Tenho mesmo permissão pra pintar a parede?

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essa capítulo é pequeno mas importante pra mostrar a relação de Regina e Laura. No próximo Emma aparece

Minhas paredes. Minhas lindas paredes de um suave tom creme. Era o que doía mais naquela situação toda. As paredes. Perder a sala de estar não era tão ruim — não era como se eu tivesse criado a sala do nada. Era a perda das paredes que eu havia passado horas e horas pintando que doía. Tinha dado o sangue quando pintara as paredes. E, agora, tudo iria por água abaixo.

Laura estava com um pincel na mão, uma lata de tinta vermelha perto dos pés e um misto de felicidade, entusiasmo e apreensão no rosto. Eu havia lhe amarrado um lenço azul e branco em torno da cabeça para proteger seus cabe­los. Ela havia se preocupado quanto a usar sua blusa rosa de mangas compri­das e jeans para a tarefa, mas assegurei-lhe de que era o que os adultos usavam para decorar. E, para provar, desenterrei meu velho traje de decoração —jeans azul-escuro, uma camiseta cor-de-rosa e um lenço amarelo e branco para amarrar na cabeça

Tenho mesmo permissão para pintar a parede? — checou Laura nova­mente. Perguntou-me aquilo umas cinco vezes no minuto anterior.

— Sim, de qualquer cor que quiser.

Eu a havia levado a uma loja de materiais de construção no dia anterior e tínhamos comprado uma variedade de estênceis — animais, estrelas, luas, sóis, golfinhos, peixes — e tintas nas cores vermelha, azul, marrom, amarela e ver­de. Era bem mais barato do que pintar a sala inteira outra vez. Não necessaria­mente em termos financeiros. Aquilo apenas tomaria menos do meu tempo e da minha sanidade.

— Posso pintar um peixe aqui?

Ela apontou para o espaço sob a janela. Eu tivera de deitar no chão para ficar bem embaixo do parapeito da janela para cobrir a tinta antiga da parede. Agora, o trecho seria enfeitado com um peixe.

— De que cor quer pintá-lo?

Laura olhou para a lata aberta de tinta vermelha cujo odor se espalhava pela sala quente. As janelas estavam escancaradas, mas as persianas claras que as recobriam não se mexiam porque não havia nem o menor sinal de brisa no ar.

— De vermelho.

— Vá em frente, então. — Pegando o estêncil de peixe, fixei-o à parede com fita adesiva e, a seguir, coloquei-me de lado para que a artista fizesse seu trabalho.

A menina lançou-me mais um olhar para confirmar se não havia problema em fazer aquilo e deu uma pincelada no meio do estêncil. Cada uma de suas pinceladas era breve, nervosa, hesitante, cuidadosamente aplicada para que não ultrapassasse as beiradas, até que o peixe foi preenchido.

O peixe pareceu deslocado na parede, um solitário lampejo de cor no am­plo oceano de tom creme.

— Está certo, o que será em seguida? — perguntei.

— Um elefante — decidiu Laura.

— De que cor?

— Azul? — perguntou ela.

— Se a senhorita quer azul, a senhorita terá azul. — Ajoelhando-me, pe­guei a chave de fenda, inseri a ponta sob a beirada da tampa e abri a lata. O intenso azul cintilou diante dos meus olhos. Coloquei a tampa com cuidado sobre as folhas de jornal que cobriam o chão.

Fui até o estéreo, enquanto Laura coloria o estêncil de elefante, e liguei o rádio.

Foi preciso a maior parte da tarde para circundar a sala com animais. Tegan era detalhista e fazia questão de que houvesse espaçamento igual entre os ani­mais e que ficassem à mesma altura do chão, o que significou que tive de pegar uma régua para que tudo ficasse exato. Paradas ao lado da mobília coberta, observamos nossa obra de arte. Linda. A arca de animais multicoloridos de Laura. A garota era boa em pintura, era preciso dizer. Provavelmente, herdara o dom da mãe.

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