A culpa não foi da minha mãe. Ela estava muito ocupada trabalhando que nem uma condenada, fazendo de tudo para eu ter uma vida boa. O problema foi que ela não estava em casa nenhuma das vezes em que eu chorei desesperadamente, no chão do meu quarto, soluçando, sem forças para me levantar de tão cansada dessa tortura que eram meus pensamentos e paranóias.
Também não foi culpa do meu pai. O coitado ficava tão feliz nas poucas vezes que me via que só queria passar esse tempo com sua nova família. O problema foi que ele estava tão preocupado com isso que ele acabou nunca reparando na minha frequente "falta de apetite" e no fato de cada vez eu falar menos dentro de casa.
A culpa com certeza não foi dos meus amigos. Eles não tinham como saber o que estava acontecendo. Alguns realmente tentaram, me perguntavam no que podiam ajudar, até ouviam meus dramas às vezes, mas chegou um momento em que eu já me sentia um fardo na vida deles. Decidi começar a falar que tudo tinha passado, eu já estava bem, tudo estava bem.
No fundo a culpa foi minha. Eu quem não insisti em pedir ajuda pros meu pais. Eu quem não continuei procurando apoio nos meus amigos. Ao invés disso, eu fui me isolando. Sozinha em casa eu chorava, pois era isso que me restava. Nem tinha mais um motivo definido. Eu chorava só para tentar me acalmar.
Um dia isso realmente aconteceu, me acalmei tanto, chorei tanto, que acabei fechando os olhos. O problema foi que quase não os abri de novo.
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Pequenos relatos
RandomSão apenas desabafos que você talvez se identifique ~um capítulo não tem (necessariamente) relação com outro~
