Ten e Farendal conversaram pelo caminho, ambos tinham opiniões semelhantes, ambos achavam ridículo que os homens fizessem guerras entre eles quando existiam inimigos comuns. E ambos partilhavam um ódio profundo por orcs. Mas, ao contrário de Tennzin, Farendal via a sua falta de entes queridos e afeto como sendo, de certa maneira, algo relativamente bom. O facto de não ter nada nem ninguém a perder, concedia-lhes um sentimento de liberdade muito superior ao dos seus compatriotas. Farendal, há muito habituado a esse estilo de vida, reconhecia essa verdade. Já Tennzin, estava cegado pela vingança, não conseguia parar para ver esse lado, nem acreditava que ele fosse positivo, apesar de também sentir aquela liberdade, no canto mais profundo da sua personalidade. Para Tennzin, essa "liberdade" era tanta, que o levava a perder-se nela, retirando qualquer significado à sua existência.
- Então tu deixaste a tua casa e os teus deveres, voluntariamente,para te dedicares a uma vida de aventura sem regras?- Perguntava Ten, tentando entender o elfo.
- Não percebo porque vêm a minha vida como má. Eu certamente não a vejo assim! Acredito que estar constantemente a ser desafiado me leva ao desenvolvimento. Ganhei muita experiência. Além disso, estou a ajudar os meus irmãos de cada vez que tiro a vida a um dos malditos orcs que me aparecem no caminho.- Respondeu Farendal.
- Não tens de te justificar.- Respondeu Ten.- Eu concordo contigo. A minha vida é muito semelhante à tua. Não te posso censurar, nada me dá mais prazer do que sentir a vida de um hediondo orc a deixar o seu corpo nojento.
A única diferença entre nós, elfo, é que eu não tenho a vida que tenho por opção.- Disse Tennzin mudando para um tom sério, relembrando novamente o seu passado.
- A única diferença entre nós?- Perguntou Farendal, num tom sério fingido. -Desculpa mas as minhas orelhas são muito mais pontiagudas que as tuas.- A seguir ao comentário, ambos começaram a rir. Realmente Tennzin começava a apreciar a companhia de Farendal.
Quando a noite caiu, os dois companheiros encontraram o acampamento dos contrabandistas.
- São tolos ao acender fogueiras no meio da noite, é possível deteta-los a uma milha de distância.- Troçava Tennzin.
- Eles não sabem que estão a ser seguidos.- Respondeu Farendal que, após uma olhadela atenta, avisou:
-Eu conto 17.
-Oh, 17 criminosos contra nós. Isso é injusto... para os criminosos.- Respondeu Ten com um sorriso rasgado.
O elfo respondeu com outro sorriso e avançou em direção ao acampamento.
Velozes como raios e ligeiros como a sombra, Tennzin e Farendal eliminaram silenciosamente os primeiros 13 contrabandistas. Eram ambos mestres no assassinato. Tinham uma experiência e habilidade inigualável, levaria qualquer um a acreditar que eram capazes de assassinar um exército inteiro daquela maneira, sem sequer serem detetados. Mas Ten ficava impaciente e, sedento de mais ação, saiu dos arbustos e decapitou um dos criminosos, de seguida arremessou a sua adaga contra a cabeça de outro. Por trás de Tennzin, o último contrabandista preparava-se para espetar a sua espada nas suas costas. Mas, rápida e silenciosa, uma flecha disparada por Farendal acertou em cheio entre os olhos do criminoso.
Só sobrava o líder. Desesperado, o chefe dos contrabandistas saiu de trás de uma pedra e atacou Farendal pelas costas. Mas Farendal já tinha reparado nele, antes mesmo de ele ter pensado em sair detrás da pedra. Foi rapidamente espancado pelo elfo, sendo deixado no chão, incapacitado.
A chacina estava feita e, com ela, o trabalho dos dois companheiros estava finalmente acabado.
-Estes cadáveres devem estar recheados de dinheiro!Acho que vou dar uma olhadela.- Disse o elfo abaixando-se para remexer o corpo de um dos criminosos.
Enquanto Farendal loteava os cadáveres, Ten aproveitou para interrogar o líder dos contrabandistas, que já se encontrava amarrado.
O contrabandista recusava-se a falar, exigindo que lhe poupassem a vida.
Felizmente, o convívio com vários mestres de guerra e assassinos habilidosos, garantiu a Tennzin uma habilidade excelente na arte da tortura e da persuasão.
Em pouco tempo, Ten fez o criminoso "relembrar-se" das informações que dizia ter esquecido.
- Se... segundo o que me disseram... a Esfe... a Esfera foi vista pela última ve...vez na masmorra de Dünnehlion...Ah... está nos patamares inferiores...Não vás s...
Respondeu o contrabandista com dificuldade, poucos segundos antes de morrer devido às várias feridas que lhe haviam sido causadas. Tennzin gabava, no seu subconsciente a sua sorte incrível. O contrabandista sabia a localização. Apesar disso, o facto de um grupo de criminosos armados saberem da localização da esfera e, mesmo assim, não tentarem a sua sorte era um pouco desmotivador. O que guardaria aquela masmorra de tão perigoso? Fosse o que fosse, nada seria suficiente para deitar o Ellianor, agora motivado, abaixo.
-Agora tenho realmente um destino.
-Disse Ten sorridente.
- Eu irei contigo. Acho que o contrabandista pode ficar para depois, fiquei bastante interessado por ti, caminhante, e as nossas visões do mundo são semelhantes. Entregarei a cabeça do bandido depois de completarmos a tua missão. Espero ser-te útil.- Disse Farendal entusiamadamente.
Ten simplesmente sorriu, e fez-lhe um sinal com a cabeça para que o seguisse.
Assim, os dois caminharam durante dias até as masmorras...
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Sharyna, a Esfera Prateada
AcakLê o livro se quiseres saber a história, sai já da descrição!