A Pena Dourada e o Crime Monocromático

PARTE UM - FIM DO EXPEDIENTE

De fato, não havia motivos para tanto alarde, é claro, mas era inevitável sentir um frio na barriga toda vez que a Diretora passava em sua sala para perguntar sobre as novidades, e toda vez a Diretora ouvia um sonoro e dramático: "tudo como o planejado", mesmo que tudo estivesse de pernas ao ar.

Todo ano em Castelobruxo a escola oferecia à alunos europeus um programa de intercâmbio para estudarem sobre a fauna e flora do tropical continente, a questão é que era a primeira vez de Dourado naquela função, e o mínimo que esperavam de seu desempenho era um grande trabalho, afinal sua mãe havia sido a mais famosa diretora da escola durante anos, e por isso carregava um fardo muito pesado em suas costas. E se isso já não fosse o suficiente, naquele ano a escola também daria espaço aos alunos do continente africano, numa tentativa de "expandir os horizontes" de Castelobruxo.

Naquele ano a escola receberia alunos de Beauxbatons, Hogwarts e Uagadou, e como o contato com as outras escolas era quase nulo entre os alunos, a escola toda estava em constantes burburinhos comentando sobre os alunos de Uagadou, o que deixava Dourado com um aperto maior na boca do estômago apenas em passar pelos corredores.

E é claro que não parava por aí, afinal Dourado não tinha a mesma fama da mãe pelo país, nem mesmo possuía o dinheiro que a mãe tinha quando era de sua idade, e após Benedita Dourado ter se aposentado para morar em Zermatt na Suíça as coisas começaram a ir de mal a pior. Dourado teve que privar-se de determinados luxos após a pressão familiar de continuar o legado de sua mãe em Castelobruxo, o que no passado resultara numa gigantesca discussão quando disse à mãe que desejava trabalhar no MIMABRA, o Ministério da Magia do Brasil, na JFCM. Benedita, é claro, fora contra, mas mesmo assim Dourado permaneceu em seu objetivo, e aos vinte e três anos já fazia parte da JFCM como desejava. E como não desejava acabara entrando na função de coordenação de Castelobruxo, onde todos acreditavam fielmente que Dourado ansiava o cargo na diretoria da escola como a mãe.

- Fim do expediente, Dourado - era Graça, a supervisora, com um tom de alívio na voz. - É uma pena não ficar no turno da noite, o Professor Avalo irá brindar hoje por tudo estar indo bem com a conexão entre as outras escolas, além das europeias, até o momento.

Dourado, particularmente, simpatizava com Graça, uma senhora muito amiga de sua mãe que sempre se deslocava ao escritório da coordenação para jogarem conversa fora, mas o que mais tornava Graça uma boa companhia eram os vários hematomas nos braços e ombros que conseguia vez ou outra quando visitava o neto no nordeste do país, pois além de ser um aborto ainda possuía um distúrbio de personalidade esquizoide de nível altíssimo, além de ataques de pânico constantes devido à frequente presença de magia em seu meio familiar mesclados aos seus distúrbios mentais. E claro que apenas Dourado havia notado aquilo.

- Na verdade nós apenas estamos providenciando a estadia dos alunos da Escola de Magia de Uagadou à nossa escola pois os alunos do Instituto Durmstrang não tiveram a oportunidade de participar do Programa de Intercâmbio, afinal não obtiveram convites - o que de fato era verdade, mas os jornais, como O Pergaminho, estavam mais preocupados em mostrar o que era proveitoso à reputação do país ao seu povo

- Ora! Vamos, Dourado, seja menos pessimista. Meros detalhes, eu posso dizer, Benedita estaria orgulhosa com seu feito.

- Não fiz nada além do meu trabalho - e sorriu amarelo. - Alias, preciso entregar à diretora as mensagens do diretor de Uagadou, ele parece muito entusiasmado com o envolvimento dos seus alunos em Castelobruxo e as pedras não param de chegar à minha... ARRRGH!

Num pulo, Dourado saiu de sua escrivaninha já de varinha em punho em direção à janela. Tamanho fora a explosão vindo da floresta e a nuvem de fumaça começara a subir, seguido do fogo e os risos medonhos.