Nina adentra ao carro silenciosamente e põe o cinto com calma. Ela retira seu celular da sua bolsa e digita uma mensagem para alguém que não consigo prestar atenção. Então ajeita seus óculos em seu rosto e põe seu cabelo atrás da orelha. As longas madeixas se esparramam sobre os ombros.
— Onde quer ir primeiro? — Pergunto enquanto ligo o carro.
Ela dá os ombros, indiferente.
— Prefere ir à livraria primeiro? — Tento uma conversa.
Ela assente e olha para mim com seus grandes olhos verdes.
— Você está triste? — Insisto em perguntar.
Ela abaixa a cabeça e olha para as suas mãos. Quando ela nega, não consigo sentir firmeza. Ela está triste.
— Você está feliz? — Pressuponho quando tomo a estrada.
Quando ela também nega ao balançar a cabeça, sua sinceridade me surpreende. Ela ainda não olha para mim.
— Não sabe como se sente? — Pisco os olhos freneticamente.
Ela nega novamente. Eu creio que esta seja a resposta objetiva mais sincera que me foi dada hoje. Ela aparenta estar confusa.
— Rádio? — Ela diz com a voz trêmula.
— Claro. — Sorrio. Ela disse algo diferente dessa vez.Ela se inclina para frente, para ligar o rádio e está tocando Ho Hey, dos The Lumineers. Ela cantarola quase inaudível de maneira adorável, batendo com as unhas curtas de esmalte preto desgastado contra o painel.Ela tem um gosto bom para música, se posso concluí-lo até agora.
— Você gosta bastante de música, não é? É uma boa escapatória do mundo. — Digo enquanto ela se inclina para frente pra aumentar o rádio, na forma de mostrar que não quer conversar.Nina anui levemente e abre um pequeno sorriso. Troca de rádio quando a música acaba, e põe em uma rádio que toca uma música antiga, a qual não consigo identificar bem qual é, mesmo que a conheça. Boa, ela tem um ótimo gosto musical.
Eu realmente gostaria que ela conseguisse falar, pois eu amaria ter uma conversa com ela.
— Para! — Ela grita, quando estamos no meio da estrada. — Ali. — Ela ponta para um gato no meio do caminho da estrada. Por que tem um gato no meio do caminho na floresta?
De qualquer forma, eu iria atropelá-lo. Por sorte, ela o viu.
Nina sai do carro e corre até o pequeno gato cinza de grandes olhos verdes como os dela. Ela acaricia seu pelo carinhosamente com aquele maravilhoso sorriso em seu belo rosto. Ela retira seu caraco e enrola o gatinho no mesmo; Caminha até o canto da estrada, onde há uma caixa de papelão molhada, mesmo que ainda de pé, que deve ser onde ele estava. De lá, ela retira outro gatinho parecido com o outro, porém, com o pelo preto. Nina põe ambos dentro do seu casaco e corre de volta para o carro.Ela põe ambos sobre seu colo. Seus olhos estão tão arregalados e brilhantes. Os gatos parecem gostar dela enquanto eles se esfregam em sua mão.
— Eles são fofos. — Ela diz ao abrir aquele lindo sorriso que ela tem. Diz para si mesma.
Uma frase, Adam. Uma frase.
— Você está falando. — Agora tenho certeza que são meus olhos que estão brilhando.
Ela desvia seu olhar para mim e pisca seus grandes olhos freneticamente. Nina sorri sem mostrar os dentes e liga o rádio novamente, ignorando minhas palavras.
Enquanto ela se encantava com os gatos, eu me encantava com ela. Parecia uma cena tão pura e não inocente, que eu tinha medo de bater o carro, por quase não conseguir tirar meus olhos.
— Podemos levar para casa. Meu tio adora animais. — Sugiro enquanto dirijo o carro.
Ela olha para mim boquiaberta, com um semblante de pura felicidade como se isso fosse a coisa mais importante e especial do mundo, quando não é nada demais.
— Gostou da ideia? — Sorrio, ficando feliz pela sua reação de mais singela felicidade.
Nina anui com um sorriso de orelha a orelha.
Puta que pariu.
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O Silêncio Entre Nós
RomantizmHISTÓRIA EM EDIÇÃO | LEIA A INTRODUÇÃO Após a morte do pai de Nina Davis, ela desenvolve uma fobia social que a impossibilita de se comunicar com as pessoas de maneira direta, além de uma depressão severa que a mantém à margem do mundo, sempre tranc...