Tennzin abriu o baú devagar, torcendo para que dentro dele estivesse o que procurava. O baú estava aberto, Ten e Farendal observavam o objeto. Nunca nenhum deles tinha visto tal coisa mas, não havia dúvidas, era a Esfera Prateada.
Uma Esfera com um brilho azul ofuscaste, quase cegava os dois amigos. Só de olhar, a Esfera já lhes causava uma enorme sensação de desejo. Ao tocar-lhe, uma sentimento de poder, superioridade e alcance começou a percorrer as veias por todo corpo de Tennzin. Enquanto segurava a Esfera Prateada nas suas mãos, parecia poder ouvir as vozes dos antigos, de uma forma vaga, numa língua morta tão antiga que nem mesmo um elfo milenar poderia conhecer. Tennzin nunca se tinha sentido tão bem, o objeto era viciante. Percebia agora como era impossível confundir a Esfera Prateada com outra qualquer, não havia qualquer margem para dúvida.
-Isso é a Meriënell, também conhecida como Esfera Prateada, na língua dos homens.- Constatou Farendal, ainda atordoado com o choque da descoberta.- Era isso que ias vender a um mercador? Não podes! Esse objeto é muito valioso, seria tolice entregá-la por 3.000 denários.- Disse Farendal impressionado.
Rapidamente, Tennzin chegou à conclusão de que o seu amigo elfo tinha razão. Por outro lado, não via grande utilidade em guardar um objeto daqueles para si próprio. Outra ideia lhe surgiu então na cabeça...
-Já sei o que vou fazer.-respondeu Ten- Vou levá-la diretamente ao Senhor do Norte, de certeza que ele dará um valor mais aceitável. Afinal, foi ele que a solicitou em primeiro lugar. De certeza que estará mais receptivo a preços maiores.
Farendal estava espantado, ele nunca tinha imaginado que o objeto que o seu amigo procurava era tão importante e, apesar de duvidar que dar a Esfera a um mero homem, independentemente de ser o Senhor do Norte, fosse boa ideia, o desejo de aventura e a promessa de uma boa história para contar levaram-no a tomar a sua decisão.
-Irei acompanhar-te, Tennzin. Seria muito triste se o inimigo te apanhasse com tal objeto, depois de tanto trabalho que tivemos para chegar até aqui. E, além disso, tu não conseguirias sobreviver sem mim.-Disse Farendal sorrindo.
Tennzin aceitou com outro sorriso.
Farendal começou, então, a preparar-se para sair da masmorra, até ser interrompido pelo seu amigo.
- Mas, primeiro, não deveríamos antes testa-la?- Perguntou Ten.
- Não sei se devemos. Mas seria uma tragédia se esse objeto se tratasse de uma réplica, talvez devêssemos...- Respondeu Farendal que, apesar de saber perfeitamente que o objeto se tratava indubitavelmente da Esfera Prateada, não encontrava força para resistir à curiosidade de a ver em ação.
Tennzin colocou as duas mãos sobre a Esfera e, novamente, começou a sentir aquele poder desgastante. Após pensar cuidadosamente em quem iria localizar, proferiu as palavras:
- Hilgar Thard!- Logo após, um brilho ofuscaste ainda maior começou a sair da Esfera, cegando os dois companheiros temporariamente. Um barulho estranhamente melódico proveniente da Esfera ecoou pelas paredes de toda a masmorra. As mãos de Ten tremiam violentamente, a Esfera parecia estar a sugar a sua energia vital. Dentro Dela, Ten pode ver o imponente Senhor do Norte, levantar-se do seu trono, numa grande sala aberta feita de madeira. Era um homem de estatura média, de cabelos e barba loira escura, tinha olhos azuis brilhantes, cor de diamante. À sua volta estavam alguns dos seus guardas. Ten via os acontecimentos como se estivesse lá, podia nitidamente ouvir aquilo que o seu alvo dizia. Estava também alheio a tudo o que acontecia à sua volta naquele compartimento da masmorra, era como se tivesse sido transportado para o local onde a Esfera o levou. Mas, quanto mais tempo ficava agarrado a Ela, mais fraco e desgastado se sentia. Assim, largou a Esfera Prateada, não aguentando mais a pressão que o objeto lhe estava a causar.
- Então? Viste alguma coisa? A Esfera só brilhou...- Perguntou Farendal decepcionado. Tennzin não estava a perceber, não teria o seu amigo elfo visto o mesmo que ele ocorrer à sua frente?
- Então tu não viste a sala do trono? Nem o Senhor do Norte dentro dela? Nem ouviste a sua conversa com os guardas? Era quase como se eles estivessem aqui.- Perguntou Ten confuso.
- A única coisa que ouvi do Senhor do Norte foi o seu nome, e foste tu que o disseste antes de a Esfera brilhar quase tão fortemente que me cegou.- Respondeu Farendal, agora confuso também. Rapidamente chegaram à conclusão que apenas quem proferia os nomes e fornecia a sua energia vital teria acesso às imagens pretendidas.
Mas, estava agora na sua posse um dos objetos mais cobiçados em Sharyna. E, apesar da sensação de insegurança e vulnerabilidade que isso podia trazer, os dois amigos estavam mais felizes do que preocupados. Olhavam apenas em frente, vislumbrando todas as aventuras e prazeres que o futuro lhes poderia trazer a partir daquele momento.
Mas o momento de felicidade iria acabar, um grunhido de orc percorreu os túneis da masmorra, pouco tempo depois, outro grunhido se seguiu ao anterior, e depois outro. Ten e Farendal olharam um para o outro.
E, rapidamente, o som de vários grunhidos ao mesmo tempo começou a chegar àquele compartimento.
-Orcs!- Disse Farendal.
-Seres imundos! Vou matá-los.- Disse Ten, desembainhando a espada e caminhando na direção do ruído.
Antes de começar a correr, Tennzin foi chamado à razão pelo seu amigo elfo:
-Seira loucura! São muitos, devem ser centenas. E daqui a pouco estarão aqui! Temos que deixar as masmorras já. Ou partilharemos, em breve, o destino com os fantasmas da masmorra...
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Sharyna, a Esfera Prateada
RandomLê o livro se quiseres saber a história, sai já da descrição!