Eram por volta das 17 hrs, o acampamento ainda estava longe, a fumaça de chaminé que vimos aparentemente mais próxima não estava tão perto assim. A floresta estava ficando escura muito rápido pois as árvores impediam a passagem da luz solar e todos já estavam cansados de andar, então sugeri que acampássemos ali mesmo e assim que clareasse seguiríamos nosso percurso. Com a ajuda do Victor armamos as barracas portáteis, Alice avivava a fogueira, a noite seria longa e fria, Helena não podia nos ajudar então tudo ficava por nossa conta. Quando a encontrei naquele estado ela parecia tão vulnerável, nos seus olhos estavam estampados a dor que ela silenciosamente estava sentindo.
Quando terminamos de jantar ficamos ao redor da fogueira jogando conversa fora e de repente o assunto virou para algo mais pessoal, como num jogo de verdade ou desafio estávamos lá falando sobre nós mesmos. Tudo começou porque o Victor foi zoar a Alice por causa do Max e então nossas histórias foram se interligando. Helena ouvia tudo em silêncio, eu me perguntava o que ela estaria fazendo naquela noite, onde estaria... se já nos conhecêssemos... bem, eu teria a convidado para nos ver tocar. Só a vi mudar de expressão quando a Alice falou sobre a banda, aliás, até o Victor mudou quando ela mencionou que eu tocava guitarra.
- Nossa, mano...que foda... quando nós voltarmos quero ver vocês tocando...
- É... quem sabe né?!
Olhei para ela ...
- Quem sabe né...
Alice intercalou o olhar entre mim e ela e soltou um sorrisinho cúmplice.
- Ei, moleque... venha me ajudar aqui a pegar mais lenha...
- Mas já tem o suficiente...
- Não discuta comigo, levanta essa bunda daí!!
- Mina louca...
Eles saíram, ficamos só a gente sentados em volta da fogueira crepitando, as chamas dançavam sopradas levemente pelo vento, no local onde estávamos tinham menos árvores, o que dava uma visão privilegiada do céu, a lua cheia e as estrelas cintilando no firmamento negro. Ela estava ali na minha frente, um mistério a ser desvendado.
- Olha só, uma estrela cadente...
- É sim, faça um pedido...
- Eu já fiz.
- Pode me contar?
- Aí ele não se realizará...
- Como você pode ter tanta certeza?
Ela me encarou e sorriu para mim e ficamos naquele um minuto de silêncio onde trocávamos palavras e confidências pelo olhar.
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- Fez de propósito né?
- O quê?
- Não se faça de desentendida viu? Acha que não saco das paradas?
Era evidente, a troca de olhares entre eles entregava tudo, era só uma questão de tempo.
- Ela é legal, tipo... é caladona, mas tem um jeitinho... já conheci muita mina assim... tem umas que é só aparência, por dentro é um fogo só...hehe
- Me poupe dos detalhes sórdidos.
- Mas e aí, sério mesmo que o Max vacilou contigo?
- E isso importa pra você?
- Ah, eu brinco e tals, mas não quer dizer que não sei ser sério... tem coisas que é maior mancada fazer com uma mina.
- Tipo, a Sarah?
Puta que pariu, como que ela sabe?
- Antes que você fiquei cheio de paranóias, tem coisas que até entre nós garotas é mancada fazer umas com as outras. Eu soube do aborto dela. Temos uma amiga em comum. Fiquei surpresa, ela é tão jovem... passar por isso não é nada bacana.
- É...
- E o cara?
- Aquele otário? Ele vai ver quando eu encontrá-lo...
- Você gosta dela né? rsrsrs
- Ah, nem vem... tô ligado que você é maior linguaruda...
- Relaxa aí pivete... seu segredo está bem guardado.
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Quando Alice e Victor voltaram declararam que estava na hora de nos recolhermos. Eles isolaram a fogueira de modo que as chamas não se alastrassem e causassem um incêndio. Enquanto isso William me carregou para dentro da minha barraca.
- Eu já chequei, não tem insetos aqui dentro, pode relaxar.
- Valeu...
- Se precisar de alguma coisa...
- Tudo bem...
Ele me colocou delicadamente sobre a lona interna da barraca, seu rosto bem próximo do meu, o calor do seu toque não era normal. À medida que ele se aproximava de mim meu coração parecia não estar mais alojado no meio do meu peito e sim deslizando entre meu estômago e minha garganta, eu podia sentir a pressão dos batimentos cardíacos nos meus ouvidos e o calor do sangue correndo em minhas veias, seus olhos focalizaram dentro dos meus... aqueles olhos azuis pareciam um buraco negro me puxando.
- O que você tem, garota?
Ele sussurrou enquanto ia vencendo a distância entre nosso lábios. Senti seu hálito em meu rosto e os lábios roçando lentamente nos meus, eu já estava me rendendo. Fechei meus olhos e quando minha mão tocou seu rosto...
- Helena, vai querer mais um...co-ber-tor?
Alice ficou paralisada nos olhando, seus lábios congelaram no meio da pergunta. Instintivamente nossos corpos se afastaram. Eu continuava pegando fogo, senti meu rosto queimar e agradeci imensamente a iluminação precária não conseguir revelar minha expressão. Ele passou a mão no cabelo e com um sorriso meio sem jeito me olhou.
- Atrapalhei né? Me desculpa...
- Não, de boas...eu já estava de saída. Boa noite, Helena.
Alice olhava para mim com um olhar de sinceras desculpas enquanto ele saía da minha barraca. Naquele momento eu soltei minha respiração que, eu nem sei porque a estava prendendo. Quando ela me entregou o cobertor e saiu, eu fiquei revivendo aquela cena milhares de vezes até conseguir pegar no sono. Havia em mim muitos diferentes tipos de sentimentos pulsando, e um deles era um velho conhecido que há tempos estava adormecido.
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Convergindo (Em Construção)
Teen Fiction"...toda essa história começou há seis semanas atrás quando minha rotina continuava pacífica e monótona... aliás, eu já estava contando os dias para minha formatura, não porque estivesse empolgada e sim por querer me ver logo livre disso. Tão inocen...