Palavras sabem a que vieram?
Soubessem elas e Maria não as teria ouvido. E dito, pensado e sonhado no instante em que pereceu. Como flor que murcha sem ser regada, esquecida, aí acaso deixada. (E por ele ignorado.)
"Menina, sacode essa saia e vem pro quintal!"
E assim foi ela... renda tocando o vento, sandálias (tiras canela traçando), quando tudo teve início. Renda, vento , tiras, Maria, quintal.
"Tia, me chamou?"
Chamaram Maria os olhos castanhos de festa.
"Tia?!"
Chamaram-na os lábios pouco tingidos (laranja-céu-inverno-de-tarde).
"Eu..."
(Nada tingidos.)
Dedos a convidaram para entrar na festa. Não havia doces, fogueira, nem música. Junho se calava de intenções. Ele deixava, naquele instante, espaço para as vozes, risos e tudo o mais que veio a acontecer. (Maria naqueles olhos mergulhando. Maria nesses lábios se deixando tingir.)
Já era tarde quando Maria deixou o quintal. (A tia saiu tão logo as saias da sobrinha tocaram o pátio.) E então vieram as noites de espera na varanda (não mais o quintal), mensagens-insones-pelo-celular-sem-resposta e um silêncio difícil de entender.
"Não posso, Maria." Três palavras ao telefone e uma resposta sequer. (Mas algo foi perguntado? ) Dor no peito e nos braços de Maria, que sentia sustentar o mundo. Um mundo. Despedaçado.
Ventos vão, ventos vêm.
("Não posso.")
Na praia, a areia.
("Maria!")
Lá vem Maria. É noite. Flor perecendo diante do beijo que um dia foi seu. Um dia. Um beijo. E um quintal_ que jamais quis deixá-la.