Como Sempre

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Me despeço.

Caminho até o carro, indo para o lado do motorista.

Abro a porta, e entro.

Coloco a chave na ignição e ligo o carro. Para abrir a janela.

Como sempre.

Sempre com um sorriso bobo no rosto.

Mando-lhe um beijo.

Como sempre.

Ele, como sempre, finge pega-lo.

Guarda meu beijo sobre seu coração.

Como sempre.

Eu dou a partida no carro, e sai.

Como sempre.

Ligo o rádio.

Como sempre.

Passo por todas as estações.

Como sempre.

Pego meu pendrive, que estava no porta luvas.

Como sempre.

Coloco-o meu pendrive.

Como sempre.

Pulo as primeiras cinco músicas.

Como sempre.

No caminho, passo por cinco faróis verdes e dois vermelhos.

Como sempre.

Estaciono perto da parede direita da garagem.

Como sempre.

Abro a porta do carro.

E, como sempre, desco primeiro a perna esquerda, depois a direita.

Abro a porta da casa com a chave que esta no mesmo chaveiro da do carro.

Como sempre

Entro na casa.

Como sempre.

Coloco minhas coisas no balção da cozinha.

Como sempre.

Encho um copo de água até a metade.

Como sempre.

Abro minha bolsa para pegar meu medicamento.

Como sempre.

Abro o zíper interno.

Como sempre.

O medicamento não está la.

Inspiro.

Expiro.

Inspiro.

Expiro.

Tiro todas as minhas coisas da bolsa. O medicamento continua ausente.

Inspiro.

Expiro. 

Inspiro

Expiro.

Mantenho a calma. Isso ja aconteceu antes. 

Apenas esqueci de pega-lo antes de sair. Melhor voltar.

Inspiro.

Expiro.

Inspiro.

Expiro.

Pego as chaves. Vou até o carro.

Entro no carro, colocando a chave na ignição. 

Inspiro.

Expiro.

Inspiro.

Expiro.

Ligo o carro. Saio da garagem. Ligo o rádio.

Passo por todas as estações. Abro o porta luvas. Procuro meu pendrive.

Não está lá. Já esta conectado com o rádio. 

Inspiro. Expiro.

Inspiro. Expiro.

Programo o rádio para tocar as músicas do pendrive. Tocando as 5 primeiras músicas.

Inspiro, expiro.

Inspiro, expiro.

Inspiro, expiro.

Inspiro, expiro.

Passo por 4 sinais verdes e 3 vermelhos. Chego acima da velocidade permitida. O pneu canta com minha freada.

Inspiro, expiro, inspiro, expiro, inspiro, expiro, inspiro, expiro.

As luzes da casa estão acesas, o som ligado no que, provavelmente, é o último volume. Me aproximo da porta, que está destrancada. Inspiro expiro inspiro expiro inspiro expiro inspiro expiro.

Abro-a. Uma mulher esta no sofá, com ele, a mulher que me disse ser sua prima, da última vez que nos vimos, loira, corpulenta, sem problemas psiquiátricos, e semi nua, em seus braços fortes, bronzeados, tatuados, e nus, se beijando passionalmente, o quadril dela se agitando furiosamente em cima do dele, o meu frasco alaranjado no chão perto do sofá em que situavam e desfrutavam do momento de luxúria. Esqueço de respirar meus joelhos fraquejam caio no chão com um estrondo abafado seus olhares se voltam para mim e correm em minha direção ele grita desculpas ela chora ele grita meu nome ela funga ruidosamente eu abro a boca mas não falo nada porque não consigo tento dizer que esta tudo bem, que não tem problema, e que entendo, mas não consigo falar nada não consigo respirar começo ver pontinhos pretos em tudo ouço grunhidos abafados a imagem fica borrada e vai escurecendo escurecendo escurecendo até que... Nada. Não vejo nada. Não ouço nada. Não falo nada.

Como

S

E

M

P

R

E


FIM.





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⏰ Última atualização: Nov 25, 2016 ⏰

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