Só vim matar um

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-So'vim matar um!

Disse o estranho,mal pisou na cidade.

-Veio matar quem?

Todos se espantaram,sem saber quem o havia contratado.

Coronel Helio,o prefeito,logo achou ser ele a vitima!e todos pensaram ser ele o mandante,e seus inimigos trataram de fugir...

No único jornal,patrocinado pelo governo na frente,e pela oposição no verso,as acusaçoes ja'se faziam,e o delegado,Manuel,sabedor da confusão,tratou de trazer o tipo,para desvendar o caso.

Que no sertão,onde se fazia politica de macho,as mortes eram feitas as claras,para facilitar a vingança!

Por isso,era tao suspeito aquele homem,vindo do nada,sem se saber para que...

Avisado da sua prisão,desceu o coronel para interroga-lo,dizendo ao secretario:

-Diga para meu filho nos encontrar la'!e' uma chance de aparecer para o povo...

Carregou o revolver,e foi ate' a delegacia,onde o dr.Manuel tentava puxar assunto com o matador:

-Vai uma branquinha?

-não,obrigado..

"Então não veio provar nossa bebida!"

Ficou mais desconfiado e arriscou

-Nem um torresminho?

-Não!so' vim matar um!

O policial caiu para trás

"Que ideia fixa!parece maluco!"

Ja' começava a teme-lo,quando chegou o coronel,ja' curioso:

-E o homem?como esta'?

-Segue repetindo que vai matar alguém...

-E voce traz um traste destes para ca'?

O velho perdeu as estribeiras

-Achei que era um dos nossos!

O delegado se desculpou

-Pois jamais contratei este tipo...Ja'pensou que podia ter te matado?

-Oportunidade ele teve...

Mas so' se apresentou,repetindo essa ladainha...

Os dois encararam o jagunço:chapéu de couro virado,repetição na mão,dois cordoes de bala cruzando o peito,cheio de marcas de faca.

-O que o cabra quer nestas bandas?

O coronel lhe inquiriu

-So' vim matar um!

Os olhos do assassino flamejaram

-Crime de honra!

-E posso saber o motivo?

O velho não se amedrontou

-Motivo de honra...

A sentença seca lhe empalideceu,e foi a vez do delegado se irritar:

-E o senhor pensa que e' assim?vai chegando num lugar,faz justiça com as próprias mãos...

-Não penso nada,vim apenas executar o serviço...

-E quem o contratou?

O prefeito pensou nos seus inimigos

-Isto não falo,seu doutor...

O cangaceiro sorriu

"Esta segurança não e' normal num matuto...Deve estar a mando do governador,ou ate' do presidente,que são da oposição!"

Pela primeira vez,o politico se viu ameaçado,e não suportou mais ficar ao lado do facínora,e começou a suar,vendo a casa encher de gente,atraida pelo boato,crianças,o padre,e a primeira dama:

-Que diabo e' isso,Helio?

A esposa se inquietou

-E' um matador,que diz vir apagar um de nos...

-Como e'?

O assombro foi tal,que todos se arrepiaram,lembrando os malfeitos,agora que a morte viera lhes visitar...

-O senhor não tera' errado de lugar?

O padre se esperançou

-Esta cidade,esta hora,e com esta espingarda...

O pistoleiro apontou a arma.

-Suspeita de alguém,padre?

o delegado se animou,afinal ele conhecia os podres da vila!

-Mais fácil dizer quem não tem culpa...

O pobre sentou desanimado

-Ele e' da oposição ou da situação?

A primeira dama quis saber

-Talvez seja um motivo passional,quem sabe?

Alguns sonhavam ver os inimigos mortos,mas o escolhido ja' estaria entre eles?

-A sua vitima ja'chegou?

O coronel voltou a encara-lo

-Se estivesse,ja' teria atirado...

Todos desanimaram,e a noite desceu,enquanto esperavam ele lançar sua foice,sedenta de sangue...

Seu rosto pareceu transmutar-se,e assumir as feiçoes da grande visitadora,seu capuz,sua pressa em cumprir sua missão...

Então,quando a escuridão começava a engolir as almas,uma porta se abriu,

e o filho do prefeito surgiu,se espantando com a figura do cangaceiro:

"Meu Deus!não pode ser ele!"

Lembrou do seu amor por Rita,uma menina brejeira,que aparecera morta,sendo ele acusado,e salvo da prisão,pelo prestigio do pai...Desconfiava-se que ela se suicidara,e também de um caboclo,que fora rejeitado pela jovem,dizia por ser pobre,e que sumira misteriosamente...

-Quem voce veio matar,desgraçado?

Segurou seu rosto com fúria

-O culpado de tudo!

O bandido se ergueu e fez mira

-Foi a alma dela que me trouxe aqui,para fazer justiça a sua historia,ter enfim paz...Preciso unir na morte,os que foram separados em vida!

-Por favor,não mate meu filho!

A mãe se ergueu,mas o homem ja' engatilhara a arma

-Vim matar o culpado de tudo,não carregar mais este fardo maldito!

Sacou a carabina e disparou contra o peito,caindo fulminado

Todos atõnitos,mal respiravam,recolhendo as cinzas que o infeliz ser deixara, na tenebrosa visita que a morte lhes fizera...

Fim

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⏰ Last updated: Nov 19, 2016 ⏰

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