-Alex meu filho, eu te amo tanto meu amor. -Ela dizia, fazendo cafuné em meus cabelos.
-Mamãe.. -Digo com a voz arrastada, pois eu podia sentir minha garganta se fechar ao pensar naquela pergunta que empregava os meus pensamentos.
-Não diga nada meu amor, saiba que eu sempre vou te proteger.
Abro os meus olhos e começo a sentir o meu corpo pesar. A tontura me invade por alguns segundos. Começo a olhar ao meu redor. Estou sentado em uma cadeira, ainda com as roupas dos Hunters, porém sem o capuz ou a máscara. Não estou amarrado e nem sendo vigiado por guardas. Estou apenas dentro de uma sala toda escura. Logo quando eu cogito em levantar eu escuto.-Até que enfim a bela adormecida resolveu acordar! -Um homem disse acendendo a luz de um abajur que estava em cima de uma mesa a minha frente.
Comecei a olhar mais ao meu redor, e aquele lugar aparentemente era um escritório. O homem que havia se pronunciado virou a cadeira em que estava sentado e ficou de frente para mim. Ele vestia um chapéu de pano e um terno por baixo de seu casaco sobretudo. Assim como os outros ele estava somente ao tom preto. Ele me olhou por mais alguns segundos até que disse.
-Sabe Senhor Dolevan, você consegue imaginar a minha surpresa ao descobrir que um de meus sistemas foi invadido e controlado por um homem amarrado até os dentes e vigiado, que pelo que eu soube acabou enganando minha melhor general e o meu associado com um papo furado? A minha sorte é que essa unidade possui dois sistemas, o que você invadiu e o meu, que opera somente no sexto andar. Dentre tudo, você consegue imaginar? -Ele me pergunta em um tom severo.
-Não consigo, nem um pouco. -Respondo sem tirar o meu olhar de seus movimentos.
-Engraçado isso, realmente hilário! -Ele diz sorrindo.
-O que é tão engraçado? -Pergunto, fazendo seu sorriso desaparecer no mesmo instante.
-Francisco me disse que você é muito bom com jogos, mas acontece que eu também sou. -Ele diz encostando-se em sua cadeira.
-Fico feliz em saber que falaram bem de mim, mas acontece que não falaram muito de você! -Digo com um sorriso em meus lábios.
-Quando eu tinha quatro anos eu ganhei um cachorro. O nome dele era Bob. Mas, você já deve saber o que aconteceu em seguida. O Bob assim como outros cães fazia suas necessidades na casa inteira, era cocô até no teto. No terceiro dia do Bob lá em casa, meu pai me disse que não estava aguentando mais me ver limpar o que o Bob fazia, então ele ordenou que eu o colaca-se na linha e o manda-se fazer tudo no Jornal. Mas não funcionou! -Ele disse olhando para um canto da sala, como se ele refletisse as suas próprias palavras.
-Você era bem apegado a esse cachorro, não era? -Pergunto interrompendo o silêncio que estava pairando o ar.
-Eu amava o Bob, ele era o meu melhor amigo. -Ele me responde, voltando a mirar seu olhar sobre mim.
-Era? -Pergunto.
-Como eu estava dizendo, não deu muito certo tentar colocar o Bob na linha. Sendo assim, ele continuou a sujar tudo. No quinto dia, meu pai chegou do trabalho e viu a desordem. Ele pegou o Bob pelo colarinho e o matou de tanto bater nele com uma barra de ferro. É claro que eu tentei impedir, mas o máximo que eu pude fazer foi assistir aquela cena. Eu o vi estripar o meu único amigo que sempre estava ao meu lado. Depois de tudo, meu pai me disse que quem não está na linha deve ser colocado na linha. -Ele fala abrindo um sorriso em seu rosto.
-Você tinha apenas quatro anos , isso foi tão ... tão ... -E antes que eu conseguisse achar a palavra certa, ele completa.
-Cruel? Ah.. Não se assuste Senhor Dolevan, não sou igual ao meu pai, eu dou segundas chances, quando eu quero é claro. Mas, eu confesso que depois daquilo eu nunca mais senti algo como afeto por qualquer coisa. -Ele fala friamente como se isso não passasse de uma simples história trágica e inevitável.
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Paradoxo
General FictionO tempo é uma coisa perigosa, uma coisa pela qual não sabemos lidar, mas ele terá que aceitar que é o único que pode mudar isso. Aquele que caça pela necessidade, mata pelo desespero e luta para voltar, é o único que sobrevive ao Paradoxo Temporal e...