Capítulo 1

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O celular apitou, era uma mensagem do Cauê:

— Te amo, minha linda! Já estou com saudades.

— Ohhh, que lindo! Eu também te amo e estou morreeeendo de saudades, fofo! — Respondi, com toda intensidade amorosa que uma menina de quinze anos pode ter.

Ainda bem que o Cauê me mandou uma mensagem, pelo menos eu pude ter um motivo para sorrir em meio a tanto desgosto naquela viagem. Com o cenho franzido e a cara emburrada propositalmente desde quando saímos de casa, sinalizava aos meus pais que eu estava ali por livre e espontânea pressão e não fazia questão nenhuma de esconder isso. Mas, ignorando totalmente a minha presença, eles nem pareciam se importar com a expressão de raiva estampada em meu rosto. Trocando entusiasmadas palavras com mamãe, meu pai, um homem de mais ou menos um metro e setenta de altura, cabelo castanho-escuro bem aparado e dono de um expressivo par de olhos verdes, decidiu colocar um CD de músicas antigas — daquelas que a voz do cantor é trêmula do início ao fim da canção — para tocar a maior altura no som do carro.

Para piorar a situação sonora do ambiente, vários barulhos irritantes saíam do tablet do Guto, meu irmão de cinco anos, que estava sentado no banco de trás junto comigo. Coloquei o fone de ouvido com força e juntei as sobrancelhas um pouco mais. Ninguém parecia estar se importando com a minha opinião sobre aquela viagem e isso deixava o desgostoso trajeto até a cidade de Gruta Alta ser ainda pior.

Ah! Eu tinha planos tão melhores para as minhas férias de janeiro. Há meses eu programava junto com minhas duas melhores amigas, Beca e Luca, passeios a shoppings, idas ao cinema, encontros com os "gatinhos", festas do pijama regadas a muito brigadeiro, presença registrada nas piscinas do clube e é claro, pegar um belo bronzeado nas praias cariocas. Mas meus planos foram por água abaixo quando minha mãe veio não com a proposta, mas sim com a informação de onde passaríamos nossas férias: na casa da prima Zuleide, numa cidadezinha de interior que cheirava a esterco chamada Gruta Alta. E todo adolescente sabe que quando a mãe vem com essas notícias de última hora... Quem somos nós para retrucar! Mas, mesmo assim eu não consegui ficar calada e retruquei, contestei, chorei, esperneei... Mas nada foi suficiente para fazê-la mudar de ideia, então, para que ela não achasse que me dei por vencida, estava determinada a passar as férias inteiras trancada no quarto com a cara fechada e semblante nenhum pouco agradável.

Enquanto a viagem seguia, com o coração aborrecido eu observava aqueles imensos campos, com uma árvore aqui, outra ali e algumas vaquinhas pastando de vez em quando e não podia imaginar o que Deus estava preparando para aquela nada sonhada viagem, mas que se tornariam as férias que marcariam minha vida pra sempre — até a eternidade.

***

— Chegamos!!! — O grito estridente acompanhado às batidinhas de palma da minha mãe despertou-me do sono e me trouxe de volta à realidade. O cheiro de cidadezinha interiorana já invadia o carro e ao olhar pela janela, pude perceber que Gruta Alta já não era tão retrógrada como da última vez em que estive na cidade. Avistei uma série de comércios de diferentes tipos, dentre eles um supermercado de grande porte e até uma academia de ginástica! Será que já havia internet?

Minha mãe saltou do carro numa alegria esfuziante e foi correndo abraçar a prima Zuleide, que nos esperava em frente ao portão de madeira, agora pintado de branco. As duas permaneceram um bom tempo abraçadas, trocando palavras de carinho. Zuleide, além de ser prima de primeiro grau de minha mãe, é sua melhor amiga desde a infância. Seu cabelo loiro encaracolado descia-lhe até um pouco abaixo do colo e estava mais curto e cheio de quando a vira pela última vez. Ela sempre tivera um sorriso largo e sincero e seu corpo nunca parecia mudar: era daquele jeitinho — nem magra e nem gorda — desde que me entendo por gente. Não sabia bem sua idade, mas era certo que já passara dos trinta e cinco. Zuleide fora dama no aniversário de quinze anos de minha mãe e também madrinha de casamento, além de estar presente quando eu e Guto nascemos. Quando mamãe se casou, deixou seu estado original, o Espírito Santo, e mudou-se com meu pai para o Rio de Janeiro, onde moramos até hoje. Alguns anos depois Zuleide, ainda sem se casar, deixou a capital capixaba e decidiu pela vida pacata do interior do estado. Ao que parecia, até aquele momento Zuleide ainda não havia encontrado o amor de sua vida.

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