A viagem até às masmorras de Dünnehlion era ainda demorada. À medida que se iam aproximando da cordilheira de montanhas geladas, mais frio sentiam. Progressivamente, as planícies verdes cheias de erva e árvores passavam a ser brancas e desertas, com neve chegando até 5 cm de altura.
- Não me chegaste a contar, Farendal, o que é feito dos teus pais? Da tua família? Eles estiveram de acordo com a tua partida?- Perguntou Ten curioso, com objetivo de descobrir mais acerca do seu companheiro misterioso.
- A minha mãe morreu quando eu era apenas um bebé.- Respondeu Farendal, com um ar pensativo.- O meu pai, é que cuidou de mim até ter idade para o fazer sozinho. Eu vivia com ele na periferia da nossa aldeia. Lembro-me vagamente da sua cara. E lembro-me que ele mal tinha amigos. Era um ranger que vivia a proteger a terra e as fronteiras do nosso lar, junto com o seu pequeno grupo. Eles não se entendiam tão bem com o resto da aldeia, mas eram excepcionalmente fortes. Mesmo assim, não foram capazes de aguentar...- Respondeu Farendal, parando um pouco, relembrando o acontecimento infeliz.
- Aguentar o que?- Perguntava Tennzin.
- Houve um ataque. Um bando de orcs desnorteado atacou a minha aldeia. Poucos morreram, a batalha foi rapidamente esquecida . Os orcs foram parados na periferia, nem chegaram à aldeia... Mas a que custo? O meu pai e seus camaradas morreram no combate. Quase todos os orcs pereceram e não houve grandes estragos. Pelo menos, aos olhos dos outros elfos. Eu praticamente não me lembro desses acontecimentos, era muito jovem nessa altura. Sem nada que me prendesse, deixei a minha aldeia uns anos mais tarde,com intenções de me tornar mais forte e enriquecer. Desde então, tenho vivido na estrada e gastado o dinheiro em comida e mulheres.- Acabou Farendal de contar a história.Após algumas horas a caminhar, vislumbraram as portas de pedra detalharas na montanha. Sabiam bem o que era. Quando junto à porta das masmorras, Ten avisou:
-Farendal, já me ajudaste muito até aqui. Estou muito grato. Se quiseres ir embora, é contigo.
Farendal respondeu:
-Hah! Isso querias tu. Deixei os contrabandistas para te acompanhar, só te deixarei depois de completarmos a missão.
Ten estava, de facto, muito agradecido. Os dois amigos entraram então na masmorra.
Os túneis eram escuros e cheiravam a esgoto e a cadáver. Apesar de ser uma masmorra abandonada, muitas tochas estavam, inexplicavelmente, acesas.
Após muito vasculhar, Ten e Farendal estavam já no terceiro andar da masmorra subterrânea. Ainda não havia sinais da Esfera.
Enquanto vasculhavam os andares, numa tentativa de pensar menos no quão assustador era aquele lugar, Ten começou a conversar com o seu novo amigo:
-Agora me lembro, sendo um elfo, a tua juventude pode durar vários séculos. Qual é a tua idade Farendal?
O elfo respondeu orgulhosamente:
Bem, até hoje tive a sorte de continuar vivo. Presenciei já mais de 180 anos nesta Terra.
Tennzin estava espantado, nunca tinha imaginado, que o seu companheiro era tão experiente. Afinal, Ten tinha apenas 19 anos.
A procura continuava a não dar frutos. Na verdade, Tennzin nem sabia bem como era a esfera. Começava a recear que não a conseguisse identificar no meio de tantos tesouros. E, mesmo que a encontrasse, como poderia ele ter a certeza de que se tratava da Esfera Prateada. Rapidamente tentou esquecer esses pensamentos pessimistas, e decidiu confiar no seu instinto.
Pouco depois, observou uma sala iluminada, que parecia ter tesouros valiosos, então decidiu entrar. O Ellianor lembrava-se das lendas que lhe haviam sido contadas sobre a masmorra, e sabia que os tesouros estavam amaldiçoados, mas, mesmo assim, decidiu tentar a sua sorte. Mal tocou numa peça de ouro um machado azul passou à sua frente. Era um fantasma dos povos antigos. Os relatos eram verdadeiros.
Ten desfez a imagem do fantasma com a sua espada. Mas vários fantasmas se encontravam já na sala. Os fantasmas saiam das paredes, do chão, do teto, Tennzin tentou lutar, mas eram tantos fantasmas que ele não durou muito tempo em pé. Por cada fantasma que desfazia com a sua espada, pareciam aparecer mais dois. Atrapalhadamente, tentava defender os golpes, mas ia progressivamente perdendo equilíbrio e força. Pouco tempo depois, Ten foi jogado ao chão por um dos fantasmas.
Longe da luta, outro fantasma apontava uma flecha azul à cabeça do Ellianor. Mas outra flecha foi disparada em direção ao fantasma. Era Farendal, o elfo ajudou o amigo a levantar-se e juntos começaram a lutar com os fantasmas. Estes seres não eram muito fortes. Eram os espíritos dos povos que haviam morrido naquela prisão, que estavam presos pela maldição de um velho mago. Estes espíritos azuis atacavam todos os que estivessem perto do tesouro que antes lhes pertencera. Agora eram apenas sombras de quem eram antigamente, feitas de raiva, falhanço e mágoa. Superados numericamente numa relação de 20 para um,os amigos correram pelos túneis das masmorras, retalhando os fantasmas um a um, à medida que eles se aproximavam. Enquanto corriam pelas suas vidas, os companheiros ouviam os gritos horripilantes dos fantasmas, eram muito semelhantes ao choro de um homem desperado, em sofrimento, arrependido pelos erros do passado. Ecoavam por todos os corredores, eram capazes de assustar até o mais bravo guerreiro. Ao entrar numa sala que servia de intercessão a quatro corredores, os dois amigos colocaram-se costas com costas, facilmente eliminaram os poucos fantasmas que vinham, quase um de cada vez. Quando todos os fantasmas estavam eliminados, e a adrenalina começava a deixar os corpos dos dois companheiros, que iam recuperando a consciência e começando a pensar novamente no seu objetivo, Farendal disse:
-Uma coisa é certa, quanto mais tempo ficarmos neste lugar, menos sorte teremos. Então diz-me, não achas que se me dissesses o que procuras, seria mais fácil de encontrar e sairmos daqui o mais depressa possível?
Tennzin preparava-se para responder, mas nesse momento um brilho branco azulado e ofuscante saiu de um baú de outra sala. Não podia ser ouro. Os dois companheiros olharam um para o outro e Ten correu para ver o que era...
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Sharyna, a Esfera Prateada
AcakLê o livro se quiseres saber a história, sai já da descrição!