Parte 1: A Bad

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  Lupércio estava numa 'bad' de dar dó, numa depressão de dar pena.Havia terminado com a namorada, ou melhor dizendo (não seria "pior"?),ela que terminou com ele. Por isso, nas últimas semanas Lupércio não viviamais, apenas funcionava no automático. Mal comia, mal dormia, ia somentede casa para o trabalho, do trabalho pra casa, mal falava, nem conversava,evitava ao máximo amigos, colegas e até a própria mãe, não cumprimentavamais os vizinhos, nem o porteiro. Ficou desleixado, deixou de barbear-se,logo ele que nunca deixava a barba crescer, raspava dia sim, dia também.Não se importava mais com as roupas, se estavam limpas e bem passadas,ou não. Deixava a camisa para fora da calça, abotoava tudo errado. Sua casaestava um caos, roupas jogadas por todo lado, nada estava no devido lugar, apoeira se acumulava nos móveis, as janelas não eram mais abertas, afaxineira foi dispensada. Só uma gaveta na cômoda do quarto estavaorganizada, com algumas coisas que a ex tinha deixado por lá. Um livro deDan Brown, um disco Blu-Ray do filme "Meia-noite em Paris", uns CDs...ainda alimentava a esperança de que ela viesse buscar as suas coisas.Lá pela sexta, ou sétima semana de foca, seu melhor amigo já começavaa ficar realmente preocupado. Nem perdeu tempo tentando ligar, sabia queseria ignorado, se é que o rapaz já não tinha bloqueado o seu número.Chegou de surpresa na casa do amigo e foi logo batendo na porta. Conheciaohá muito tempo, desde o ensino fundamental, conhecia bem os seushábitos, principalmente quando ficava deprê. Bateu mais uma vez na porta.Ouviu a fechadura ser destrancada. A porta escancarou-se, Lupércioapareceu na soleira, com um sorriso largo, cheio de esperança, que sedesvaneceu em segundos e fechou-se, dando lugar a uma decepção triste ecansada. "Ah, é tu, Vini...", disse, desanimado, segurando a porta. "O que tuquer?"-- Quero saber como é que tatu, véi! Faz mais de mês que ela terminoucontigo e tu ainda tá aí, zumbizando e se escondendo da galera.-- Mano, eu não to bem, não... me deixa... – disse Lupércio, com umsuspiro triste.-- Deixo, não, por isto que vim te buscar pra sair. Vamos beber unschopes, conversar, tu desabafa... -- Véi, não to afim – disse Lupércio, com um ar cansado, fazendomenção de fechar a porta na cara do amigo, que por sua vez meteu a mão naporta, falando duramente e com firmeza:-- Não te perguntei se tu tá afim, véi, vim te dizer que tu VAI sair estanoite, sim senhor! Tu TEM que espairecer, voltar a viver!O rapaz não ofereceu mais resistência e Vini foi entrando, empurrandooaté o quarto e dizendo-- Vai, te arruma logo aí, vamos lá pra Cidade Baixa.-- Vini... – choramingou, implorando, Lupércio – eu não to bem prasair... quem sabe a gente fica conversando aqui em casa mesmo, jogandoPlaystation, pedimos uma pizza...-- Cara, não, pra quê, pra tu ficar aí de mimimi, chorando no meuombro que sente falta da Paola?! Não, vamos sair, tu já tá nessa por tempodemais, tem que desopilar o fígado. Tem que pegar umas novinhas!Lupércio apenas suspirou, mais uma vez, apenas concordando com umaceno de cabeça, fazendo o que mandava o amigo, tomou uma ducharápida, penteou mais ou menos o cabelo, se perfumou um pouco, se vestiumais ou menos arrumado, uma camisa de flanela xadrez aberta, camisa demanga curta preta lisa por baixo, calça jeans também preta e uns mocassinsazuis. Vini avaliou, torceu um pouco a boca, mas aprovou: "Tá, vai assimmesmo, bora!"   

Olhos de DevoradoraOnde histórias criam vida. Descubra agora