ano seja melhor, ou que elas continuem felizes com seus familiares, seus amores, suas amizades... Elas simplesmente escolhem apenas um lado: ou que tudo mude ou que nada mude.

Uma garota de cabelos quase negros chamou a minha atenção. Ela estava parada, olhando de volta pra mim do outro lado da rua. A menina sorriu e eu senti um arrepio na espinha no mesmo instante. Me senti tão intimidada com aquela cena que a minha única reação foi fechar as cortinas e finalmente dormir. Mas ela me seguia em meus sonhos.

Sonhei com a menina me chamando. Dentro de uma sala fechada. Aquilo foi tão assustador quanto o que o sorriso dela me fez sentir. Ela era bonita. Muito bonita. Mas também era um pouco sombria. Trazia consigo sentimentos ruins, ao ponto de desanimar qualquer pessoa.

Apesar de ter dormido pouco, levantei cedo e fui caminhar. Quando saí pela porta de casa senti o arrepio novamente. Olhei para onde encontrei a menina da última vez mas não havia absolutamente ninguém.

Resolvi continuar a minha caminhada apesar do incômodo causado pela visão da menina. Depois de mais alguns passos, a vi parada na esquina. Dei meia volta e caminhei pelo lado oposto a qual estava indo.

E para minha surpresa, a menina estava bem próxima de mim.

- Eu não sei o que você quer. Mas se quis me assustar, já funcionou. É melhor parar. – gritei alto o suficiente para que ela pudesse ouvir.

- Então você pode me ver agora? – a menina se encontrava agora na minha frente.

- O quê? Você é maluca.

- Eu posso te ensinar algumas coisas. Só preciso que confie em mim. – ela sorriu e apoiou sua mão em meu ombro.

Não tive uma reação diferente da que tive de madrugada. Apenas corri novamente para casa e entrei as pressas. Só queria que ela desaparecesse de novo.

- Filha. O que aconteceu? – fiquei mais ofegante com o susto que levei quando a minha mãe entrou na sala.

- Nada. – respondi.

- Camila, você estava falando sozinha.

- Eu estava cantando. – não queria assustá-la, até porque ela também não acreditaria em mim.

Passei o resto dia trancada no quarto. Eu estava começando a ficar realmente com medo. Uma estranha me seguindo, dizendo que deveria confiar nela. Além disso, parecia que isso era apenas coisa da minha cabeça porque ninguém, além de mim, conseguia vê-la.

Tomei coragem e decidi que conversaria com ela. Precisava de uma explicação. Na verdade, eu merecia uma. E então, comecei a torcer para que ela aparecesse do nada a qualquer momento. O que era estranho porque há minutos atrás eu torcia para que ela desaparecesse.

- Oi, Camila – a menina apareceu assim que o sol se pôs.

- Como entrou aqui? E como sabe meu nome? Quem é você? – minhas mãos estavam tão trêmulas quanto o som da voz que saía da minha boca.

- Eu vou te contar tudo. Responder todas as suas perguntas. Uma de cada vez. O meu nome é Lauren, eu sou um anjo...

- Um o quê? – a interrompi.

- Um anjo. De verdade. É por isso que só você pode me ver. As pessoas que são escolhidas podem nos ver.

- Escolhidas?

- Sim, para aprender. E se tornar um anjo também. Camila, eu sei que tudo é muito difícil de acreditar, mas eu sei que você tem fé. Você pode ter fé em mim também. – podia sentir o olhar fixo dela nos meus.

- Não me disse seu nome.

- Lauren.

- Como é esse ensinamento?

- Eu te levo pra longe por uns dias. Te mostro a história. Te ensino algumas coisas. E se você achar que pode escolher, pode continuar. Tenha fé, Camila. Eu sei que você é uma das pessoas que espera que a vida mude.

- Eu nem te conheço. Isso é loucura. – estava prestes a mandá-la embora.

- O nome da sua mãe é Sinuhe, do seu pai é Alejandro e o da sua irmã é Sofia. Camila, eu sei tudo sobre você. Você pode confiar em mim.

Os olhos de Lauren eram incrivelmente hipnotizantes. Apesar do quão estranho isso parecia ser, eu sempre tive muita fé e apenas resolvi dar uma chance a ela. Afinal, ela não poderia mentir.

A perguntei se poderíamos nos conhecer melhor antes que eu tomasse alguma decisão. Por mais que a minha fé fosse forte, não é como se eu estivesse perdido a noção daquilo que aprendi desde pequena.

Lauren concordou. E disse que me visitaria as vezes. Que os céus tinham planos que eu não poderia entender.

De repente, eu me pegava encarando o céu e achando incrível o que estava acontecendo. Mas o medo falava mais alto muitas das vezes. Era muito cedo para saber se aquilo era o certo. Então eu apenas tentava ignorar.

De qualquer maneira Lauren, o anjo, cuidava de mim. Durante a noite quando eu acordava, ela estava por perto. Me fazendo carinho ou apenas me observando.

Me sentia tão boba por me permitir estar nessa situação. Para qualquer pessoa que eu dissesse, iriam achar que eu estava ficando louca. E tem momentos que eu até cogito essa possibilidade.

Acordei no meio da noite e ouvi a voz de Lauren do outro lado da porta. Ela parecia conversar com alguém.

Eu só estou tentando ter a confiança dela. - ela dizia. – É óbvio que ela acha que eu sou um anjo. - meu estômago embrulhou. – Não é o momento certo para que ela faça a escolha. Se ela escolher o lado do céu, vamos perdê-la.

Depois que percebi que a voz dela já não se fazia mais presente fora do quarto, voltei pra cama e fechei os olhos. O medo que eu sentia antes estava tão forte que eu não conseguia controlar.

Senti os dedos de Lauren acariciando a minha bochecha, continuei de olhos fechados e tentei controlar a minha respiração.

Não, ela nem imagina que posso ser um demônio. – o nervosismo tomou conta do meu corpo e essa foi a última coisa que pude ouvir da boca de Lauren antes que eu apagasse por completo.

Fairytale ↬ CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora