A vida amorosa de Ellie Cooper

Um novo projeto

Observo atentamente cada detalhe do meu novo edifício. Na verdade ele não estava pronto ainda, eu estava olhando para um papel onde eu acabara de desenhar meu mais novo projeto que vai inovar a cidade. É com ele que eu vou me tornar conhecida por todo o mundo. Até já me imagino em todos os jornais:

Arquiteta Ellie Cooper acaba de inovar a cidade com seus projetos.

Ahh... Esse é um sonho que eu vou realizar. Um dia.

Toc toc.

— Oi

— Ellie tá na hora de ir trabalhar — minha tia chama. Escondo a garrafa de whisky em baixo da minha cama.

Tinha esquecido do trabalho. Não é como arquiteta, é como enfermeira. Eu sei, não tem nada a ver, mas, por enquanto, meu sonho fica apenas no papel.

— Já estou indo.

Me olho no espelho rapidamente. As olheiras estavam um pouco profundas –meu namorado terminou comigo ontem–, mas não dá tempo de se arrumar.

Olho mais uma vez para o papel que um dia vai estar espalhado por toda a cidade, anunciando o mais novo edifício.

Guardo ele no meu criado-mudo com todo o cuidado, pego meu jaleco branco e desço as escadas apressada.

Dou um beijo na testa da minha tia.

— Ei, você não vai merendar? — ela pergunta.

— Desculpa tia, não dá tempo. Eu tomo café quando chegar lá. Adeus.

Fecho a porta e saio correndo. Mas logo paro. Não havia percebido que estava chovendo.

Arg! Mas não vou voltar. Botei a bolsa em cima da cabeça e corri para pegar o táxi mais próximo, ou seja, atravessei a avenida molhada e escorregadia. Eu ia levando um tombo feio na frente de um monte de carros, mas agora eu tava pouco me preocupando com isso. Entro no táxi um pouco molhada.

— Para o hospital por favor.

Ele dá a volta e começa o percurso.

No caminho vou pensando na minha vida, no quão bagunçada ela é.

Tenho 21 anos e ainda moro com minha tia, fui abandonada pelos meus pais e minha tia que tomou conta de mim. Já tive uns 6 namorados a minha vida toda.

Só pode ser uma maldição sério, qualquer garoto que eu percebo que se importa comigo eu me apaixono, ou, pelo menos, me apaixonava. Fiz um pacto comigo mesma ontem enquanto estava me enpanturrando de whisky depois que meu namorado terminou comigo por e-mail. Prometi endurecer um pouco o coração e não me apaixonar tão facilmente assim.

Por enquanto quero focar no meu futuro. Quero trabalhar para ganhar dinheiro e ter uma casa própria, deixar minha tia em paz pelo menos uma vezinha na vida, e também investir no meu futuro como arquiteta. Quando eu tiver feito tudo isso, vou sair desse emprego horrível e seguir meu sonho.

Ai só depois eu penso em namorar. Já sofri tantas desilusões amorosas que brinco comigo mesmo dizendo que minha últimas palavras serão: Finalmente vou morrer sem ser de amor.

Todos os namorados que eu tive eu realmente achava que ia dar certo. Bom, exceto um que eu havia conhecido pelo facebook, e nós nunca nos vimos pessoalmente. Ele disse que nós íamos ser namorados virtuais para sempre. Tadinho. Esse eu realmente achava que não tinha futuro.

Quando eu terminava com um, começava a namorar outro, daí eu pensava: esse vai dar certo. Aí acontece o de sempre e a história vai se repetindo. Estou cansada disso. Por isso, de hoje em diante só o que vai entrar no meu coração é o sonho pela arquitetura.

O táxi para. Pago ao taxista e desço. Subo as escadas do hospital correndo e vestindo o jaleco ao mesmo tempo. Quando chego na porta com a cabeça baixa, vejo os pés de alguém parado. Fecho os olhos e suspiro. Já sabia quem era.

Levanto a cabeça para ver o Dr. Armstrong me olhando de braços cruzados.

— Olha... Eu posso expli...

Ele levanta um dedo.

— Nem mais uma palavra. Chega de descupas Srta. Cooper. Hoje é segunda-feira e a fila de pacientes para serem atendidos está enorme. Não tenho tempo para ouvir suas desculpas esfarrapadas. Vá fazer seu trabalho, por favor.

Ele se vira e sai. Suspiro aliviada por não ter sido demitida hoje. Preciso prestar mais atenção na hora. Sei que por Oliver eu nunca sairia, mas ele não é o único que comanda o hospital.

Entro no hospital. Estava um caos completo. Crianças chorando, pessoas correndo para ser atendidas, outras gritando com os atendentes, etc. Vou até a recepção para guardar minha bolsa. Susanne estava lá, minha amiga, conversando com uma senhora.

-Senhora me desculpa, mas não temos médicos suficientes para atender todos de uma vez.

A mulher sai.

— Caraca Ellie o que aconteceu hoje? Tem sorte de não ser sido demitida.

— Eu sei... Não vou me atrasar mais. Pode me dar uma ficha?

Ela me entrega uma ficha em uma caderneta, e eu começo meu trabalho nem um pouco estressante.

Anoto os nomes das pessoas e o motivo da consulta com o médico. Os casos mais simples eu atendia ali mesmo.

Por mais estressante que meu trabalho fosse, eu estava sempre com um sorriso no rosto. Susanne diz que eu sou simpática até demais, por isso eu sempre arrumo um namorado logo. Acho que ela está errada. Sim, eu sou muito simpática, mas não é por isso que os caras ficam a fim de mim. Pelo menos eu acho que não.

Quando a fila deu uma folga, eu paro um pouco pra respirar.

— Ei estou indo tomar café.—
Susan chega por trás. — Quer ir também?

— Ah... Seria ótimo.

Coloco a caderneta em cima do balcão e saio do hospital com Susan.

Atravessamos a rua e vamos até a cafeteria Starbucks. Amo o café de lá.

— Olá garotas. O que vão querer hoje?

— O de sempre, por favor.—Susan diz.

—O meu também. Só que vou querer um duplo hoje.

Ana anota e vai fazer o nosso pedido.

— O que você tem hoje?- Susan pergunta.— Tá meio pra baixo.

— Você nem vai acreditar. O...

— Seu namorado terminou com você..?— ela completa.

— Como você sabia?

Ela revira os olhos.

— Fala sério Ellie. Já estou acostumada com você me falando dos términos de namoros.

Suspiro, triste.

— Droga! Eu sou muito idiota.— falo, suspirando.

— Não é não! Você só tem que parar com esse negócio de ficar namorando e terminando direto. Já tá se tornando um ciclo vicioso Ellie!

Concordo.

— Ellie, anota o que eu tô falando, você não precisa de homem pra ser feliz, entendeu?

— Eu sei. E não vai mais acontecer. Bom, pelo menos por enquanto, eu juro.

Ana chega com meu Macchiato duplo e o café espresso de Susan.

— Espero que sim Ellie.