A Escolha de Phill [COMPLETO]

A Escolha De Phill

O dia amanheceu nublado, como tem sido na última semana. Por sorte ou talvez não, eu conseguia ver o tempo da minha cama porque não tinha cortina na janela, então pode-se imaginar que em dias enrolados a claridade era demais.

Eu não sou o tipo de pessoa alegre e hoje posso dizer que sou infeliz. Minha vida começou a desandar após a morte dos meus pais em um naufrágio, era a comemoração de vinte e cinco anos de casados e eu não quis ir. Tinha uma namorada incrível, pelo menos eu achava que fosse, mas no meu período de luto dos meus pais, descobri que ela se confortava com seu colega do trabalho. Então acabei me tornando uma pessoa que vive para trabalhar, quando deveria ser ao contrário, trabalhar para viver. Melhor eu parar de encher vocês com meus problemas e ir trabalhar antes que perca isso também.

Trabalhar em uma empresa do ramo científico nunca tinha me passado pela cabeça e só consegui entrar graças um grande amigo meu, Thomas, ele sim é um cientista de grande renome por aqui, daquele tipo mais instintivo do que teórico, o que arrisca sem muitos planejamentos e, graças a ele e sua influência, conseguiu me colocar na área administrativa ou área chata como ele gosta de dizer.

Um dos melhores projetos, não, o melhor projeto em desenvolvimento aqui, com toda certeza é a máquina do tempo. Não me pergunte como, mas um dia Thomas me explicou que eles conseguiram desvendar como funcionava um buraco de minhoca e dessa maneira reproduzir em uma máquina. Claro que testes humanos ainda não foram feitos, porém ao menos conseguiram enviar um macaco para algum lugar do espaço tempo. Contudo, eu não sabia de duas coisas ainda: a primeira era o que tinha acontecido com o macaco e a segunda era o que Thomas estava planejando, porque eu via no olhar dele que iria tentar algo, só não sabia que seria comigo...

Certo dia, um daqueles rotineiros em que passava em casa assistindo futebol americano, que por sinal meu packers estava ganhando do bears por 21 a 7 no quarto período, Thomas me liga todo animado:
  - Eu consegui Phill! Eu consegui!
  - Conseguiu o que Thom? - eu tentava entender ao mesmo tempo em que não tirava os olhos da TV.
  - Eu resolvi as últimas incertezas que tínhamos na máquina do tempo! - era possível ouvir os pulos de alegria através do telefone.
  - Você ainda está no trabalho? - pergunto consultando o celular e vendo que já passava da meia noite.
  - Eu não consegui ir embora, eu sentia que estava perto de resolver esse problema e estava certo. Você precisa vir aqui Phill, precisa ver isso.
  - Amanhã eu vejo quando estiver...
  - Venha agora, rápido, sabe que não pode entrar no laboratório em dias normais.
  - Ah, tá bom, tá bom, eu vou. Já chego ai. - dou aquela última olhada no jogo - espero não perder nada de bom. Saio de casa.

Thomas deveria estar mesmo muito animado com o que fez, pois estava me esperando na entrada da empresa.
  - Até que enfim você chegou, não aguentava mais esperar. - e acenava para me apressar mais.
  - Demorei só 10 minutos, nem foi tanto assim.
  - Vamos logo, precisamos testar a máquina. - e andou depressa para o elevador.
  - Estou indo. - dei uma leve corrida para alcançá-lo e, apesar de apoiá-lo sempre, estava meio cético com isso tudo. Como ele resolveu isso sozinho e a equipe toda não?

A sala era enorme e a máquina também não ficava para trás, não era a toa que um andar inteiro do subsolo era só para isso. A máquina do tempo era uma espécie de roda gigante deitada no chão com uma espécie de motor no meio, em que ficava o simulador do buraco de minhoca. Os controles ficavam no canto em uma sala blindada, eram tantos computadores e coisas para controlar que qualquer um ficaria perdido.
  - Phill, eu preciso da sua ajuda. - falava enquanto caminhava na direção da entrada da máquina.- Preciso que você teste ela pra mim.
  - O que? Você ficou louco? Eu não posso entrar ai. - nissso me afasto em direção a saída.
  - Tem que ser você, só eu sei operar os controles e posso te levar ao período antes da morte dos seus pais.