Capítulo 38

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Olhei para a entrada daquele rancho e tudo o que pude fazer foi soltar um grande suspiro de alivio e satisfação, pelo que podia ser a primeira vez em dias. O resto da minha semana tinha sido basicamente uma merda. No colégio tinha que enfrentar olhares curiosos e cochichos, devido a notícia da minha briga com Raymond que tinha se espalhado. Vitória parecia muito satisfeita quando passava por mim, sempre com um sorriso debochado e talvez com aquela sensação que seu próprio nome ditava, vitória. Desde a noite da ligação eu e Pietro não tínhamos mais conversado, exceto quando precisávamos falar sobre nosso trabalho, o que foi tratado através de mensagem. Presenciei a bronca que meus pais deram no meu irmão e eu mesma não me salvei de levar uma quando ficaram sabendo que eu tinha me envolvido. Meu pai estava em seu pior humor, o que resultou que eu não conseguisse segurar minha língua quando ele passou do limite, mesmo minha mãe suplicando pelo olhar para que eu não falasse nada. Eu não podia evitar, eu era apenas a filha dele, mas sentia a necessidade de colocá-lo no devido lugar quando estava errado.

Ele era sensato em alguns momentos, mas em outros deixava até mesmo de enxergar os seus próprios erros. Para aplacar os ânimos, minha mãe tinha me deixado vir nesta viagem, achando que talvez um tempo ao ar livre pudesse me acalmar. Eu não iria negar que andava tão estressada esses dias que o mínimo olhar curioso das pessoas fazia com que eu fervesse. Eu era calma e controlada, mas havia uma parte de mim, um traço da minha personalidade que ficava bem escondida, que era cheia de uma fúria que as vezes eu própria não entendia, mas fazia todo o esforço que podia para controlar, mesmo que as vezes não conseguisse. Eu odiava perder o controle, mas tinha momentos que eu simplesmente não conseguia me controlar. Esses momentos geralmente eram quando meus sentimentos reprimidos vinham à tona.

Recostei em meu carro e enquanto o pessoal batia papo, fiquei admirando o lugar onde estávamos. O rancho era realmente enorme, a entrada lateada por árvores altas floridas de diversas cores, cercas brancas muito bem feitas e uma imensidão de verde de uma grama muito bem aparada na parte que circundava a casa, ou melhor dizendo, o enorme chalé. Uma estrada de terra levava rumo a árvores mais densas e onde era o estacionamento, um grande espaço de concreto que era feito especialmente para muitos hóspedes e que garantia que todos os carros ficassem na sombra e com uma cobertura adequada. Pelo pouco que eu podia ver, o chalé tinha três andares e era imenso, todo feito de pedras e madeira em um estilo antigo, talvez preservando a antiga arquitetura da casa. Havia uma pequena varanda com cadeiras de balanço, uma mesa e algumas cadeiras estofadas, alguns vasos de flores e uma porta dupla de madeira escura. Os andares superiores possuíam grandes janelas que com todo certeza davam uma vista maravilhosa dos arredores.

Pelo que eu tinha ouvido mais cedo, na parte de trás havia uma piscina com direito a um bar bem ao lado, fora um haras que ficava mais ao fundo da propriedade, trilhas que levavam a alguns lagos, um campo de futebol e um de beisebol, uma quadra de basquete, tinha uma parede de escalada e até mesmo um lugar onde eles praticavam rapel. Normalmente não teríamos dinheiro para pagar por um local daquele, mas o pessoal do comitê de formatura tinha batido um bom papo com os donos do rancho e conseguido um bom desconto ao fechar o pacote de final de semana. O lugar era maravilhoso, não me admirava que fosse tão caro ficar por ali, a vista era incrível e com toda certeza qualquer valor valeria a pena. Levando em consideração que eu só tinha visto a frente e o estacionamento, já podia dizer que o lugar ganhava pontos só pela primeira impressão.

—Aqui é muito bonito. – falei. – E calmo.

Os pássaros cantavam felizes e eu podia ouvir os ruídos da floresta perfeitamente.

—Sim. – falou Sol encostando ao meu lado. – Só de estar aqui parece que uns dez quilos foram tirados de mim.

Marisol tinha vindo comigo no meu carro e Alexandra viria com Christopher e, como tínhamos saído mais cedo já que nossas malas já estavam prontas antes de irmos pro colégio, tínhamos chegado antes deles. A maioria do pessoal ia chegando aos poucos em duas ou três pessoas cada carro, todos empolgados com a expectativa do final de semana, que parecia crescer ainda mais quando olhávamos para a grande casa e os arredores.

Meu Último Suspiro - O início - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora