Era um fim de tarde chuvoso. Cheguei da escola e nem parei de jogar pebolim com os meninos no salão do prédio, como invariavelmente fazia.Vinha louco para encontrar mamãe e fazer-lhe a pergunta que me ardia no peito, já pressentindo o tormento que viraria a minha vida do avesso e a dividiria em antes e depois desse dia. Lembro que, alucinado, me atirei no elevador com tanta pressa, que o Paulinho ficou de fora, me xingando de estupido. Nem liguei.
Entrei como um furacão no apartamento e só agora, passados dez anos, percebo a ironia de mamãe estar justamente vendo notícias sobre a enchente da véspera no jornal da televisão.
Ela tinha chegado mais cedo da loja e não desgrudava os olhos de casas desmoronadas, carros sendo levados pela água, bombeiros vasculhando escombros à procura de desaparecidos, quando joguei a mochila no chão e comecei a gaguejar , meio chorando, meio aos gritos:- Eu quero saber se é verdade... Uma coisa... Que me disseram... Na escola...
Ela deve ter assustado mais com o tom do que com as palavras, porque me olhou surpreendida, mas pude eé que empalidecia e se punha trêmula nos segundos que levei para completar a pergunta
- ... que eu não sou seu filho!...
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Em Busca de Mim
AdventureO dia a dia de Bruno,filho caçula :escola particular,amigos,skate,pebolim,microcomputador. Boas roupas, rica e farta alimentação, carinho dos pai e irmãos mais velhos. Férias,divertimento,despreocupação. Sem tensão,a certeza de um grande futuro. "-V...