Minha última condolência.

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Eu não posso te deixar assim. Eu não posso simplesmente chorar pela sua memória sem arranjar um jeito de te manter viva, não só aqui dentro do peito. Não posso fazer da tua partida uma coisa tão vã. Eu ainda preciso de você, preciso te imortalizar em meio às boas lembranças que tivemos juntos. E o único jeito de fazer isso é escrevendo. Te mantendo aqui nas minhas palavras.

Ainda lembro de quando te conheci, é como se fosse ontem. Talvez, se fosse, eu não teria passado a manhã inteira chorando quando descobri o que aconteceu nem estaria sentindo uma pontada funda no meu coração a cada letra digitada. Mas aí teria te conhecido tarde demais. Era almoço no colégio, ainda estudávamos em tempo integral. Eu era do segundo ano, você do primeiro. Sentei perto de ti e do Aécio simplesmente porque não tinha mais lugar, mas vi que foi a melhor decisão que tomei quando vocês dois começaram a falar de Harry Potter. Foi fácil me entrosar dali em diante, todavia não imaginaria nem em um milhão de anos que vocês iriam marcar tanto a minha vida. Não achava que você, principalmente, seria tão importante pra mim.

Logo eu tinha uma nova amiga. Alguém com quem dividia segredos, fofocava, ria, me divertia, brincava. Mais tarde, seria alguém com quem eu poderia chorar, desabafar, gritar sobre como eu odiava minha vida à vontade; alguém que não fugiu de mim nas minhas piores dificuldades e de quebra me estendeu a mão. Alguém que não me deixava sozinho quando eu saía de sala no intervalo e seguia a multidão. Alguém que me ajudou a suportar o verdadeiro purgatório que foi meu ensino médio. Ainda lembro da gente ensaiando junto pra minha quadrilha do terceiro ano porque eu não tinha um par, de você falando sobre o quanto o Samuel foi um idiota, de mim chorando na tua frente de ódio por não ter conseguido pagar o vestibular da UEA, iludido, achando que a minha vida acabaria ali. Lembro principalmente do medo irracional que eu tive de me assumir na tua frente e de quando você ficou falando sem parar da bunda de certas pessoas assim que eu o fiz. Agora preciso me agarrar a essas memórias todas lembrando que um dia a gente foi feliz junto.

Eu não quero acreditar que você foi pra "outro plano". Eu não quero acreditar que você foi embora pra sempre. Que eu nunca mais vou te ver, te abraçar como da última vez, na Saraiva com as minhas amigas da faculdade, falar contigo como quando teve a olimpíada de química na UFAM, que eu não vou te ver na formatura esse ano e que os nossos planos não vão mais virar realidade. Eu queria poder ter feito esse ano ser tão suportável pra você quanto você fez os últimos dois anos serem pra mim. Queria ter ajudado mais, ouvido mais, falado mais, abraçado mais. Devia ter me atrasado pra faculdade mais vezes quando você me procurava pelo celular. Devia ter feito mais por você, quando você fez por mim o que quase ninguém mais teve compaixão de fazer. Foi a amiga que quase ninguém mais foi. E você sabe disso. Por isso essa dor tão grande em saber que agora você não tá mais aqui.

Agora, sim. Disse tudo que estava preso no meu peito e tudo o que podia dizer no meu egoísmo de te prender comigo. Agora, sim, um pedaço teu vai continuar vivo comigo nessas palavras. Agora, sim, vai em paz. Descansa. Que Deus, na sua existência, te acolha debaixo das asas dele e te proporcione toda a felicidade que você puder ter. Você merece. Aliás, você sempre foi merecedora de tudo o que conquistou. Todo o reconhecimento que você teve na vida foi fruto da tua dedicação. E tu... sempre deu todo o amor do mundo para as pessoas com quem você se importava; nada mais justo receber esse amor de volta sempre, assim como você está recebendo de mim e do pessoal nesse dia que acabou por se tornar um dos mais tristes pelos quais já passei. Tudo o que posso dizer agora é que a UFAM perdeu uma caloura de Medicina barra Química fora de série, e que sei que o Felipe tá sentindo tua falta em algum canto. Assim como eu tô sentindo aqui, e como sempre vou sentir. Prometo erguer a varinha por você quando tiver uma. E prometo que vou sempre me lembrar de ti, não importa o que aconteça.


Te amo, amiga. Sempre amei.

João Victor.

[Original] "My final condolence"Onde histórias criam vida. Descubra agora