Acordei com um solavanco.
O salto foi tão súbito, que cheguei a bater a cabeça no banco. Abri meus olhos ainda tonta, percebendo que estava em um carro. O motorista, uniformizado, dirigia tranquilamente. Então nada havia acontecido. Nenhuma enfermeira chamada Sarah havia me contado coisas malucas sobre minha mãe, ninguém batera minha cabeça na soleira da porta e eu também não havia sido carregada. Suspirei, aliviada, me ajeitando no banco.
- Desculpe por dormir novamente, Olívio. Juro que tentei dormir cedo, mas acho que tenho um grave problema de insônia. - falei, conferindo meu uniforme escolar para ver se estava amassado.
Porém, quando virei novamente para a frente, o rosto que vi pelo espelho retrovisor não era aquele enrugado e rechonchudo de Olívio. Era um homem magro, inexpressivo, e com olhos pequenos enterrados no rosto.
- Quem é você? - perguntei, enrijecendo lentamente.
O homem, então, suspirou e pisou no freio. Fui jogada para frente, de encontro com o banco do motorista. Bati a cabeça outra vez, bem na área atingida antes, que já estava dolorida. Quando a machuquei novamente, o ferimento piorou. Porém, estava tão tonta que não consegui fazer nada.
×××
- Vamos! - alguém me arrancou da inconsciência.
Fui posta de pé, ao lado do carro. Já estava escuro, com apenas algumas últimas faixas de laranja no horizonte. Meu Deus... nós viajamos por um dia. Qual será a distância que estou de casa?
- Vire-se e siga pela trilha. - o homem, com o rosto frio, apontou uma pequena trilha de terra entre as árvores frondosas.
Aliás, tudo ao redor do asfalto era floresta, e eu podia ver onde a estrada verdadeira terminava: muros altos de pedra, muito distantes. O homem me empurrou com grosseria, fazendo-me cambalear sobre as britas.
- Eu não tenho o dia todo! - ele estava impaciente.
Olhei ao redor uma última vez, tentando decorar tudo aquilo (e procurar algum reconhecimento da região), e dei o primeiro passo. A escuridão aumentou levemente, com a minúscula luz do sol sendo filtrada pelas copas das árvores. O motorista continuava atrás de mim, sem realmente prestar atenção ao que eu fazia. Quando uns cinco minutos se passaram, aproveitei a brecha. Me virei bruscamente e chutei-o com tudo, bem naquele lugar.
- Ai!!! - ele caiu no chão, se contorcendo.
- Maldito! - gritei, e em seguida corri.
Me enfiei por entre as árvores, arranhando a pele e possivelmente rasgando a roupa. Mas eu não ia parar. Encontrei outra trilha de terra, e segui por ela, ainda correndo.
- Ei! Volte aqui! - de repente, ouvi a voz do homem me perseguindo.
Apertei o passo, sentindo meus pulmões arderem de tanto que corria.
Então, bati contra uma superfície sólida. Era o muro de pedra da casa que eu havia visto no final da rua. Olhei ao redor, mas as árvores se fechavam ainda mais. Sem saída!!!
- Achei você. - o homem agarrou meu braço.
Seu punho fechou-se como ferro, e ele me arrancou dali. Achei que fosse me matar nessa hora, mas não. Logo após arrasar minha tentativa de liberdade, ele simplesmente me arrastou pela floresta, andando de um jeito estranho.
- Pra onde você está me levando?! - gritei, tentando me soltar.
- Cale a boca, vadia! - ele cobriu minha boca, ainda andando - você vai mesmo complicar isto aqui?
Mordi sua mão.
- Vaca. - murmurou, mas mesmo assim não me soltou - escute aqui: este lugar, não é um lugar de onde você simplesmente pode fugir se me abater. Não importa o quanto corra; eles sempre vão estar lá.
Eles quem?! Eu queria gritar. Não importava o quanto me debatesse, o aperto do homem só ia se fechando mais.
Ele me arrastou pela extensão do muro de pedras, segurando meus braços nas costas e cobrindo minha boca. Em determinado momento, paramos na frente de um portão de ferro, e ele grudou meu rosto nas grades frias.
- Fique quieta. - um barulho de bip. - sou eu. Seal. Abram.
Então, com outro estalo, os portões, que pareciam tão antigos, abriram-se. O homem me empurrou para dentro. Ah, não. Agora estou mais presa ainda. Me debati com fúria. Chutei o homem três vezes.
- Ai! - ele falou, assim que lhe dei uma cotovelada.
Eu teria gritado por ajuda se pudesse, mas minha boca continuava coberta. Me debati, chutei, estapeei o máximo que podia... mas isto não equivalia à nada. De repente, o homem parou.
- Senhorita. - curvou-se.
Nessa hora, foi que levantei a cabeça. E gelei. A menina de olhos azuis estava ali, me encarando fixamente.
- Seja bem-vinda à Sociedade Porcelana. - sua voz era como gotas de mel fervendo ao cair na pele. Linda e dolorida.
Parei de me mexer. Não conseguia mais nem pensar em gritar. A aparência da menina estava mais surreal ainda. Seus olhos azuis estavam imensos no rosto pálido, branco como cera. Os cabelos lisos e curtos paravam na metade do pescoço, como uma cortina desbotada. Suas íris gélidas estavam translúcidas. E ela usava o vestido mais lindo que eu já tinha visto, feito de cetim azul para combinar com seus olhos. Era como uma... bambola.
- Como ela está, Seal? - a menina perguntou, sem real preocupação - comportou-se ao vir até aqui?
O motorista bufou.
- Claro, comportou-se. Comportou-se como um animal. - ele fez uma careta de dor, ainda dolorido pelos meus manifestos.
- Suponho que precisemos mudar isto. - ela se virou, tão brusca quando havia aparecido em minha frente - vamos, pode soltá-la. Está na hora das apresentações.
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Oi gente. Sinto muito pela demora para postar, mas hoje haverão dois caps, prometo.Bjsss, aproveitem a história!!!
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Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)
Fantasy☆Sociedade Porcelana - Livro 1☆ "Pareciam bonecos em uma estante. Seus rostos, tão lindos, não tinham emoção alguma. Suas peles, tão brancas e sem marcas, pareciam porcelana. Seus olhos, tão multicoloridos, pareciam pingos de cor em uma tela vazia...