Cap. 5: Promessas

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Acordei com alguém sacudindo meus ombros. Assim que abri os olhos, pude perceber a luz noturna.

- Acorde, menina. - uma garota, não muito mais velha do que eu, falou. Ela estava abaixada ao meu lado, sobre o tapete - você tem um compromisso esta noite.

Subitamente, recordei de onde estava, e me sentei ereta.

- Que compromisso? - perguntei, tentando piscar mais uma vez para ver se era real.

- A iniciação, bambola. - sua voz soava pesarosa.

Observei-a atentamente. Ela tinha cabelos loiros compridos, praticamente na altura da cintura, em uma mistura de tons acastanhados e dourados. Seus olhos, levemente verdes, contrastavam contra o vestido verde-água. Mas ela era normal, não pálida ou fria. Eu conseguia enxergar os dois círculos corados em sua bochechas.

- Você não é uma integrante, é? - perguntei, curiosa.

- Não, sou apenas uma funcionária. - ela respondeu, encarando o chão.

Queria perguntar o que levava alguém a trabalhar em um lugar assim, como ela havia ido parar ali. Porém, tudo o que perguntei foi:

- Qual o seu nome?

Ela me olhou de volta, surpresa.

- É Bianca. - sua voz ressaltava o sotaque italiano da palavra.

Suspirando, assenti. Me levantei do tapete, tentando desamassar ao menos um pouco da saia do uniforme. Então, fazendo isto, me lembrei de algo.

- Eu vou poder ir para a escola, não vou? - temia a resposta.

Bianca, mais vermelha ainda, apenas negou com a cabeça. Murchei, assustada.

- Como assim?! Eu preciso estudar! - acho que minha voz acabou elevando-se um pouco demais.

- Eu não sei, bambola. Talvez deixem... você terá que perguntar. - ela balançou a cabeça, mudando de assunto - mas agora precisa se apressar. Sugiro que não comente mais questões assim.

Abri a boca, pensei em responder, mas a fechei novamente. Infeliz, deixei com que Bianca me arrastasse pelo quarto.

O cômodo era pequeno porém luxuoso. Contava com uma cama de casal, com edredons bordados em seda; com uma escrivaninha de mogno e uma cadeira de rodinhas; com uma mesa de cabeceira e um abajur estranhamente infantil; e, por fim, com um armário grande de portas dúplas e um banheiro particular.

O silêncio tornou-se pesado, enquanto a empregada abria a porta do banheiro. Lá dentro era frio, os azulejos branco-pérola.

- Tome um banho. - foi tudo o que Bianca disse.

Ela saiu e fechou a porta, deixando-me sozinha novamente. Neste momento, enterrei a cabeça nas mãos, controlando a vontade de chorar pela segunda vez. Acalme-se, Alessa. Você tem que ficar tranquila, aguentar calada e achar um jeito de sair daqui. Só então você verá papai novamente... se é que ele pretende vê-la. Balançei a cabeça, afastando os maus pensamentos.

Comecei desabotoando a blusa branca, tirando a saia xadrez e pondo de lado as sapatilhas imundas. Desamarrei meu cabelo, deixando os fios leves caírem sobre os ombros. Em seguida, andei até o box verde do chuveiro, feito de um vidro trabalhado em flores. Liguei a água, toquei de leve e conferi a temperatura. Quando ficou morna, me enfiei de cabeça.

A água parecia reavivar meus músculos doloridos, devido ao tempo que passei estirada no chão. Lavei o cabelo, aplicando o shampoo de orquídeas que encontrei por ali. Massageei o couro cabeludo com as pontas dos dedos, porque minha cabeça doía de confusão. Talvez, seu eu lavasse direito, pudesse me livrar das coisas ruins. Assim que terminei de me enxaguar, fechei o chuveiro e saí, pingando, para me secar com uma toalha felpuda. Várias delas estavam dobradas em uma grande pilha, que emergia de uma cesta de palha. Neste momento, olhei em volta. O banheiro era simples também, grandinho e arrumado. Um balcão com a pia, feito de mogno, posicionava-se ao lado da privada. No balcão, eram visíveis, dentro da portinha de vidro, todos os materiais de higiene dos quais precisaria. Parecia tudo tão perfeitamente planejado para a minha chegada, que tornava-se assustador.

Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora