Conversamos com uma assassina (Finnie)

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Hanna no gif

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O PALÁCIO, ONDE QUINO MORAVA, era ainda mais fascinante visto por dentro: o chão espelhado refletia a nossa imagem, o que era um tanto inoportuno para as meninas de saia; inúmeros candelabros podiam ser vistos empoleirados em prateleiras, e enviavam uma iluminação tênue e vacilante; haviam estantes amarelas opacas, com livros perfeitamente alinhados; estátuas de vidro se encontravam em todo o canto - esculturas de pessoas em diferentes situações: ora lendo um livro, ora cochilando sentada, ora cozinhando... era genuíno. Quino limpou a poeira do topo da cabeça de uma dessas estátuas, a de uma senhora tricotando, e disse que era a avó dele, Melie.

- Minha família tem umas tradições estranhas. - comentava ele, enquanto nos guiava pelos corredores obscuros - Desde que foram eleitos rei e rainha, decidiram esculpir os membros da família em vidro. É uma coisa esquisita, e vidro é um material meio incomum. Eles são doidos, isso sim...

Quino fez uma careta ao passar por uma porta de metal, e então apenas sacudiu a cabeça, agitando seus cachinhos.

- Isso é bem bizarro - comentou Phill, deslizando os dedos distraidamente pelo braço de uma estátua.

- Bizarro? - repetiu Quino, com uma nota de deboche. Havíamos, agora, chegado ao fim do corredor e estávamos defronte a portas duplas magnificamente decoradas com espirais prateadas - Isso é um elogio perto do que essa família é. Sabe outros costumes deles? Não me deixam ultrapassar uma porta especial. Tratam assuntos idiotas como tabu. Não me deixam sair. Fizeram uma tatuagem estúpida na minha barriga, quando eu era um bebê. E o pior de tudo...

Ao dizer isso, Quino encostou as palmas das mãos uma em cada porta e as empurrou ao mesmo tempo, revelando uma sala muito mais ampla do que todas as outras em que estivemos no castelo. No centro, havia uma mesa de jantar com todo o tipo de comida possível e, apesar de ser uma mesa comprida, apenas quatro pessoas comiam - uma mulher bela de faiscantes olhos azuis, um homem alto muito elegante, uma idosa com os cabelos repuxados para trás e um moço magro e rijo. Não era muito difícil deduzir quem eram o rei e a rainha dali, já que ambos exalavam uma soberania incomum; mesmo assim, era impossível não notar o imenso pesar que os quatro traziam enquanto comiam silenciosamente.

- Quem morreu? - disparou Stiven, de modo frio.

Quino virou-se para nós, e trazia o mesmo olhar entediado que ele usara com a tal da "Problema".

- Não interessa, ok? - retrucou - Isso é mais um costume estranho dos meus queridos pais. O Dia da Estrela. É o dia em que eu obrigatoriamente fico de luto e finjo tristeza para não decepcionar minha mãe e a Dona Tuna. - ele tornou a nos dar as costas e caminhar na direção da mesa; seus passos ecoando pela sala gigantesca - É sobre uma irmã que eu não conheci. "O dia em que uma estrela parou de brilhar", essas babaquices que eu jamais vou entender.

Foi inevitável perceber o quão diferente Quino estava; ele parecia aborrecido e fora de lugar, como se sua própria casa fosse o único lugar onde ele não queria estar. O Quino não era apenas um príncipe. Ele era um hippie, também; alguém que queria conhecer todas as Terras até o quinze anos. Ele tinha objetivo, e ficar em casa não o ajudava.

Me lembrei de quando o conheci, na floresta de Jhung. Ele era tão abusado e debochado que tanto o Phill, quanto a Hanna, eram loucos para matá-lo sufocado ou incinerado. Eu mesma já quis fazer isso. E agora ele só parecia chateado e sem disposição nenhuma para fazer piadinhas ou ser sarcástico; eu sentia que tinha que levá-lo comigo.

Quando a rainha nos viu, ela pacientemente se levantou, circundou a mesa e veio até nós. Seu vestido, apesar de longo e volumoso, era simples; apenas um azul perolado que dava destaque aos cabelos louros encaracolados, que invadiam-lhe o decote.

Missão Secreta - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora