Você tem que beijar Emma também!

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A expectativa de ver Emma era, sem dúvida, o estimulante mais forte que se poderia oferecer a Laura — ela estava totalmente acordada às dez e quin­ze quando minha chefe tocou o interfone. Eu havia lhe enviado uma mensagem de texto para dizer que Laura estava à sua espera e que ela poderia passar por aqui a caminho de casa, e Emma respondera que não havia problema.

Levantei do sofá para atender à porta, o cansaço pesando sobre mim feito uma âncora, mas Laura, em seu pijama de algodão vermelho, ficou de pé no sofá e começou a saltar.

Emma entrou carregando presentes. Como uma mãe sentindo-se culpada por ter precisado se ausentar a trabalho, achando que brinquedos e outros mimos seriam uma compensação por sua ausência, Emma sempre trazia algo para Laura quando viajava — mesmo que fosse apenas por uma noite. Aquela foi a maior extravagância dela até então, porém — segurava cinco sacolas plásticas em cada uma das mãos.

— Céus, quanto você gastou? — perguntei-lhe enquanto passava por mim.

— Hã... não muito. Tenho amizade com uma pessoa que trabalha numa fábrica de brinquedos.

Arqueei uma sobrancelha para observá-la.

— Oh, é mesmo? Ela parece ser uma ótima amiga.

Emma desviou os olhos no momento em que eu disse "ela" e, então, desdo­brou-se para evitar olhar na direção da área da sala em que eu estava. Culpada como se tivesse sido acusada de algo, obviamente.

— Venha, Lau — falou. — Vamos ver o que há nas sacolas.

Laurinha parou de saltar e, segurando-se ao braço de Emma, desceu do sofá e parou diante das sacolas. A felicidade cintilava em seus olhos, e todo o ciúme que eu sentira da amizade das duas transformou-se em gratidão. Ela precisava daquilo, de alguém que a mimasse um pouco, que lhe comprasse presentes e a fizesse se sentir especial.

Item por item, Emma esvaziou as sacolas diante dela, e eu poderia tê-la beijado por aquilo. A maioria dos brinquedos eram educativos. E havia livros; romances que eram avançados para a idade dela, mas que ela adoraria porque ficava totalmente envolvida por histórias; quanto mais complexas, melhor. Também havia blocos de papel para desenho, além de vários tipos de canetas para colorir, lápis de cor e de cera; uns dois ursos de pelúcia e um jogo de perguntas e respostas próprio para sua idade.

— Todas essas coisas são para mim? Jura? — perguntou Laura.

— Para quem mais seriam? — sorriu Emma.

— Posso ficar com elas? — perguntou-me ela, nos olhos azuis o medo de que eu pudesse dizer que não.

— É claro que pode, docinho.

— Obrigada! — Ela soltou um grito de deleite e se atirou em cima de Emma, que, pega desprevenido, caiu para trás. Começou a saltar, sentada sobre seu abdome como estava, não parecendo notar os gemidos abafados de dor dela.

— Veja, mamãe Gina! Estou pulando em cima de Emma! — riu ela. Abri-lhe um sorriso. Aquela era a Laura dos velhos tempos. Afetuosa, cheia de vida, vi­brante. Emma lhe despertara aquilo de volta; era como uma máquina do tempo para a personalidade dela. Não era de admirar que a garotinha quisesse estar com ela o tempo todo... ela a enchia de alegria novamente.

— Mamãe Gina, posso dar um beijo de obrigada em Emma? — perguntou, aumentando o ritmo em que saltava.

— Se Emma não se importar.

Laura olhou para ela.

—  Claro que não me importo — disse ela, quase sem fôlego. — Apenas não pule mais em cima da minha barriga, sim?

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