German aumentou a velocidade quando percebeu que estavam se afastando da cidade e que o trânsito havia diminuído significativamente. As músicas que tocavam no som eram bastante apropriadas para a ocasião. Antigas e românticas, do jeito que ele gostava.- Oh, I wish you were here... – Ele cantava baixo enquanto fazia um leve carinho na perna de Angeles, adormecida.
Diferente do que usava de costume, ele vestia uma roupa mais casual. Um suéter azul com uma camisa social branca por baixo, calça jeans clara e sapatos sociais.
Quando saíram completamente da cidade, German dirigiu por mais alguns minutos até pegar uma estrada estreita, que contava com um pequeno bosque. E, finalmente, ao avistar uma senhora de idade sentada em uma cadeira de balanço na varanda de uma luxuosa casa, sorriu de maneira nostálgica.
Parou o carro e tirou o cinto de segurança, esticando-se para dar um beijo calmo no rosto de Angeles, tentando acordá-la.
- Já chegamos? – Ela perguntou ainda com os olhos fechados.
- Já sim. Abra os olhos.
Ele riu e saiu do carro, dando a volta para abrir a porta para ela.
Angeles arrumou o cabelo um pouco bagunçado por se remexer tanto enquanto dormira, e a ao olhar ao redor, percebeu que estava em um lugar irreconhecível aos seus olhos.
Árvores de grande porte cobriam uma grande extensão de terras, onde ela não conseguia distinguir em que momento acabavam. Saiu do carro devagar, ainda atordoada por causa da viagem.
- Que lugar é este? - Ela perguntou para ele, que sorria.
- É uma casa da minha família. - Fechou a porta do carro. - Depois que eu comecei a faculdade e fui embora da casa dos meus pais, isso aqui só não ficou um deserto por causa da Ellen.
- Quem é Ellen?
- Eu sou Ellen. - Uma voz rouca tomou partida na conversa.
A mesma velhinha que antes estava sentada na cadeira, agora havia se aproximado do casal, sorrindo alegremente. Tinha uma expressão divertida no rosto, mas ao mesmo tempo, não deixava escapar que suas muitas rugas indicavam estar em uma idade um pouco avançada.
- Ellen, esta é Angeles. Ela é psicóloga no HCT, onde eu trabalhava. - Ambas trocaram beijinhos, rindo da altura de Angeles que era bastante superior, se comparada com a de Ellen.
- E como ele não me apresentou... - Ellen sorriu para a mulher. - Eu sou Ellen. Trabalho com os pais dele desde que se casaram, principalmente cuidando do German. E olha, querida, sou obrigada a declarar que isso já faz alguns anos. Mas, quando essa prole de Castillo cresceu, eu fiquei apenas cuidando dessa casa.
- E você mora sozinha aqui? - Angeles mudou o peso do corpo de uma perna para a outra, cruzando os braços.
- Eu fui casada, mas meu marido faleceu já faz um tempo. E eu nunca consegui ter filhos, então sim, moro sozinha. Mas não pense que isso é motivo para minha tristeza. - Ela riu, voltando a dar as costas ao casal e se dirigindo até a grande casa.
- Ela é estéril. - German falou baixo para Angeles, quando percebeu que Ellen já tinha se afastado o suficiente para não conseguir escutar.
- E seus pais?
- Eles se separaram algumas vezes, mas sempre voltavam. E agora vivem viajando pelo mundo. Por isso deixaram a casa na responsabilidade da Ellen. - Colocou as duas mãos nos bolsos da calça.
Angeles sorriu e o observou, perguntando-se o que mais aquele homem escondia. Quantas mulheres já tivera na vida e quantas acabaram sofrendo por desilusão.
- Mas o que estamos fazendo aqui, Castillo?
- Vamos passar o dia. - Ele sorriu. - Eu mandei comprarem tudo o que você precisa. Absolutamente tudo. Não precisa se preocupar com isso.
- O que? - Ela riu, sem acreditar.
- Eu estou falando sério. Um dia de folga em nossas vidas, por favor. - Pegou a mão dela, olhando-a.
- E com o que eu vou precisar me preocupar?
- Em me dar muitos e muitos beijos. - Sorriu.
- Eu garanto que isso não será um problema.
Angeles se aproximou mais ainda dele, apoiando suas duas mãos no peito forte e rígido. O cheiro que desprendia do suéter azul quase a matava por dentro, deixando-a fraca e capaz de qualquer coisa por aquele homem. Sorriu e acariciou o rosto dele, deliciando-se com aquela imagem, que considerava a mais magnífica possível. O cabelo dele ainda estava um pouco molhado do banho e a barba havia sido tirada, deixando-o com um ar mais sereno.
Ela deslizou as mãos até a nuca dele e acariciou devagar, sabendo que ele gostava daquilo. A expressão no rosto de German era indecifrável para ela, mas não a impediu de aproximar seu rosto ainda mais, conseguindo encostar os lábios rosados nos dele.
Ao sentir esse contato, German pôs as mãos imediatamente na cintura de Angeles, puxando-a para si, colando os corpos de ambos. A boca dele se abriu aos poucos, deixando que a língua dela se encontrasse com a dele, tornando aquele momento ainda mais fervoroso. A vontade que eles tinham de tirar suas roupas ali mesmo e fazer amor no capô do carro eram quase incontroláveis, mas, por alguma força interior, conseguiram resistir.
O beijo foi aos poucos ficando mais calmo, até ser substituído apenas por leves mordidas que ele dava no lábio inferior dela.
- Eu não sei lidar com essa sua intensidade, German Castillo.
- Pois vai ter que aprender. - Sorriu e a beijou novamente. - Porque eu não pretendo me afastar de você nem tão cedo.
Ela jogou a cabeça para trás, rindo da confissão que ele havia acabado de fazer. Sabia que era errado o que estava acontecendo, mas não podia negar o que sentia por ele. No momento, ela não aceitava que era amor, e muito menos ele. Só compreendiam que era algo intenso e satisfatório.
- Quero te mostrar a casa. - Ele sussurrou no ouvido dela. - E quem sabe, fazer amor com você em alguns cômodos.
- Isso é sério?
- Eu não poderia estar falando mais sério. - Ele riu.
Ela assentiu e o acompanhou para entrar na casa, que contava com um jardim absurdamente grande. Uma extensa porta branca indicava a entrada, que ia diretamente para a sala de estar. O lugar deixou Angeles encantada, uma vez que não deixava o lado luxuoso, por mais que tivesse a presença de um ambiente mais relaxado. Percebeu também que toda a casa possuía tons marrons, porém que davam uma sensação de bem-estar, já que não eram escuros.
A verdade era que o lugar não era tão diferente da casa de German, visto que apresentava vários quadros por todas as paredes, um sofá branco exageradamente grande, e uma lareira rústica.
- Eu já sei o motivo da Ellen ser feliz morando sozinha. - Ela comentou baixo, rindo.
- E qual é?
- Olha esse lugar, Castillo. Só de estar aqui dentro eu já me sinto bem mais relaxada. É incrível.
Ela notou que pouco depois de ter falado isso, ele havia ficado mais quieto, apenas segurando a mão dela.
- O que foi? Eu disse alguma coisa que não devia? - Acariciou o cabelo dele.
- Eu nunca trouxe nenhuma outra mulher aqui. Nunca. - Falou baixo.
- Eu sou a primeira?
Os olhos dela brilharam ao escutá-lo dizer aquilo e imediatamente, sentiu uma paz tomar conta do seu corpo.
- E eu espero que seja a última.
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It Must Have Been Love
RomanceGerman Castillo, neurocirurgião obcecado pelo trabalho e pela segurança de sua filha Violetta. Homem frio, calculador e duro com qualquer um que entre em seu caminho. Anos trabalhando no Hospital Central de Toronto, sempre procurou esconder as dores...