Quem foi Joanne? A pergunta percorreu todo o espaço esverdeado que nos cercava, posso imaginar que tocou a espinha de todos os familiares de Jo, não sabiam o que responder, não conviveram com ele...não conviveram; estive sempre por perto, não só eu, mas o Manoel e a Larissa também... sim... eles chegaram depois, mas desde então nunca nos deixaram, são bons amigos, sempre que precisávamos prontificavam-se a nos ajudar sem pensar duas vezes, os vejo agora sentados á minha esquerda, tentam dar forças a Damiana que aos soluços seca as lágrimas que percorrem o rosto, a notícia chegou como um tsunami, pegou-nos com toda a sua força, jogou-nos contra a parede e quando passou deixou o rastro de destruição ao nosso redor; sei que no fundo, no fundo, Noel e Lari também não sabem como irão processar o acontecido, eu não sei, prefiro imaginar que seja apenas um pesadelo, um pesadelo que já dura muito, um dia e uma manhã, uma interminável manhã de dor, choro e indignação.
Uma pequena brisa atravessou o campo e chegou até nós, o padre Miranda muito falou, jogou as palavras de Deus como uma sopa de letras sobre Jo, uma sopa de letras mastigada e remastigada, lida para diversas outras pessoas que alí também descansavam, lida da mesma forma, talvez com a diferença de um ponto, tosse, espirro ou choro escandaloso que o fazia parar; desta vez, nada disso acontece, dos 30 presentes, apenas 7 ou 8 realmente sofrem a perda, os outros apenas estão como uma obrigação familiar, em apoio à Dona Nina, uma das que mais choram, deve ter a minha mesma visão sobre os familiares presentes, mas provavelmente nada dirá a eles, apenas agradecerá a presença.
Quando chegou a hora de nos despedir do corpo, senti um pequeno orgulho por realizar o desejo de Jo, cobrir sua ataúde com a bandeira LGBTT, vi que algumas pessoas fizeram careta, mas não liguei, Noel trouxe uma corda de violão, simbolo das tardes que passavam juntos praticando o instrumento, Lari trouxe um emoticon de sorriso, sempre dissera que Jo era a pessoa mais engraçada que havia conhecido, contrariando o pensamento de muitas pessoas que o viam como uma pessoa séria, Damiana trouxe um retrato, um presente de Jo para ela de dia dos namorados, no retrato estavam num parque, haviam viajado para outra cidade na época, Jo estava sentado, suas mãos cafuneavam o cabelo de Damiana que se encontrava deitada apoiando a cabeça nas perna dele, Damiana se desfazia agora do presente apenas porque fizera uma réplica, guardava ela consigo em sua casa.
Dona Nina trouxe um lenço, nele estava bordado um diamante colorido em forma de coração, lembro-me que este era o lenço predileto de Jo, uma vez perguntei o porquê, e ele me respondeu:
"- Existe muito além do que se vê, em qualquer coisa, aqui por exemplo... nosso coração, sofremos tanto por culpa dele, ele sofre tanto por culpa dos outros...mesmo assim é o orgão mais importante do nosso corpo, sofre mas é forte, persiste...é a coisa mais preciosa no ser humano, precioso e forte como um diamante...sou um pouco como esse coração de diamante, pareço forte, indestrutível, mas tenho sentimentos, fraquezas...e uma fome enorme, vamos comer!".
Rever aquele lenço me fez relembrar todos os outros momentos em que o vi, as vezes quase caindo da mochila dele, sob o seu travesseiro a noite ou até mesmo servindo como sinal para que um salvasse o outro...
Ai, ai, Jo, passamos por tanta coisa juntos, perigos, brigas, aventuras, momentos de pura monotonia vendo filmes repetidos da TV, imaginar que a partir de agora vou viver sem ouvir a sua voz, te ligar, te visitar aos sábados, parece tão sem sentido, sem sal...
Não importa a era, o século ou qualquer tempo, para sempre você será o meu único e mais especial Coração de Diamante.
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Joanne, meu lado da história.
FanfictionJoanne cresceu no interior, passou por diversas aventuras e transformações, em seu caminho conheceu diversas pessoas, entre elas sua amiga de infância Keile, o jovem Manoel, a divertida Larissa e Damiana, um grande amor; outras pessoas, que ela pref...