Capítulo Único

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Porque sempre dizem que os opostos se atraem, ou que as diferenças se completam? É...tá certo, se bem que se fosse pra eu namorar uma pessoa igual a mim, eu estava namorando um espelho. Mas, eu e ele somos uma verdadeira mistura. Por isso nada de que ambos se completam, acho que isso não rola.

Eu sou uma pessoa baixinha, ele é alto, sou explosiva e ele calmo, sou do tipo sem muito grude, já ele não é a mesma coisa. Tenho cabelos loiros com mechas, e ele cabelos castanho escuro, seus olhos são verdes e os meus castanhos. Sou o vermelho, ele preto, sou o Brasil ele a Argentina, sou matemática e ele o português. Sou o MPB, ele sertanejo. Aí eu realmente te pergunto: os opostos se atraem?

Confesso que sou meio louquinha, tenho meus inúmeros defeitos e manias. Ele me parece ser meio certinho.

Talvez a gente chegue a se completar, embora ache que não, estamos em apenas um mês de namoro e acho que isso não vai durar. Posso ser muito bipolar, ele tem um lado bem meigo. Seria John, o meu contrário? Com certeza da cabeça até a ponta dos dedos. A gente se conheceu à pouco tempo em um shopping, e tem algo nele que por enquanto - não sei o quê - me liga a ele.

- Ei, você está ai Melissa? - balanço a cabeça, vendo que John está em minha frente.

- Você acha que nós nos damos bem e que nos completamos, por sermos tão diferentes? - pergunto olhando diretamente nos seus olhos.

- Acho que não estamos levando isso muito a sério, não sei. Se gostamos um do outro, é claro que o meu coração se encaixa no seu. Você acha que não? É a segunda vez que você me pergunta isso.

Fico em silêncio e olhando para o teto, por um minuto me veio esse assunto, o que é bem complicado entre os casais. Quando um não concorda com outro. Toquei nesse assunto pois seria retratado em uma redação que eu iria fazer. Ele quer me beijar, ficar em cima de mim o tempo todo, mas eu não estou mais aguentando, sendo sincera. Odeio grude. Porque meu nome é Melissa? Sendo que tirando o "Issa" não tenho nem um pingo sequer de Mel?

- Vou dá uma saída. - eu estava na casa dele, porém queria sair, às vezes me sinto muito isolada. Meus pais não tão nem aí mesmo depois que fiz vinte e dois anos, então a maior parte do tempo vivo procurando algo pra fazer. E isso se meu pai não tiver pagado o John, pra se passar por meu namorado. Nunca fui uma moça pra muitos relacionamentos. E meu pai sempre dizia que eu iria encontrar um homem legal. Geralmente quem diz isso não são as mães?

- Pra onde você vai? - pergunta ele com uma cara de desentendido.

- Pra onde eu quiser, meu mowzão.

- Vou com você. - ele diz.

- Não precisa. Não sou uma criancinha meu bem, não vou morrer, e também depois irei pra minha casa.

- Mas....

Ficamos discutindo, e eu já não estava suportando mais tudo aquilo.

- Quer saber John? Eu sei o que é bom pra mim, e eu não vou mudar, e você é muito grudento, então eu estou livre pra viver. Tchau pra você. - fecho a porta e saio batendo os pés.

Chamo um táxi e vou pra casa imediatamente, ele estava sem camisa e irresistivel, o calor dele era tanto que me trazia dores de cabeça, (incluindo a nossa discussão besta.) Foi tudo um pretexto para eu vim embora. Até por que tava um tédio.

Eu nunca conseguia manter um relacionamento sério. Eu estava gostando dele realmente, e certamente porque ele era exatamente o meu oposto. Tá, sei que falei que não achava o mesmo, mas é inevitável. E não é grude tudo bem, é só meu mimimi.

Chego em casa, tomo um remédio, e me deito pois eu estava morrendo de sono.

[2 dias depois] ...

John havia me mandado um bilheite. Até nisso ele era diferente. Em meio ao mundo em que vivemos, quem nos dias de hoje escreve? A maioria manda mensagens por redes sociais e enfim; junto dele havia um convite para um evento beneficente. Pensei em ir.... ou não. Depois de ter dito que eu estava livre pra viver, e dado um tchau para o coitado, quero saber o que vou contar a ele.

Vou parar com todas essas besteiras. Minhas amigas dizem bobagens, e dizem que eu sou louca de ter dado um fora nele, sendo que estou amando-o. "Somos responsáveis pelo que somos e pelo o que fazemos". Nessa loucura toda, mandei uma mensagem pra ele dizendo que eu iria. Seria um evento beneficente para ajudar crianças de orfanatos entre outras ações.

No dia coloquei um vestido preto longo, um penteado básico, peguei meu carro e fui. Quando cheguei, não o avistei, e comecei a procurá-lo mais não o achei.

- Ai caramba. Ele vai me pagar por ter me feito de besta, eu quero vê-lo agora. - digo com raiva baixinho.

- Ei. Por acaso você está me procurando? Não vai embora. - me pergunta John, quando eu já estava na saída me fazendo tomar um susto.

- Estava. Caramba, eu te odeio.
- digo olhando em seus olhos e deixei escapar um sorriso.

- Aí magoou. - colocou a mão no coração. - Eu te amo.

Estávamos próximos e me deu vontade de beija-lo.

- Vamos se conhecer melhor, do começo? - sorrio. - Estou te amando.

- Claro. Então, você aceita ser livre pra viver comigo? Cada um pode ter a sua liberdade, não irei te forçar a nada e prometo ter menos grude, bipolarzinha. - reviro os olhos. E nossos lábios se unem, e nós nos beijamos.

- Sendo assim eu aceito seu nada bipolar. Quero começar conhecendo a sua família, depois cada pedacinho de você.

- Que complicada... - ouço ele dizer baixinho e dou um tapa em seu peito, dizendo: ei!

- Vamos, o evento vai começar, e vou sim te apresentar toda a minha família. - piscou um dos olhos pra mim.

Voltamos para o evento e conclui em meu pensamento que eu era uma mulher menina de vinte e dois anos, querendo ser livre pra viver, sem um amor no meu pé o tempo todo, por conta da minha bipolaridade. Eu chegava a ser mimada, mas tinha as mesmas características da minha mãe.

Depois de alguns dias, eu simplesmente consegui fazer a minha redação para a universidade. Descobri que opostos se atraem porque, obviamente, ninguém se completaria estando com alguém igual. O legal de toda história é se encontrar no meio de todas essas diferenças e indiferenças. Nós éramos um quebra cabeça, eu não cresci sabendo de tudo o que a vida tinha de bom. Somos muito diferentes, mas tínhamos algo em comum. A liberdade, e o desapego. Ficamos juntos e encontrei uma solução. Eu tenho que admirar, ele me pareceu um pedaço daquilo que a vida tem de mais charmoso. Ele não faz planos ou promessas, só surpresas, me ensinou a gostar de surpresas. Eu estava livre pra viver, só que ao lado dele, encontrei a liberdade de amar-lo independente dos nossos defeitos.

17/12/16.
1193 palavras.

Livre Para ViverOnde histórias criam vida. Descubra agora