Deixe para Amanhã o que não se pode fazer Hoje

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2 h e 10 ... 2 h e 20 min, 2 h e 30 min... assim a minha noite foi passando. Minha mente não desligava, meus olhos fixos na estrada, minhas mãos grudadas no volante. O trânsito estava bem tranquilo, poucas pessoas em sã consciência estavam na ativa nesse horário. Virei à esquerda depois do cruzamento, a residência que eu procurava estava a poucos metros. A garota de longos cabelos loiros estava adormecida ao meu lado presa pelo cinto de segurança, seu peito subia e descia suavemente... quem a via assim podia até confundi-la com um anjo, mas nós dois sabíamos que sua verdadeira natureza estava bem longe disso.

Cheguei a casa, estava tudo no mais completo silêncio. Abri a porta do meu lado, dei à volta e logo após abrir a porta do lado direito a retirei de dentro do veículo. Ela não era tão pesada, o que tornou razoavelmente fácil levá-la até seu quarto. Como sempre a janela da sala estava aberta, só precisei forçar um pouco para conseguir acesso à casa, estando dentro só precisei subir as escadas. Coloquei-a na cama, tirei suas sandálias e pus um cobertor sobre seu corpo. Quando me virei para ir embora ela segurou meu braço. Sua voz possuíam tantos traços de embriaguez quanto sonolência.

- Fica comigo?

- Eu não posso...

- Por que?

- É complicado... durma bem.

Dei um beijo em sua testa, ela fechou os olhos e adormeceu novamente me libertando de sua mão. Refiz meus passos na intenção de sair da casa. Tentei ser o mais silencioso possível... não seria nada agradável para os Fontenelli dar de cara com uma visita que não teve permissão para entrar em sua propriedade, no meio da noite. 

Já dentro do meu carro dei a partida e segui aleatoriamente pelas ruas. Quando dei por mim estava lá em frente aquele prédio novamente. Preciso parar com isso... Afastei os pensamentos e continuei meu caminho. Logo eu já estava na estrada que levava para fora da cidade. Eu não queria ir para casa ainda... se bem que meus pais não estavam lá, só chegariam lá pelas 14 hrs. Eu ainda tinha um bom tempo até que amanhecesse. 

Peguei um atalho e adentrei sem rumo pela faixa contínua de terra até chegar ao fim da linha. À minha frente havia uma gigantesca cratera causada pelos fenômenos climáticos e a ação do tempo. Saí do automóvel, liguei o rádio e deixei a porta aberta. 

 "Take a look around, this is what I see...Is there anybody else that feels like me, yeah... "

"Dê uma olhada à sua volta, isso é o que eu vejo... Tem alguém mais que se sinta como eu, yeah..."  

 Peguei a sacola no banco dos passageiros e fiquei ali sentado no chão recostado no para-choque frontal. O céu acima de mim era um misto de roxo e azul escuro, as estrelas sem todas as luzes da cidade pareciam tão próximas que até poderia tocá-las com a ponta dos dedos... 

"...I'm complicated, I get frustrated... Right or wrong, love or hate it ..."

"...Sou complicado, fico frustrado... Certo ou errado, ame ou odeie..."  

Entre um gole e outro de cerveja eu observava aquele cânion feito de rochas, terra e gramíneas. Tamborilava com os dedos marcando o ritmo da música em minha coxa.  

 "...I heard that song but I won't play it ..."  

"... Eu ouço aquele som mas não vou tocá-lo..."

...vícios...

 O vento frio soprava fazendo com que o vazio daquele lugar viesse de encontro ao vazio que havia dentro de mim. 

   "... You watch your whole life pass you by... Sometimes you've got to close your eyes to see..." ⒃

"...Você vê sua vida passando por você... Às vezes você tem que fechar seus olhos para ver..." 

Convergindo (Em Construção)Onde histórias criam vida. Descubra agora