Aos Vermes

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Escuro. Aqui sempre era assim: escuro e úmido. Um líquido escorria, com cheio forte. Cheiro de morte. Enquanto fixava minha boca em seu corpo fétido, sentia este líquido escorrendo para dentro de mim. Sentia a morte em sua forma mais pura, fusão de objeto e destruição...destruição esta, tardia; o completar do ciclo em sua forma mais inerte. E quando o líquido acabasse? Eu o consumiria, o tornaria vivo dentro de mim. Sua carne será meu alimento, e a consumação de seu fim seria eminente. Atravessaria a barreira corporal, chegando às suas entranhas, antes pulsantes, cheias de movimento, sangue...vida. Hoje são apenas restos abandonados, esquecidos em qualquer canto, dilacerado pelo tempo...sem nome, posição social ou lembranças. Enquanto isso, seu sangue agora frio, coagulado, me envolve como a roupa que o envolveu outrora, saciando não só a minha fome, mas a dos outros. Logo eu irei crescer, evoluir, e aqui meus filhos irão crescer e deste corpo se alimentar também...E eu levarei parte dele comigo, na cadeia energética que a vida propõe. E ele continuará lá: inerte e esquecido, até ser dissipado por completo, frágil e sem ninguém por ele.


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