Cap. 15: A Cerimônia (Parte II: Os Novos Membros)

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Bianca girava ao meu redor. Seus olhos, fixos e avaliativos, percorriam cada milímetro de meu vestido vermelho, em busca de qualquer falha. Finalmente, parou, o queixo apoiado na mão.

- E então? - perguntei, completamente ansiosa.

Meus cabelos estavam presos em um coque firme, loiro esbranquiçados, destacando ainda mais a cor sangue da peça. Desta vez, ao invés de uma saia rodada estilo bonequinha, o vestido era inteiramente justo, aberto em uma fenda lateral na perna esquerda. Conseguia sentir o cheiro exagerado do perfume de rosas com o qual Bianca me encharcara.

- Está perfeito. - ela exclamou, por fim.

Enquanto eu suspirava aliviada, ela andou até a cômoda de mogno. Deslizei os dedos pela renda macia, que ficava sobre uma camada de seda.

- Aqui, Alessa. - disse Bianca, estendendo-me não apenas um, mas três comprimidos.

Dei um passo para trás.

- Tudo isso? - perguntei, temerosa.

Não queria, não queria mesmo. Em um impulso para longe, tropeçei em meus saltos dourados, que combinavam com a tiara e o cinto que usava. Bianca me segurou e me puxou para perto, com expressão pesarosa.

- Sinto muito, Alessa. De verdade. Mas essa foi a menor dose que consegui. - encolheu os ombros, rúbra - algumas bambolas estão sendo obrigadas a tomar cinco destes.

Cinco?! Meu queixo caiu. Tremendo, peguei os objetos das mãos de Bianca, escolhendo acabar logo com aquilo. Eu precisava agradecer a Deus mais tarde por ter Bianca me ajudando, e não outra pessoa mais cruel, como as que eu vira por ali.

Encarei a funcionária na minha frente, que parecia prender a respiração. Retesando levemente o maxilar, abri a boca e engoli os três comprimidos de uma vez, torcendo para não sentir o gosto amargo que me dava ânsia de vômito. Incrivelmente, a tontura não veio. Fiquei esperando meu cérebro girar, mas não aconteceu. Levantei a cabeça, perplexa.

- Pronta? - perguntou Bianca, assim que examinou meu estado de saúde.

- Não. Mas não há saída, há? - perguntei, desolada.

Bianca balançou a cabeça, triste. Ela pegou meu pulso delicadamente, puxando-me para fora. Desemboquei no corredor de quartos, com mais bambolas silenciosas à espreita.

- Boa sorte. - sussurrou Bianca, antes de entrar no quarto e fechar a porta.

Outra vez, eu estava sozinha no meio de rostos pálidos. Inspirei com força, cerrando os punhos. Não podia temer agora, não quando sabia que teria de encarar novamente os Frequentadores.

Enquanto meu coração parava de martelar, a porta do corredor se abriu, e a luz do poço iluminou a escuridão.

- Minhas bambinas. - sussurrou a mulher assustadora, que me entregara o cálice na cerimônia de iniciação e rira de minha dor. Agora eu sabia que seu nome era Datha, e sabia o quanto era temida, por fazer parte da direção da Sociedade - hoje, mostrarão o seu valor. Impressionem-nos, e nunca, de maneira alguma, percam suas taças. Entenderam?

O silêncio absoluto foi sua resposta. Ajeitando demoradamente a gola baixa do vestido, Datha agitou as mãos em um floreio, chamando-nos para fora. Com o barulho de uma marcha sincronizada, todas saímos dali, os rostos sem emoção de repente adquirindo sorrisos alegres. Inclusive o meu, que alargou-se em uma expressão elegante. Andamos pelas passarelas, subindo os mesmos andares conhecidos, até o salão das mesas. Desta vez, porém, a decoração era nova, com lírios brancos enfeitando cada canto visível de parede, cortinas lavadas, e toalhas de mesa brancas com velas acesas. O cheiro incorporava toda a comida sendo preparada ali perto, e meu estômago roncou com isso. Tentei avistar Ônix ou Rubi, até mesmo Meena, mas, se estavam ali, estavam muito bem escondidos na multidão.Enfileiramo-nos na entrada, sorrindo em nossas roupas caras.

Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora