Visitante Noturno

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A paralisia do sono é algo que me aflige em todas as minhas noites de sono. Sabe aquela sensação de acordar sua mente antes do seu corpo? Sentir-se despertar, mas não conseguir mover um dedo? É isso o que sinto praticamente todas as noites. Quando meu sono atinge a fase R.E.M,  meu cérebro desperta e os meus olhos se abrem em um ímpeto, como se fosse uma necessidade acordar e vislumbrar o panorama do meu quarto.

Para ajudar, meus sonhos não são encantadores ou tranquilos. Nas poucas vezes que consigo dormir sem ter um ataque de paralisia o que vejo neles me faz sentir vontade de acordar de imediato. Talvez seja esse o motivo pelo qual a paralisia me afete desde criança. Talvez tenha alguma relação com o que aconteceu com a minha família. Mas não posso afirmar ao certo.

Nenhuma consulta médica trouxe grandes melhoras para o meu estado. Quando perguntava sobre a possível causa do meu transtorno a resposta sempre era a mesma, os médicos sempre diziam que era culpa do estresse, que eu deveria mudar meu estilo de vida, entretanto, nenhum deles nunca me questionou sobre qual era o meu estilo de vida.

Às vezes me sinto tendo duas vidas que se desenrolam em paralelo. Uma diurna, aonde vivo da minha escrita, trabalhando em casa, sempre com meu cachorro roçando meus pés, e a outra, a noturna, aonde o medo e o pânico me fazem dormir muito pouco ou quase nada.

Hoje é um dia em que apenas observo a caixinha de Alprazolam ao lado do abajur. Não sinto necessidade de tomar o remédio para dormir. Sinto meu corpo extremamente cansado, embora a minha mente ainda esteja ativa. Acho que isso se deve ao fato de eu ter dormido menos de 3 horas na noite anterior.

Meu armário fica ao lado da minha cama e ele possui um espelho enorme. Viro-me de lado e me observo por um instante. Percebo que tenho a mesma mania que o meu pai em dormir com um travesseiro no meio das pernas e com as mãos unidas. Ele sempre dormiu assim, até o dia em que dormiu e não acordou mais.

Eu tento evitar esse tipo de pensamento antes de dormir, mas às vezes é inevitável. Não consigo apagar da memória o que aconteceu há 16 anos. Nem com todos os remédios do mundo eu conseguiria esquecer, já que fui a testemunha ocular do assassinato do meu pai.

Tento afastar o pensamento. Desligo o abajur, tentando com isso desligar a minha mente, mas é impossível. Viro-me novamente na mesma posição, de frente para o espelho e começo a contar os quadrados desenhados na cortina da janela que está atrás de mim. Seu reflexo no espelho me indica que o vento está forte lá fora, já que vejo sombras de galhos se mexendo através do pano.

Um amigo meu uma vez me disse que a melhor maneira para conseguir dormir rápido é contar carneirinhos. Eu pensei que ele estivesse brincando comigo, até que pus a teste o conselho. Não contei carneirinhos, mas sim os quadrados desenhados na cortina ao lado da cama e deu certo, dormi antes de chegar aos 100. Então, quando não quero me deixar levar pelo uso de remédio para dormir, me deito na mesma posição que meu pai dormia e começo a contar.

A sonolência começa a surgir quando estou na metade da contagem dos quadrados da cortina. O véu da inconsciência se deita sobre mim e começo a sonhar com o dia em que meu pai foi assassinado pela minha mãe.

Esse é de longe o pior sonho, porque hoje me encontro não como espectador, mas sim como parte atuante. Deito junto ao meu  pai na cama, nós dois deitados de frente um para o outro. No sonho volto a ter 10 anos de idade e assim que ele pega no sono já me preparo para o que vem a seguir. Minha mãe entra no quarto, empunhando uma faca nas mãos. Meu pai está com os olhos fechados, dormindo tranquilamente.

Minha mãe  está usando um vestido branco todo sujo e molhado. Anos depois fiquei sabendo que ela havia se aproveitado do mal tempo e da queda de energia da clínica para fugir. Percebo que a mão que segura a faca está trêmula. Ela sussurra algo que até hoje não consegui compreender.

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⏰ Última atualização: Sep 07, 2018 ⏰

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