Era 04 de fevereiro de 2005. Meu primeiro dia em Seattle. Fui enviado pelo meu chefe para trabalhar num novo escritório de advocacia, pois ele decidiu expandir a rede para outros estados. Meu voo tinha pousado por volta das 21h00 e, por incrível que pareça, as minhas malas foram as primeiras a vir, então, cerca de 30 minutos depois do desembarque, já estava a caminho do meu hotel. Eu nasci no Maine, mas morava em Nova Iorque e tinha uma vida extremamente confortável, um emprego que amava, amigos incríveis e uma família maravilhosa. Até que surpreendi minha esposa na cama com meu melhor amigo. Essa foi a primeira vez que meu mundo desabou e eu demorei muito pra reconstrui-lo, mas, graças ao anjo que o destino graciosamente me apresentou, consegui me fazer inteiro novamente. Quando meu chefe me ofereceu um emprego em outra cidade, eu não pensei duas vezes. Larguei tudo o que me restou em Nova Iorque e vim pra cá alguns dias antes de iniciar no trabalho para procurar um lugar pra morar porque viver num hotel sairia muito caro.
Finalmente tinha chegado ao Kings Inn, um hotel no centro de Seattle, e tecnicamente foi um caminho curto do aeroporto até aqui, mas com o turbilhão de pensamentos que pairava na minha cabeça, pareceu uma eternidade. Fiz o check-in na recepção, pedi que subissem com as minhas malas porque eu estava exausto e extremamente afim de um drink. Caminhei até o bar do hotel e logo da entrada eu pude percebê-la sentada numa cadeira do balcão. Uma mulher daquelas, sozinha num bar? Devia ser coisa da minha imaginação! Ela tinha uma aparência angelical. Cabelos cor de mel, olhos cor de esmeralda, profundos, daqueles que são capazes de falar mais que muitas palavras. Usava um vestido preto e justo o qual definia todo o contorno do seu corpo. Passei a acreditar em destino no momento em que a vi.
Eu havia acabado de sair de um casamento e o divórcio ainda nem tinha sido finalizado, mas isso não me impediu de falar com ela. Num primeiro momento ela me ignorou, mas, insistente do jeito que sou, continuei tentando puxar assunto até que consegui quebrar o bloqueio e embarcamos numa conversa deliciosa que eu torci para ser infinita. Descobri que ela era de Massachussets e também estava aqui para trabalhar. Conversamos sobre os mais variados assuntos, até que eu olhei no relógio e espantei ao perceber que o tempo passou tão rápido.
- Preciso ir. Amanhã acordarei cedo para procurar um apartamento. - eu disse, mesmo querendo ficar ali pra sempre.
Ela assentiu, pediu outra dose daquela bebida que agora sei que é a sua favorita e nós nos despedimos.
Caminhei até o meu quarto e só conseguia pensar no brilho daqueles olhos. Tirei o cartão do bolso para conseguir desbloquear a porta e lembrei que nem mesmo sabia seu nome, mas, como estávamos hospedados no mesmo hotel, eu pensei que nos veríamos novamente. Claramente me enganei, mas o que o destino tinha reservado pra nós foi muito melhor do qualquer coisa que eu já imaginei.
Agora, sentado aqui nessa cadeira, vendo-a desse jeito, eu não estou mais certo de que ela está lá. Bom, fisicamente sim. Fisicamente ainda é a minha esposa, mas, mentalmente, eu já não tenho tanta certeza. Observo-a acordar. O olhar que antes era cheio de vida e histórias, hoje é o olhar de alguém confuso que busca por respostas.
- Quem é você? – ela perguntou.
Eu já ouvi essa pergunta algumas outras vezes, mas isso não quer dizer que estou acostumado. Cada vez que essa frase é dita por ela, sinto um pedaço de mim sendo arrancado e meu mundo novamente desaba, mas, diferente da outra vez, ela não está lá para me ajudar a reconstrui-lo.
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Primeiramente agradeço ao meu primo por ter feito essa capa maravilhosa e, por conseguinte, antes de continuarem, preciso informar que a história será contada desde o início de tudo, sempre com uma marcação temporal, assim vocês não se perdem. A narração vai ser feita pelos dois personagens, pelo menos por um tempo e, provavelmente, vocês encontrarão citações de alguns livros e elas vão estar em itálico. Enfim, espero que estejam gostando. Sugestões são bem-vindas e vocês podem deixar nos comentários.