Naryä

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Arrïbatar tinha uma figura imponente, parecia uma torre. Era quase 20 centímetros mais alto que Tennzin, que começava a ficar assustado. O elfo tinnha um rosto sisudo, coberto de longos e arranjados cabelos castanhos escuros, mais escuros ainda eram os seus olhos. O olhar penetrante do  elfo experiente começava a incomodar os dois companheiros.
-Bem vindo, Ellianor. Espero que aprecies a estadia na minha casa.- Disse Arrïbatar.
Tennzin estava espantado, como poderia o elfo saber da sua origem?
-Tudo sei sobre ti, Tennzin, filho de Dennzin, não subestimes o conhecimento de um elfo que já viveu mais de seiscentos anos. - Respondeu o elfo imponente, deixando Tennzin boquiaberto.
Era um feito realmente impressionante, que não se devia à extensa experiência de vida do elfo, mas sim aos seus batedores, que seguiam os dois amigos há vários dias, e que avisaram o seu líder algum tempo antes da sua chegada. Creio que temos um assunto para discutir...- Disse Arrïbatar novamente. Ten sabia que o lorde se referia à Esfera. Seguiu-o até à sala de conselho.

Tennzin e Arrïbatar tiveram uma grande discussão. Ten queria, acima de tudo, vender a Esfera e obter o máximo de lucro possível para si. E, na sua opinião, a pessoa mais indicada para tal era o Senhor do Norte. Mas Arrïbatar não achava essa decisão muito sábia.
-Tu não podes levar a Esfera a Hilgar Thard, isso seria terrivelmente insensato! Teimava Arrïbatar.
Mas Ten não cedia:
O que tendes contra o Senhor do Norte? Ele é a pessoa mais indicada para ter a Esfera Prateada. Ele é neutro. Seria uma das poucas pessoas que não utilizariam a Esfera para fins bélicos, nem contra os Guerreiros Cinzentos nem contra os Igualitários!
Arrïbatar contra-argumentou:
-Imagina que alguém menos indicado te apanha com a Esfera a meio do caminho. O que aconteceria?! - Tennzin revirou os olhos de maneira arrogante, acreditando que era praticamente impossível que algum ladrão em Sharyna pudesse com ele e Farendal ao mesmo tempo. Arrïbatar percebeu que o Ellianor era demasiado arrogante para ceder, contra-argumentou então, com algo que de certeza iria afetar o jovem Tennzin:
- Será que já te esqueceste, Ellianor, do que aconteceu à última civilização que tinha a Esfera na sua posse?- Perguntou Arrïbatar que, com sucesso, conseguiu abalar o jovem Ellianor. Ten sabia que o elfo se referia ao seu povo. Apesar de nunca ter compreendido bem as razões do ataque, duvidava que a Esfera tivesse feito parte delas. Mesmo assim, aquele argumento deixara-o a pensar, e não o conseguia, agora tirar da cabeça.
-Ninguém nos apanhará com a Esfera! Somos muito hábeis, sabemos cuidar de nós.- Respondeu Farendal, interrompendo a discussão dos dois.
Artïbatar não entendia o porquê de Farendal estar a apoiar um humano insensato. A verdade era que, apesar de ser um elfo, Farendal tinha um espírito aventureiro e extremamente ambicioso. Não podia desejar mais do que receber o dinheiro fácil do Senhor do Norte. E,acima de tudo, desejava ter oportunidade de lutar num bom combate.
Após muitas horas de discussão, Farendal conseguiu convencer Arrïbatar a deixá-los partir, com a condição de entregar a esfera exclusivamente ao Senhor do Norte e a mais ninguém.

Depois da discussão, Tennzin foi para perto do rio, numa tentativa de relaxar. A última pergunta que Arrïbatar lhe fizera não lhe saía da cabeça. Teria aquela Esfera sido a razão pela qual a sua casa fora destruída? Enquanto estava sentado, a tentar esquecer-se dos problemas começou a observar a alvorada, nunca tinha visto uma tão bela como a da terra dos elfos. O sol, dourado, desaparecia ao fundo da montanha, deixando o rio com uma cor avermelhada brilhante, muito semelhante à que via no Lago de EdenVale, há tantos anos atrás...
Esta alvorada trouxe a Tennzin uma pequena recordação da sua vida no passado, uma lágrima escorreu na sua bochecha. Mas o seu momento emocional foi interrompido.
-Não sabia que o bravo guerreiro a quem o meu pai confiou um objeto de tanto valor também chorava como um bebé...- Disse uma bela mulher-elfo de cabelos ruivos, com um ar troçante e divertido, era a filha de Arrïbatar.
Ten olhou para a elfo de cima a baixo, ela era de facto bela. Mas um pormenor  despertou a atenção dele, a rapariga tinha  o brasão de IdërFall tatuado no braço, era uma estrala branca.
Aí, as informações começaram a cruzar-se na cabeça de Tennzin, relembrando-o dos seus últimos momentos de felicidade...
- Poderia ser?...- murmurava o Ellianor na sua cabeça.- É impossível, não pode ser.- Após um pequeno debate interior, Tennzin decidiu perguntar:
-Naryä?- Perguntou  Ten, à medida que o seu rosto ia ficando mais animado.
- Como é que sabes o meu nome, caminhante?- Perguntou Naryä espantada.
Tennzin respondeu:
-Foste tu mesma que mo disseste, há 7 anos atrás, antes de a minha cidade ter sido devastada.
Naryä tinha agora percebido.
-Ten? Estás vivo? - Perguntou Naryä, sem conseguir esconder a felicidade.
Tennzin sorriu e encolheu os ombros.
- Vou-me safando...- Respondeu depois, com um ar de troça.
Naryä abraçou fortemente o seu velho amigo.
Tennzin nem podia acreditar que havia reencontrado a sua velha amiga.
Nesse momento, apesar da boa sensação, Ten teve uma enorme carga de lembranças e emoções. Não conseguiu evitar a segunda lágrima que lhe escorreu do olho, mas esta, diferente da anterior, era uma lágrima de alegria.

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