- Mãe?
- Oi, meu amor!
- Você vai ficar bem?
- Vou sim, logo sairei desse hospital.
- O papai falou que a culpa é minha.
- Seu pai não sabe de nada! Irei ficar bem. Agora vá pra casa. Eu te amo!
- Eu também te amo!Essa foi a última vez que vi minha mãe, ela tinha câncer no útero, eu tinha 5 anos, meu pai falou que a culpa foi minha, que foi porque eu nasci, eu matei ela, a pessoa que mais me amou e eu a matei.
- Vem aqui!
- Papai não fui eu! Eu não fiz nada...
- Eu já mandei vir aqui!
- Pai, por favor...
- A sua mãe morreu, a culpa é sua!Foi a primeira vez que apanhei na vida, eu desmaiei e acordei com muita dor no corpo, minha cama estava cheia de sangue.
As surras se tornavam mais constantes conforme eu ia crescendo, meu corpo é marcado até hoje, as surras chegaram a ser com pedaços de paus e fios de ferro.Na escola eu era calada, não falava com ninguém, as pessoas não gostavam de mim, me achavam esquisita, me batiam.
- Você não deveria estar aqui esquisita!
- Me deixa em paz.
- Sua mãe deve ter morrido de desgosto de tão feia que você é.
- Não fala da minha mãe!
- Vai chorar?Um dia uma professora começou a fazer perguntas sobre as marcas que tinha no corpo, eu não disse nada, mas chamaram a Polícia.
- O que você falou?
- Nada pai, eu juro, pai, por favor!
- Sua idiota!Eu estava gritando quando a polícia chegou na minha casa, eles o tiraram de perto de mim, eu chorava muito, uma policial me ajudou.
- Quantos anos você tem?
- Eu tenho 12.
- Ele te bate a muito tempo?
- A minha mãe morreu.
- Ele te bate desde que sua mãe morreu?
- Ela era muito bonita! Eu pareço com ela.Me tiraram do meu pai, apesar de eu não responder as perguntas, a juíza entendeu que eu estava com medo e o exame comprovou que eu sofria abusos físicos a algum tempo.
- Colégio Wiest!
- Você vai gostar do lugar, é ótimo, não vai mais apanhar.
- Eu quero a minha casa, quero ficar com meu pai!
- Eu sei que mudanças são difíceis, mas você vai gostar!
- NÃO! EU QUERO MINHA CASA!
- Saia do carro.
- NÃO! NÃO! NÃO!Fui arrastada pra dentro daquela escola que parecia um presídio, eu queria ficar em casa, com meu pai, ele me batia porque eu tinha culpa, eu estava errada e eu merecia, ele nunca fez por mal, ele me amava.
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Abusada
Historical FictionA culpa é minha, eu não sou boa o suficiente, eu pedi, eu, eu, EU!