Cap. 11: Aluna Nova

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Um grupo de três carros pretos estacionou na frente da Sociedade. Todos ao redor começaram a embarcar, por isso imitei o gesto.

- Lá eles sabem que somos da Sociedade? - perguntei, assim que Rubi sentou ao meu lado no banco.

Ela arregalou os olhos, balançando as mãos desesperadamente. Agora que estava de maquiagem, sua aparência jovem havia sido oculta.

- Não! E se souberem, não comente nada! Ninguém pode ouvir! - sua voz chegou a ficar mais fina.

Abaixei suas mãos, tentando acalmá-la.

- Tudo bem, eu já entendi. - falei, enquanto ela se recompunha - quais são os seus cursos?

Rubi respirou fundo. O sorriso de sempre (cujo qual era impossível saber se era verdadeiro ou não) voltou ao seu rosto, e ela exclamou:

- Dança, Canto, Desenho e Culinária.

Sorri.

- Pelo que me parece, todos nós vamos fazer Culinária, não é? - perguntei, erguendo uma sobrancelha.

- Pois é. - deu um sorriso amarelo.

O resto da viagem, mais comprida do que pensei, foi em completo silêncio, tanto comigo quanto Rubi embaladas apenas pelo burburinho das conversas alheias. Sem poder evitar, começei a imaginar maneiras de fugir da escola. Talvez eu conseguisse encontrar meu pai, chegar em casa, ou apenas pedir ajuda... era uma chance. E eu não ia desperdiçá-la.

Assim que os carros pararam em frente à um imponente edifício, grudei na janela, querendo absorver meu novo local de estudos.

Sem mentiras, parecia um shopping: as janelas de vidro brilhavam ao sol, por toda a circunferência do único e grande prédio. A tinta branca não estava descascada nem manchada, provavelmente tendo sido retocada há pouco. A grama brilhante e verde estava intocada, e duas grandes placas com tinta vermelha alertavam: "não pise na grama". Não havia uma alma sequer do lado de fora, e os vultos eretos dos estudantes ziguezagueavam através das janelas abertas. Era o completo oposto da minha antiga escola, o que acabou por me dar mais medo ainda.

Abriram a porta para Rubi, e eu a segui para o lado de fora. Avistei Meena descendo do outro carro, já adotando sua expressão gélida. Os grupos que desembarcaram dispersaram-se à seguir, cada um indo direto para a entrada.

- Pode ir. Eu vou ficar para trás, porque tenho que esperar algumas amigas. - Rubi falou, dispensando-me com um gesto.

Encarei-a com olhar de interrogação.

- É permitido fazer amigos fora da Sociedade? - sussurrei.

Ela riu.

- Claro que sim! - então, seu tom de voz ficou sério - apenas não diga mais do que deve.

Ciente do significado de "mais do que deve", assenti. Quando Rubi se virou, também me afastei. Andei à passos apressados para chegar até as portas de vidro blindado, empurrei as duas e entrei. Finalmente estava longe da Sociedade. Finalmente podia respirar sem perigo. E parecia que eu estava presa há tanto tempo, que chegava a assustar.

De repente, enquanto divagava sobre maneiras de denunciar aquela instituição, alguém esbarrou em mim. Levantei a cabeça, esperando alguma bambola irritada ou algum bambolotto inexpressivo, mas encontrando uma pessoa normal. Era um garoto, com cor de pele e cabelo normais. Tinha cabelos cor areia e olhos cinzentos brilhantes. Assim que me viu, pude notar a surpresa em sua expressão.

- D-desculpe. - gaguejou, enrubescendo. Ele me olhava de maneira estranha.

- Tudo bem. - respondi, desviando dali.

Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora