Capítulo 9

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x Sofia x

Ele vai sobreviver.

— Tudo vai ficar bem, Dante. Você vai ficar bem. — falo em uma voz baixa esperando tranquilizá-lo.

Aperto sua mão como se fosse eu a pessoa com ferimentos graves precisando de apoio. Ele dá um leve aperto em resposta como se para afirmar que ainda está vivo. Mas, seus olhos ainda estão fechados. O sangue ainda escorre dos ferimentos.

— Ele está morrendo, Sofia. Não há nada que a gente possa fazer. Estamos há quilômetros de algum rusticatio. — Hugo fala com certa autoridade na voz. Ele não está feliz com esta situação. Isso me irrita. Sei o que estou fazendo. Ele precisa sim ser curado, mas ainda temos algum tempo.

— Estamos perto o bastante daquele posto. Você pode correr até encontrar ajuda depois que o levarmos para lá. — começo a fazer curativos com o que tenho na bolsa. O maior problema será um ferimento na perna. Não conseguirei remover os estilhaços para estacar o sangramento.

— Precisamos voltar para Civitas imediatamente! É perigoso demais ficar aqui. — ele fala já pegando minhas coisas e tentando me afastar de Dante. Resisto a suas mãos sem muito sucesso.

— Você enlouqueceu?! Eu nunca, nunca vou voltar para aquele lugar. Depois do que aquela mulher fez...

— Laura não sabia. Ela nunca nos mandaria para uma missão assim! — Hugo responde desistindo de me arrastar. Ele sabe que eu não vou simplesmente permitir que ele me leve à força. Jamais o perdoaria se fizesse isto.

— Você não entende! Eram apenas crianças, Hugo. E ela sabia. Aquela mulher é um monstro, mas você sempre fingiu que não percebia. Se você já tivesse tomado seu lugar como líder não estaríamos nesta situação. Mas, não! Sempre precisa abaixar a cabeça para aquela cobra. — me exalto tentando manter minhas mãos estáveis que voltam a trabalhar nos curativos. Meu rosto queima e tento conter as lágrimas de raiva. Uma vez que começar a chorar, não serei capaz de parar. Este não é o momento para isso.

— Você quer que eu faça o quê? Arrisque nossas vidas para salvar um estranho? E se você estiver errada? E se esse cara é uma pessoa ruim e Laura teve motivos para nos mandar atacá-lo? Você não sabe de tudo, Sofia! — ele está gritando agora.

— Então agora tudo bem eu ser uma assassina? Tudo bem deixar Laura me usar como uma arma? Não! Não tive culpa na morte daquelas crianças, não sabia quem estava naquela instalação. Mas, se eu virar as costas para este homem agora eu vou condená-lo a morte. Mas talvez eu volte para Civitas depois de ajudá-lo. Talvez eu volte para fazer justiça e acabar finalmente com aquela mulher desprezível! — grito com todas as minha forças.

— Então você quer que eu abandone minha família? Nossos amigos? Tudo isso porque você não confia na pessoa que te abrigou todos esses anos? Vai abandonar tudo para salvar uma pessoa que nem conhecemos? — minha raiva aumenta ao lembrar o que ele havia dito dias atrás. Ele fugiria para supostamente me proteger, mas não pode tomar um caminho diferente para salvar uma pessoa que ferimos? Isso é muito errado.

— Seus amigos. Sua família. Se quer voltar, faça isso. Vou salvá-lo com ou sem sua ajuda. — falo me voltando novamente para os ferimentos.

Espero que ele caminhe em nossa direção e me ajude a cuidar de Dante, mas quando olho novamente, ele já tomou sua forma de corvo e levantou voo, me deixando para trás.

Me concentro em Dante pensando em como vou fazer isso sem apoio. Não tenho outra opção a não ser caminhar até o que restou da instalação buscando uma maneira de ajudá-lo. Ando durante vários minutos entre os escombros. Então finalmente encontro na área externa, intocado, um veículo que pode ser a salvação do homem que permanece inconsciente na grama.

É um modelo simples, parecido com um que pilotei muitos anos antes em uma fuga. Faço o que posso para leva-lo o mais próximo possível, mas a vegetação impede o avanço. Terei de carregar Dante por vários metros.

Tento não pensar que Hugo partiu sem nenhum peso na consciência. Mantenho o foco em fazer a tarefa simples, mas muito trabalhosa, de guiar o garoto até o automóvel. Ele é pesado. São necessárias todas as minhas forças para coloca-lo de pé.

Estou suando pelo esforço. Meus pulmões parecem queimar pela angústia e pela falta de ar.

Dante recupera e perde a consciência várias vezes durante os quinze minutos de caminhada que com ajuda não duraria mais do que cinco. Em algum ponto ele parece perceber minha luta pois faz o possível para diminuir o fardo, mas sua perna, ainda sangrando, o impede de fazer muita coisa. Ele deve ser bastante poderoso. Eu jamais conseguiria pensar em outra coisa além de minhas dores em um momento como este.

— Lilian, ela quer ouvir o final da história. — ele murmura delirando.

— Meu nome é Sofia. Não se preocupe. Eu estou aqui. Vou cuidar de você. — tento tranquilizá-lo. Ele parece se convencer, confiando em minha palavra. Espero conseguir mantê-la.

Finalmente consigo coloca-lo no banco com delicadeza.

— Obrigado. — ele murmura e finalmente abre os olhos. Apenas por alguns segundos. Somente por tempo suficiente para que eu sinta que salva-lo é a decisão certa. Infelizmente, não posso curá-lo sozinha. E só conheço uma pessoa que me ajudaria. Só um lugar onde ninguém fará perguntas.

Dante tem sorte, não estamos longe. Só espero que ele resista até chegarmos lá. Só espero estar certa.

Espero que este seja o caminho da nossa salvaçãoe não de mais problemas. 

xxx

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A Lenda das EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora