Cap. 12: Perguntas Inoportunas

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Horário:

- Das 7h e 30 min, às 9h e 30min, Literatura;

- Das 9h e 50min, às 11h e 30min, Culinária;

- Das 12h, às 14h, Teatro;

- Último horário, livre.

...

Ok. Então eu teria Literatura.

Corri para a sala, que por sorte estava próxima. O sinal havia batido há 1 minuto, enquanto me perdia no cronograma de atividades. Entrei na sala apressadamente, aproveitando a porta ainda aberta, e me sentei na primeira classe que vi; a segunda na fileira central.

- Muito bem. Hoje, por ser o primeiro dia de aula de uma aluna, honraremos nossa tradição, e faremos as apresentações. - disse a professora, sem reparar que eu havia entrado atrasada.

Os alunos ao redor bateram palmas, empolgados com a perspectiva de perder aula. A professora, uma senhora esguia e grisalha, sentou-se em sua cadeira, olhando para a chamada.

- Por favor, apresente-se para a sala, senhorita Alessa Fragnello. - falou, erguendo os olhos em busca do novo aluno.

Precisei respirar fundo silenciosamente antes de me levantar e girar para trás. Pude perceber alguns arquejos, provavelmente por causa da minha semelhança com os demais bambolottos. A professora, inclusive, pareceu chocada.

- Hã... - murmurou a senhora, balançando a cabeça e sorrindo - venha, querida. Venha aqui na frente.

Risinhos. Precisei cerrar os punhos, mas andei até lá e me postei ereta.

- Meu nome é Paula, mais conhecida como Senhora Jakes. Sou a professora de Literatura da Academia Santo Ângelo, cuja qual vocês são obrigados a aturar. - ela ergueu uma sobrancelha, fazendo a turma rir.

Dei um sorrisinho falso, no qual eu pegara o jeito.

- Se você se sentir à vontade, faremos algumas perguntas. - Senhora Jakes falou, simpática.

Hesitante, assenti. Agora terei que testar minhas habilidades na mentira.

- Ótimo. Primeira pergunta: - ela parecia saber o roteiro decor - você tem algum apelido?

Bambola, pensei.

- É Alessa mesmo. Todo mundo me chama assim. - respondi.

- Segunda pergunta: quantos anos você tem?

- 15, em breve 16.

- Terceira pergunta: que dia você faz aniversário? - ela apoiou o queixo na mão, deixando a cabeça cair de lado.

- Dia 13 de outubro. - respondi.

- Oh, mas é depois de amanhã! - exclamou - bem, de toda forma, parabéns adiantado.

- Obrigada.

- Quarta pergunta: tem irmãos ou irmãs?

- Não. - minha voz foi firme.

- Quinta/sexta e última pergunta: o que achou da academia até agora? Já fez amigos aqui? - a expectativa era clara.

Olhei ao redor, para os rostos curiosos de meus colegas desconhecidos. Eu estava muito longe de casa, e no momento sentia aquilo mais forte do que nunca.

- Achei uma escola muito bonita e organizada, com diversos cursos a oferecer. De certa forma, é bem diferente da minha antiga escola... - era totalmente verdade - e talvez isso me assuste.

Algumas risadas soaram, baixinhas entre a platéia.

- E... não sei se fiz amigos, mas conheci várias pessoas aqui dentro.

- Por exemplo? - uma menina perguntou, os olhos fixos e interessados em mim.

Por que ela quer saber?

- Hã... não sei. Acho que algumas pessoas. - dei de ombros, tentando desviar o foco da conversa.

- Que pessoas? - um menino perguntou, do fundo da sala.

Olhei em volta. Haviam alguns pares de olhos que me encaravam de maneira estranha. Era como raiva contida.

- Bem... os irmãos D'Gasperi, por exemplo. - desabafei.

Um coro de arquejos ecoou pela sala. O zunido dos sussurros iniciou imediatamente, como tópico a frase "Meu Deus! Ela falou com Rubi!" ou " Meu Deus! Ônix falou com ela!".

- Chega, turma! - Senhora Jakes falou, levantando a voz.

As pessoas se calaram, mas seus olhares afiados já eram capazes de me intimidar.

- Apresentação muito boa, Alessa. Pode se sentar. - a professora sorriu, indicando minha classe.

Fiquei aliviada por sair dos holofotes, abaixando a cabeça e me refugiando na minha própria zona de conforto. Ignore, Alessa. Isso não tem nada a ver com aquela garota ruiva de antes. Mas estava difícil convencer a mim mesma.

×××

A aula passou depressa, comigo envolvida na matéria. Havíamos acabado de ler uma pequena prévia de "Hamlet", por William Shakespeare. Assim que o sinal bateu para o recreio, a turma, que parecia tão elegante, praticamente correu para o lado de fora. Franzi a testa, juntando meu material para a aula de Culinária.

Como estava sem fome, fui direto para a sala. Precisei passear três vezes pela escola até conseguir encontrar, dentro do mesmo prédio, a sala certa. Com a plaquinha de "Culinária" em letras douradas, tudo o que precisei fazer depois de encontrá-la foi escolher um dos balcões de mármore para dois e pôr o material ali.

- Alessa! - ouvi a voz de Rubi, que entrou rodeada de garotas risonhas.

Nenhuma delas, ao meu ver, era uma bambola. Estranhei, pois achei que Rubi e Meena fossem amigas.

- Oi. - acenei e sorri, passando uma mecha de cabelo para trás da orelha.

- Ai! - disse uma das meninas, se aproximando de mim e pegando a mesma mecha - seu cabelo é tão lindo! Sempre quis ser loira.

- Mas eu não sou loi... - calei-me antes de continuar, lembrando de minha nova condição - obrigada.

A menina encarou-me por meio segundo, confusa, e então voltou a sorrir. Ela se juntou ao resto das garotas, e todas elas se sentaram atrás de mim, em ordem; Rubi sentou-se logo atrás da minha cadeira.

- Como você se saiu? - sussurrou, inclinando-se discretamente.

- Bem. - respondi - só tive alguns probleminhas com umas garotas, mas de resto foi tudo bem.

Pude perceber sua preocupação.

- Rub! - chamou uma menina, mais atrás.

Rubi me encarou com expressão de "mais tarde te obrigo a contar", e virou-se para conversar com suas amigas. Enquanto isso, continuei quieta, pensando no que haviam me dito, sobre as turmas serem um misto de idades e talentos, sem um padrão. Porque aquilo não era exatamente uma escola, mas sim um cursinho de qualificação. Provavelmente eu me daria mal naquela aula, já que haveriam pessoas com mais habilidade.

- Posso sentar aqui? - perguntou uma vozinha fina, chamando-me de volta a realidade.

Virei o rosto, assustada com quem via ali:

Com seus cabelos ruivos e sorriso exagerado, a menina de antes saltitava no lugar, me encarando com expectativa. Porém, no fundo de seus olhos, pude ver o resquício de raiva.

- Posso? - insistiu.



Oi gente!!! Espero que estejam gostando. Este cap vai especialmente para aninha1815, uma leitora super fofa que me pediu para postar hoje.

Bjsss, comentem!!! ^^

Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora