Cap. 13: Desculpas

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▶ Por: Bianca ◀

Eu estava dobrando a esquina de um corredor no poço, quando ouvi o chamado:

- Ei! Senhorita, espere! - era o mesmo garoto (aquele que eu achara fofo, a princípio) com o qual conversara alguns minutos antes.

Respirando fundo outra vez, me virei.

- Sim, senhor? O que deseja? - aquelas palavras me enojavam mais do que qualquer coisa.

- Eu sinto muito pelo inconveniente de agora a pouco. - se aproximou, as bochechas coradas por ter me seguido.

Quis rir do seu jeito de falar. Era completamente formal, como algum chefe de empresa.

- Tudo bem, senhor. - respondi, na obrigação de ser educada com os Frequentadores.

- Hã... - ele passou a mão pelo cabelo - eu gostaria que me chamasse de Daniel.

Pisquei, confusa.

- Sim, senhor Daniel.

Quando eu ia me virar para ir embora, ele tocou meu ombro. Foi bem de leve, com a ponta do dedo.

- Pode me dizer qual é o seu nome? - perguntou.

Sinceramente, fiquei na dúvida. Era expressamente proibido conversar ou informar aos Frequentadores qualquer coisa sobre nós, funcionários. Mas, algo naquele sorriso bobo do menino, e na gentileza que ele demonstrou ao me tocar, fez com que eu me decidisse.

- Meu nome é Bianca. - respondi, por fim.

Seus olhos escuros brilharam, assim que seu sorriso aumentou.

- É um prazer conhecê-la, Bianca.

...

▶ Por: Alessa ◀

A menina se remexia, esperando minha resposta.

- Pode... - eu disse, hesitante.

Seu sorriso foi imediato. Ela largou o material na bancada, e sentou-se ao meu lado. Enrolou uma ponta do cabelo vermelho no dedo indicador, antes de se virar na minha direção.

- Olha, sobre antes, sinto muito. - falou, enrubescendo - eu as vezes sou muito ansiosa, o que faz as pessoas me chamarem de esquisita e se distanciarem de mim. Sinto muito por...

O resto de suas palavras, minha mente apagou. Porque eu sabia como era ser excluída pelos outros, e agora (mais do que nunca) sabia perfeitamente como era me sentir uma estranha. Respirando fundo, decidida em minha escolha, assenti.

- Tudo bem. Não tem problema. - falei, sincera.

A menina, que antes parecia nervosa, se acalmou, sorrindo abertamente.

- Sério?

- Sério. - confirmei

Inesperadamente, ela me abraçou. Me apertou com força, fazendo com que eu sentisse muito bem toda a fraqueza que o remédio causava.

- Ótimo! - me largou - então deixe-me dizer o meu nome: me chamo Thereza.

Ainda meio desconfiada, acabei por deixar minha muralha de mau-humor cair.

- Me chamo Alessa. - falei, apertando sua mão estendida.

×××

Por mais incrível que pareça, depois do incidente no início da manhã, me dei bem com Thereza. Ela até havia me feito rir uma vez, ao queimar o pão que havíamos preparado na primeira aula de Culinária. O resto da manhã foi monótono, sem grandes acontecimentos.

Assim que o comboio de carros estacionou na frente da Sociedade, senti o ar de meus pulmões se esvair novamente. Toda a vez em que entrava ali, era como se estivesse entrando na cela de uma prisão. O que, infelizmente, não passava tão longe de ser. Desci do carro e encontrei Rubi, que parecia muito mais alegre e descontraída do que antes.

- Muito bem. - disse Meena, chamando a atenção de todos - hoje à noite, nós teremos um evento muito especial, a ser realizado aqui na Sociedade. Como pedido da direção, lembro-lhes de descansarem o melhor possível durante o resto desta tarde, alimentarem-se bem na hora do lanche, e redobrarem seus remédios. Neste dia, não poderão haver falhas.

O silêncio perdurou, e Meena tomou isso como um sim.

- Muito bem. Boa tarde. - falou, e virou-se para entrar.

Todo o grupo a seguiu para dentro, alguns com cara de curiosidade e outros com cara de entendimento. Avistei Ônix de longe, e percebi seu rosto franzido em uma expressão de seriedade. O que é este evento? Pensei em me aproximar e perguntar, mas a multidão me impedia. Entramos direto no poço, e a atmosfera lá dentro era bem mais fria do que o sol quente do lado de fora. Rubi estava logo ao meu lado, enquanto seguíamos subindo os andares de passarelas.

- Você sabe qual é o evento? - perguntei, sussurrando.

Ela, apreensiva, fez que não.

- Vou ter que pedir para o Ônix. Ele deve saber. - respondeu, torcendo a barra do vestido bordô.

Levantei o olhar, percebendo que já nos aproximávamos do corredor de quartos.

- Bom, de toda forma - Rubi começou, dando um tapinha em meu ombro - descanse, Alessa. Aproveite a tarde livre para se recompor.

Assenti, tomando distância. Rubi continuou andando pelo corredor, enquanto me virei e entrei no meu quarto.

- Como foi a escola? - Bianca perguntou, assim que fechei a porta.

- Ah. - suspirei, andando até a cama - bem, na verdade.

Ela dobrou uma peça de roupa e guardou-a, delicadamente.

- Hoje já recebi a ordem de deixá-la descansar. - bateu na calça do uniforme - então, até logo.

Retirou-se, sem fazer barulho.

Com outro suspiro, tirei as sapatilhas e coloquei-as ao lado da cama. Então, sem vontade de pôr a camisola, simplesmente me deitei no colchão macio, fechando os olhos.

Só neste momento, foi que percebi o quanto estava cansada.

Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora