Capítulo único

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Seu sobrenome era Black, e negros eram seus cabelos. O sorriso, contudo, era da brancura das estrelas. E Sirius era o seu nome.

Ele caminhava maroto pelos corredores de Hogwarts, exibindo-se para quem quisesse ver. E para quem não o quisesse também. Era um rebelde, selvagem, indomável da cabeleira bagunçada aos dedos mindinhos dos pés, que nunca, jamais, recebiam os cumprimentos de um cortador de unhas.

Vivia feliz, altivo, travesso. Até que o desafio assumiu a forma humana apenas para encontrá-lo.

James Potter era um garoto bonito. Seus olhos eram profundos, e os cabelos, desgrenhados. Pareciam um ninho de pássaros. Talvez eles fossem mesmo, pois a voz daquele arrogante era música para os ouvidos de Sirius.

Ninguém se surpreendeu quando eles se tornaram grandes amigos. O que ninguém sabia, contudo, é que havia mais segredos entre os óculos remendados do Potter e o sorriso branco do Black do que se podia imaginar.

Na noite de Natal que aproveitaram sozinhos no pequeno dormitório, delicadas penas de ganso decoravam o chão. Um cachorro negro corria de um lado para o outro, saltando as camas. Preso à sua boca, um travesseiro estraçalhado.

— Pare com isso! — ordenou Potter, atrapalhando-se com a coberta que envolvia suas pernas nuas. — Vai acabar chamando a atenção de alguém com todo esse barulho.

Sirius abanou a cauda e chacoalhou a cabeça com violência, destruindo por completo o travesseiro. Em um rompante, James saltou de sua cama e prendeu o cachorro pelo pescoço, enterrando-se naquela pelagem negra.

— Fala sério, cara.

Quando abriu os olhos de novo, James estava deitado em meio às penas, e Sirius sobrepunha-se a ele com uma expressão marota.

— Só tem nós aqui, James. Relaxa.

O Potter deixou escapar uma risada sonora.

— Um cachorro não deve dominar seu próprio dono.

Sirius assentiu, solene.

— Por que você acha que eu estou por cima?

Nos jardins, apenas neve. James caminhava serenamente, deixando atrás de si um rastro que Sirius seguia alegremente. Sentavam-se perto do lago das sereias e conversavam sobre alguma bobagem qualquer.

— Cara, eu acho que vou levar bomba em Poções — resmungou Sirius certa vez.

— Não é para menos — rebateu James. — Suas poções sempre explodem na sua cara.

Por muito pouco o Potter não foi atirado na água.

Janeiro abraçou Hogwarts com uma alegria contida. Os alunos ainda estavam animados com as festividades de final de ano. Haviam se esquecido, mesmo que momentaneamente, dos infortúnios sofridos durante o primeiro semestre de aulas.

Sirius continuava andando pelos corredores com seu jeito gingado. Quando menos esperava, James jogava-se sobre seus ombros com uma expressão de quem estava louco para azarar alguns mictórios.

— E aí, Sirius?

— E aí, James?

— Gostou do meu presente de Natal?

— Ah — fazia Black, sarcástico. — Adorei! Eu estava mesmo precisando de meias.

James apenas se afastava, sorrindo com malícia.

— O outro presente.

Na terceira vez em que essa brincadeira se repetiu, Sirius decidiu dar o troco.

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