Mamãe Gina

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Eu tinha esta vida antes de receber o cartão de Kathyrin, ir a Londres e herdar Laura. Uma vida voltada para o trabalho. Nada além de trabalho. Fora o que mantivera minha sanidade quando me mudara para Storybrooke.

O título do meu cargo era gerente de marketing nacional da Angeles, a loja de departamentos. A cadeia começara cem anos antes como uma loja de armarinhos na cidade, e a matriz ainda era ali. Tí­nhamos filiais em todas as grandes cidades, e nossa meta a longo prazo era superar a rede John Lewis como a maior cadeia de lojas de departa­mento do país. Eu havia começado na loja como assistente de marketing regional e lutado para ascender até meu atual cargo, a segunda em comando do departamento de marketing da empresa inteira — principal pa­pel: dirigir a combinação de catálogo e revista. Eu fazia tudo, desde escolher o tema principal e tipos de artigos da revista para o mês até a supervisão da edição final. Eu havia ajudado o diretor de marketing nacional, David Nolan, a criá-la e, dois meses antes da data em que teria me casa­do, o plano fora de que eu passasse um mês coordenando o lança­mento da revista. Depois que deixei Robin e Kathyrin, perguntei a David se poderia aceitar o cargo de gerente de marketing nacional que ele estivera me oferecen­do desde que nos conhecemos. Quando David concordou, decidi não abusar da sorte.

Nos anos mais recentes, a revista crescera, passando de uma publicação feita uma vez a cada temporada para uma mensal. Meu trabalho triplicou, mas não me importei — o trabalho era minha vida. Conforme o tempo foi passando, diminuí proporcionalmente a descabida carga de trabalho e fiz verdadeiras amizades na empresa. Uma delas era Ruby Lucas, com quem eu dividia um escritório de paredes envidraçadas. Outro amigo era meu chefe, David. Era mais próxima a ele do que a qualquer outra pessoa no trabalho.

         David foi em minha casa visitar, conheceu Laura, e após um tempo de conversa, o senti tenso.

— Então, qual é o problema? O que ainda não me falou?

— Não há maneira fácil de colocar isso...

— Apenas diga e pronto.

— Eles já encontraram o meu substituto. Venho trabalhando com ela para lhe passar todas as coordenadas nas últimas duas semanas.

A taça tornou a escorregar da minha mão.

— Quer dizer que nem sequer pensaram em me dar a chance de concorrer ao cargo? Não me julgam à altura?

— Não é isso, Regina. Você sabe que não pode assumir esse cargo agora que tem uma criança, não com todos os dias em é que preciso trabalhar até tarde e com as viagens...

O calor da indignação começou a se espalhar pelo meu corpo, desde a ponta dos pés até o último fio de cabelo.

— É por essa razão? Por eu ter uma criança?

— Ninguém afirmou isso oficialmente. Querem alguém novo, alguém que esteja disponível para trabalhar por longas horas, avaliar a estratégia de marketing da empresa com novo olhar e fazer algumas grandes mudanças. Você não pode fazer isso se tem de sair no horário todos os dias, sabe muito bem.

— Isso não aconteceria se eu fosse homem, não é mesmo? Ninguém faz julgamentos em relação à dedicação dos homens ao trabalho uma vez que se tornam pais. Um homem pode trabalhar todas as horas que lhe pedirem e ain­da ser visto como um bom pai porque é o provedor da família. Ou pode sair no horário todos os dias e o chefe não questionará sua dedicação; apenas achará que é um bom pai que quer passar mais tempo com os filhos. É uma situação na qual só se tem a vencer, se você for homem.

— Todos fazemos escolhas — declarou David calmamente, imperturbável diante do meu ultraje. — Não estou dizendo que o que fizeram é certo, mas você desejaria realmente perder o tempo que pode passar ao lado de Laura? Ela só vai ser dessa idade uma vez; quer perder isso? Especialmente agora, que a menina acaba de perder a mãe e precisará mais de você. Como se sentiria se tivesse de abrir mão das horas que pode passar com ela pelo trabalho?

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