Capítulo Único

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— Quero que você fique. — As palavras o pegaram de surpresa, somadas ao toque firme, porém gentil em seu braço, desconsertando-o.

— M- Mas...

— Mas? — Tian o puxou sutilmente, sua expressão indecifrável se aproximando do rosto corado do ruivo, intimidando-o.

— C- Certo.

Viu um sorriso que tinha algo de satisfação se mostrar no rosto do moreno e, em resposta, abaixou os olhos, sem saber o que fazer na situação em que se meteu.

.

— Onde está o meu colchonete? — perguntou, após tempo demais avaliando o banheiro imenso de Tian, já com as roupas emprestadas em seu corpo. Tinham um cheiro ótimo, o cheiro dele, mas mentalmente berrava para si mesmo: eram nojentas, isso sim.

Tian estava de cócoras diante de um dos janelões, fitando vagamente a cidade através deles, pensativo. O ruivo se repreendeu por achar aquela vista bonita. A vista de Tian. Não queria ser visto de novo vermelho como um tomate ou o sangue que antes jorrava da mão do moreno. Prendeu a respiração, quando o viu sair de seus devaneios para lhe encarar, soprando lentamente a fumaça do cigarro que tinha entre os dedos.

— Colchonete? — repetiu, e um estranho sorriso se formou naqueles lábios que já tocaram os seus. — Você acha que vai dormir em um?

O homem cruel se pôs de pé e caminhou até o ruivo, a calça de moletom deslizando para baixo a cada passo que dava, coisa que não passou em branco para Guanshan, distraindo-o e fazendo-o demorar a ponderar sobre o que havia acabado de ser dito.

— Vai me fazer dormir no chão? — questionou, com quase nada de irritação, uma tensão sutil crescendo em si, ao voltar a fitar o rosto do moreno que parou diante de si.

Tian riu de canto, largando o cigarro para então direcionar suas mãos aos ombros do ruivo, num toque que o fez estremecer, e guiá-lo para a cama. Guanshan prendeu a respiração, seu coração palpitando aceleradamente.

— S- Se eu vou dormir, exijo pelo menos um colchonete! — disse, na intenção de que fosse um berro revoltado, porém na verdade soando como palavras ditas por uma moça assustada.

— Eu não tenho colchonetes — Tian revelou, analisando-o. — Não achava que um dia fosse trazer gente como você pra cá.

— G- Gente como eu? — seu tom era confuso.

— Um cara — especificou.

Pensamentos variados sobre aquilo passaram por sua cabeça, alguns tristes, outros que por alguma razão o estressaram.

— Se é assim... — disse por fim, um tanto contrariado.

Tian alargou o sorriso, soltando-o.

— Então vou tomar meu banho — falou, e logo foi fazê-lo.

O ruivo, ao não vê-lo mais naquele imenso cômodo, permitiu-se cair sentado sobre a cama. Seus futuros questionamentos foram adiados pela exclamação que lhe escapou ao sentir como o colchão sob si era macio.

.

Não conseguia dormir, ainda que tudo cooperasse para que sim. Sua mente trabalhava sem descanso, estava ansioso para quando Tian saísse do banheiro, questionamentos bombardeavam-no. Estava deitado na beiradinha daquela cama, deixando todo o espaço possível para o dono do lugar ficar tranquilo, sem que lhe tocasse.

O som dos passos o fez acordar, os olhos não tardando a arregalarem-se após a visão daquele cara usando apenas uma cueca e secando o cabeço negro. Aquilo era sério?

— V- Você vai dormir assim?! — Seu choque foi revelado, e o outro deu de ombros, jogando a toalha que antes usava em qualquer lugar.

— Eu sempre durmo assim. — Deu de ombros, simples.

Passo a passo ele chegou mais perto, até que parou no lado em que Guanshan estava, decidindo subir por ali mesmo.

A perna direita passou sobre o ruivo, e Tian se demorou um pouco encarando a presença encolhida e petrificada sob si. Logo se encontrava ajoelhado sobre o colchão, perto daquele corpo, os olhos negros observando o subir e descer rápido do peito de Guanshan. Sabia como estava o outro, em parte. Um traço presunçoso marcou sua expressão.

Ele se deitou de lado e ajeitou o ruivo para que o fizesse também, lhe dando as costas. Não houve protesto, o garoto estava em choque. Seu corpo se colou ao dele, cercou-lhe com um dos braços e enfiou uma perna entre as do mesmo, aproximando sua boca à orelha avermelhada de vergonha. Seu hálito fez com que o Guanshan se arrepiasse por completo, ao dizer:

— Não ria de mim, mas você é a primeira pessoa a dormir aqui comigo.

E foipor pouco que um arfar não fugiu do rapaz que tremia, completamente vermelho.


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Para quem tiver vontade de ler uma continuação: eu a postei e se chama Incerteza.

Quero que você fiqueOnde histórias criam vida. Descubra agora