Conhecendo o desconhecido

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   Um erro, um simples tropeço, um livro que cai ao chão. Coisas minuciosas que passam despercebidas em nossa vida, totalmente desprezíveis ... seria, se eu não tivesse conhecido ele.
   Era uma tarde, por volta das 18h30, nesse horário a cidade de Curitiba está em total movimento, ainda mais no ápice do horário de verão, e esbarrar em alguém é algo comum quando se está com pressa. Ele deu uma leve trombada em meu ombro, de aparência proposital, que me fez fechar a cara, mas ao virar pude ver seu rosto de espanto, e ele já veio pedindo desculpas, alegando que estava distraído e acabou esbarrando em meu ombro sem perceber, abaixei pra pegar um livro meu que tinha caído, e ele se abaixou junto, literalmente um clichê de filmes americanos, isso se no momento o telefone dele não tivesse tocado. Era uma conversa meio sem sentido, não seguia uma linha de pensamento, apenas palavras e frases soltas:

   - Diga ... não, não, não vou ... não vou, eu tenho uma reunião hoje as sete horas ... ta ... ta ... não ... ta ... não, não quero mais ... não, não quero ... culpa sua, eu não fiz nada ... e eu te odeio ... tchau ... te amo.

   E olha que essa ligação durou no máximo 1 minuto, eu juro.

   Ele desligou, e eu ainda estava ali, ajoelhada recolhendo aquele livro velho de capa verde, totalmente desinteressante, com apenas uma frase na frente: Sistema Nervoso. Eu mal pude levantar e ele já veio argumentando:

   - Sistema nervoso? Medicina? Bio-medicina?

   E eu não tinha entendido se era uma pergunta ou uma sugestão, apenas queria ir para casa após um horrível dia de torturas estudantis, conhecidas como "SLIDE SHOW". Só depois de uns 5 segundos que fui entender o interesse sobre o que eu cursava, e respondi em um grito, despercebido e rápido, sem que eu tivesse tempo de hesitar e diminuir o volume da voz:

   - BIOLOGIA!

   O susto que ele levou fez ele arregalar aqueles olhos sonolentos dele, e dizer na hora:

   - Eita, calma, eu só perguntei.

   Acompanhado de uma risada no final para tirar a tensão que tinha se instalado no ar.

   Eu fiquei vermelha de vergonha, minha pele cor de leite entregava o quanto estava furiosa comigo mesmo por ter dado esse mico, mas mesmo assim retribui com um sorriso e um concedimento com a cabeça, e me virei para seguir meu caminho.

   E novamente aquela voz animada e cheia de adrenalida me chama, com um grito parecido com o que eu tinha dado:

   -Hey, biologia!

   E eu olhei pra trás. Por que fui olhar? Maior erro de minha vida.
   Voltei.
   Dei meia volta e voltei ao seu encontro, e totalmente desinteressada, mas achando graça na forma que ele me chamou, então respondi:

   - Fale, guri.

   E ele não deu nem tempo de eu terminar de falar e já veio me atropelando com sua fala:

   - Sabe o que eu acho? Que sei muito de sistema nervoso, e seria legal discutir sobre com alguém mais novo, faz tempo que não revejo uns conceitos. Por que você não me passa seu número, assim podemos trocar informações sobre.

   Eu juro, que no momento minha vontade foi de falar: " Você tem algum problema, cara?", mas ele me parecia interessado mesmo em discutir sobre, segunda vez que tocava no assunto, então não vi nenhum mal em conceder, e assim passei meu número.

   Após anotar meu número e nos apresentarmos (onde descobri que se chama Adriano), me roubou um único beijo no rosto, olhou em meu olho sorrindo e disse:

   - Okay Júlia, mais tarde então te chamo. Só espero que você saiba me ensinar sobre sistema nervoso, porque assumo que não sei nada ... mas uma coisa é certa, essa foi a forma mais fácil de conseguir o número de uma garota gata como você.

   E assim partiu. Me deixando de queixo no chão, tentando compreender o que tinha acabado de acontecer. Ficaria ansiosa até chegar em casa e conectar meu celular à uma rede de internet ... maldita ação, maldita mente, maldito livro que pulou ao chão.

O Destruidor de sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora