2º Capítulo

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A última semana resumiu-se a noites mal passadas, dias melancólicos e chorosos. Várias vezes ajoelhei-me e pedi, lavada em lágrimas, para que continuassemos em Portugal, para poder ficar com os avós. Mas implorar desta maneira não valia a pena. Ela apenas dizia para me levantar, deixar de ser tonta e parar de chorar. Eu devia ser mais madura e perceber que isto era o melhor para nós, principalmente, para ela. Numa das nossas tantas conversas mãe-filha tentei explicar-lhe o porquê de querer ficar aqui e de não apoiar a decisão de nos mudarmos para um outro país. 

« - Mãe, por favor, vamos ficar aqui, sim? Não me afastes do pouco que ainda tenho. – Tento chamar-lhe à atenção, enquanto segurava em ambas as suas mãos.

- Lá vais ter muito mais. Não vejo a insistência nessa ideia de continuar aqui. Vais continuar a falar com os avós, com a tua prima, os teus amigos.

- Mas esta é a minha casa, é a casa onde o pai viveu aqui comigo. Ele pode ter passado muito tempo fora, no trabalho, mas ele sempre voltava. Eu quero ficar aqui.

- O problema é esse. Ainda estás à espera que o pai chegue e te abrace, não estás? – Eu sei o que sentia, mas ouvi-lo da boca da minha mãe tornava tudo muito mais real e poderoso. – Isso faz-te mal, Victória. Já se passaram dez anos desde que tudo aconteceu. Estás ainda em negação, ainda não aceitas-te que o pai morreu e que nunca, mas nunca mais, irá voltar. »

Pode até haver um ponto de razão nisto tudo, mas, na verdade, o pai só morreu para ela, porque para mim ele continua vivo. Vivo dentro de mim, dentro do meu coração.

Quando era mais nova sentia a presença dele, isto é, depois da sua morte. Segundo a minha mãe, ela ouvia-me a falar à frente da moldura do pai, onde ele estava com a farda militar, fazendo a tradicional saudação. Ela via-me a rir sozinha, falar sozinha, brincar sozinha. Isto até podia ser normal, mas para mim era estranho. Anos atrás, quando eu tinha apenas seis anos, a minha prima, Adriana, vivia comigo e brincávamos juntas, mas depois do que aconteceu, raramente juntava-me a ela. Na escola era a mesma coisa. Sempre que alguém falava na morte do meu pai, eu gritava e jogava qualquer boneco que tinha em minha posse. Para mim ele não tinha morrido. E ainda não morreu. Eu só queria lembrar-me da sensação que eu tinha, mas, com o passar dos anos, essa sensação foi-se perdendo, até ser esquecida.

Apesar destes anos todos e de já não sentir o que sentia, ainda acredito que ele possa voltar, mas também sei que é algo impossível.

Após uma longa semana, chegou finalmente o dia que sempre temi.

As malas já estavam feitas no andar de baixo junto à porta, tal como a minha mãe. Eu estava no meio do quarto, agora vazio e frio. Olhava em redor e prestava atenção a cada pormenor do meu quarto e por alguma razão, só aqui é que sentia claramente a presença do meu pai. Agora nunca mais irei sentir esta presença.

Ao lembrar-me dele não consigo evitar as lágrimas, levando as mãos á cara, de forma a abafar o som do meu choro. Podia ter passado dez anos após a morte do meu pai, mas a dor infernal permanecia igual ao dia em que soube que este se tinha tornado numa ''estrela''. 

Enxugo as lágrimas e inspiro, de modo a acalmar-me.

'' Victória, filha, o táxi já chegou.'' 

A voz apressada da minha mãe ecoava por toda a casa. Assim que ganhei coragem, fechei a porta do meu quarto, descendo as escadas rapidamente. Peguei no casaco pendurado e vesti-o, de seguida peguei na minha mala e sai de casa. Colocamos as bagagens dentro do táxi e entramos.

- Para o aeroporto, por favor. - Pede delicadamente a minha mãe.

Sinto-me tentada a olhar para a casa. Tento resistir, mas é inútil. Olho num relance para o jardim que rodeava a casa e, junto ao meu velho baloiço de madeira, vislumbrei o meu pai a sorrir-me. Arregalo os olhos e chamo a minha mãe rapidamente.

- Mãe! Mãe, olha para o baloiço! É o pai, PARE JÁ O CARRO! - Grito ao motorista e saiu do carro sempre com o olhar focado no baloiço.

A minha mãe olha imediatamente para o baloiço, vendo apenas este a mexer-se por causa do habitual vento de Outono.

- Victória, para já com isso. Não vou admitir brincadeiras dessas lá em Inglaterra! Quando eras pequena ainda percebia, mas agora? Com 16 anos? Desculpa, mas é completamente inadmissível! - Diz a minha progenitora visivelmente chateada.

Desvio o meu olhar para a mesma e, quando ia protestar novamente, olho de novo o baloiço mas este já estava vazio. 

- Desculpa... - Digo num murmuro ao entrar no carro.

‘’ Eu sei o que vi. ‘’ Penso e, ao mesmo tempo, coloco os auriculares.

Ao fim de meia hora, chegamos ao aeroporto. Fazemos o check-in e, em menos de outra meia hora, estamos ambas dentro do avião pronto a descolar.

Como é habitual, as hospedeiras de bordo começam a dar instruções de segurança, mas, como sempre, ignoro-as por completo e volto a minha atenção para a música que estava a ouvir. Quão mau seria se o avião realmente se despenha-se?

  Lana del Rey ''Dark Paradise' 

''Everytime I close my eyes,

[ Sempre que fecho os olhos ]

its like a Dark Paradise.

[ É como um paraíso negro ]

No one compares to you,

[Ninguém se compara a ti ]

I'm scared that you

[ E eu tenho medo que tu ]

wont be waiting on the other side. '' 

[ Não me esperes do outro lado ]

Ao ouvir estas letras, volto outra vez a lembrar-me do que deixo para trás e do que perdi e peço a mim mesma para não me ir a baixo.

‘’ A vida continua, aceita a tua. Há quem esteja pior mas mesmo assim tenha um sorriso na cara ‘’ Tento convencer-me a sorrir, mesmo sendo a última coisa que queira fazer.

Eu sei que ao ouvir músicas destas vou cada vez mais ficar em baixo, por isso desligo o MP4 e ligo o Tablet, começando a jogar qualquer coisa na esperança de entreter-me durante esta viagem de 3 longas horas.

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Até agora a aparição do pai junto ao  baloiço de infância de Victória abalou-a muito fazendo-a ficar muito frágil. As saudades apertam e ''Vick'' tenta combate-las ao máximo.

Dentro de algumas horas, mãe e filha irão deparar-se com o seu novo futuro. Como irão reagir? Acompanhem a FanFic para não perderem nada deste enrendo.

Dêm o vosso voto para me inspirarem a continuar a viagem de Victória. ♡

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