3...2...1... Let's Go

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Acordei atônita, já eram 10 hrs e eu ainda tinha que arrumar minhas coisas. Ontem, depois que o Fernando chegou, perdi totalmente a noção do tempo, ficamos conversando sobre várias coisas sobre a vida dele e sobre a minha. Ironia do destino, ele era o dono do assento vazio na minha fila. Se ele tivesse lá, será que tudo isso teria acontecido? Será que teríamos nos conhecido? Fiquei muito feliz de hoje não termos tido aula, eu não tô no clima de me sentar, ouvir e escrever coisas da lousa. 

Fui tomar um delicioso banho frio para dissipar a pequena enxaqueca que começava a me atacar. A imagem refletida no espelho era de uma pessoa bem fatigada, minhas olheiras estavam mais evidentes do que de costume e se acumulavam como bolsas embaixo de minhas pálpebras, talvez porque eu tivesse chorado um bocado antes de dormir. O cabelo parecia palha e as unhas estavam por lixar por causa das cordas do violino.

Terminada minha higiene pessoal desci para comprar algo para comer agora e durante o trajeto da viagem.

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Quando eu cheguei em casa já passavam das 2 da manhã, minha mãe estava à porta com aquela expressão de preocupação. Ela é daqueles tipos que só dormem quando sabem onde todos os filhos estão e de preferência que estejam em segurança no seio do lar. Ainda fui tomar um banho, o cheiro de fumaça dos cigarros dos manos ficou impregnado na minha roupa. Para dizer que fui para a festa e não me divertir, posso dizer que tomei umas 2 doses e fiquei com uma mina.

 Lanchei e capotei na cama. Somente ao meio dia que minha mãe me acordou me intimando a arrumar minha mochila, caso contrário ia passar os 3 dias só com a roupa do corpo. Num impulso fui fazer minhas tarefas, tomar banho, merendar e ajeitar tudo. Às 13 hrs e 40 min meu pai estacionou em frente a escola, uma boa parte da minha turma já estava lá. Todos com algum parente, super empolgados. A professora estava organizando tudo, e depois que pusemos nossas bolsas no porta-malas do ônibus ela ordenou nossa subida. Eu já estava indo lá para o fundão quando descobri que nossos lugares era por ordem de mapeamento, Affz, Alice... ninguém merece.

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Meu pai se despediu com um aceno, enquanto eu o via ficando cada vez mais distante, no ônibus era uma algazarra só, todos falando e rindo ao mesmo tempo, tirando selfies, aproveitando o sinal enquanto ainda estavam dentro da área de cobertura. Pois é, nos últimos minutos do segundo tempo aceitei participar disso...

 Ao meu lado estava a senhorita silêncio, estava de fones e isso com certeza jogava janela a fora todas as nossas remotas chances de um diálogo. Ela parecia me ignorar, ficava olhando para as paisagens lá fora enquanto tamborilava com as pontas dos dedos o ritmo da música que estava ouvindo. Por um minuto olhei para ela e percebendo que era observada ela me olhou. Retirou os fones e esperou que eu disse algo.

- Eaí, o que está ouvindo?

Ela compartilhou o fone comigo e fiquei impressionado com o que ouvi, era nacional, melhor ainda... Raul. Quando pus o fone já estava no finzinho.

"É chato chegar... a um objetivo num instante. Eu quero viver... nessa metamorfose ambulante..." ⑻

Quando acabou lhe devolvi o fone. 

- Pensei que você curtisse algo mais... você sabe, mais pesado...

- Sou muito eclética...

- Entendi... bom, não quis dizer que eu não curto, ele é muito bom...

- Rs, sim... acho que tô meio numa fase nacional

- Bacana...

E aí, com esse curto diálogo o assunto morreu, eu não sei se ela tava ou não a fim de conversar. Por via das dúvidas era melhor esperar que o próximo passo viesse dela. Mas... a música me surpreendeu, eu não a conhecia o suficiente, mas aos meus olhos ela estava sendo bem isso, uma metamorfose ambulante.

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Depois que ele me devolveu o outro lado do fone fiquei tentada a dizer que ele podia continuar, mas sei lá, vai que meu estilo não o agradasse. Esperei que ele dissesse algo e como ficou calado afundei na poltrona de olhos fechados. Eu não sei por quanto tempo cochilei, só sei que despertei com o toque de suas mãos sobre as minhas. Retirei o fone, meu pescoço doía. Fomos praticamente os últimos a descer. O lugar parecia uma imensa floresta equatorial, os guias nos recepcionavam amistosamente à medida que descíamos. Quando todo mundo já estava em terra firme as regras foram repassadas para nós. 

1- Andar sempre em grupos

2- Respeitar o toque de recolher

3- Não alimentar os animais e nem deixar sobras de comidas nos dormitórios

Logo em seguida as professoras nos dividiram em 2 grupos, as meninas iam ficar nos dormitórios do lado leste e os rapazes do lado oeste. No meio ficavam os inspetores caso resolvêssemos dar uma escapada para o outro lado. Mesmo esquema do ônibus foi usado para determinar com quem dividiríamos a cabana. E dessa vez minha parceria foi com a Alice. Fiquei no colchão debaixo porque ela escolheu o de cima assim que entramos no quarto, não tive problemas com isso, desde que ela ficasse na dela, seriam ótimos 3 dias.

Convergindo (Em Construção)Onde histórias criam vida. Descubra agora